LITERATURA

“Depois do Fim” convida o leitor a fabular sobre a morte sem tabu

Autora carioca se inspira no Marajó para falar da vida após a morte em livro infantojuvenil

“Depois do Fim” convida o leitor a fabular sobre a morte sem tabu “Depois do Fim” convida o leitor a fabular sobre a morte sem tabu “Depois do Fim” convida o leitor a fabular sobre a morte sem tabu “Depois do Fim” convida o leitor a fabular sobre a morte sem tabu
“Acho que a gente pode se permitir fabular mais sobre o depois do fim. Em vez de temer, falar mais do assunto. Sem ser tabu”, disse a autora Flávia Lins e Silva (@flavialinsesilvaescritora), sobre o seu mais novo lançamento infantojuvenil: “Depois do Fim”.
“Acho que a gente pode se permitir fabular mais sobre o depois do fim. Em vez de temer, falar mais do assunto. Sem ser tabu”, disse a autora Flávia Lins e Silva (@flavialinsesilvaescritora), sobre o seu mais novo lançamento infantojuvenil: “Depois do Fim”.

Numa narrativa poética, a autora conta parte da morte de Dorival Pimenta, o fundador do vilarejo, e do inusitado acontecimento que o segue: uma pororoca leva embora o caixão, fazendo com que Tonho, protagonista e neto do falecido, inicie uma jornada de descobertas, amadurecimento, luto, ancestralidade e imaginação.

“Enquanto esperam a balsa que vai levar o caixão, uma onda vem e lambe o caixão que some no rio. Então, o neto fica se perguntando se o avô escapou, se fugiu, o que houve. E o Honório, melhor amigo do avô, diz assim: ‘o depois ninguém sabe, Tonho. Nem os padres lá da igreja nem bicho nenhum do planeta. Ninguém jamais vai saber o que vem depois do fim. E na dúvida da certeza, o melhor é a invenção’”, conta a autora.

Flávia Lins e Silva é natural do Rio de Janeiro, atualmente está radicada em Portugal, e sempre amou viajar pelo mundo. Já esteve algumas vezes na região amazônica. “A ideia de escrever ‘Depois do Fim’ surgiu com dois acontecimentos: depois de ver uma foto incrível do Pedro Martinelli – que vem no fim do livro – e depois de conhecer este lugar mágico que é a ilha do Marajó. Fiquei imaginando um lugar inventado, espetado no meio do rio, uma cidade feita de tábuas cercada de água, onde não fosse possível enterrar ninguém”, contou a autora.

No enredo, Tonho herda do avô um vaso cheio de terra — elemento quase mítico em um mundo sem chão — e parte em busca de seu significado. Ao longo do caminho, encontra personagens que representam diferentes modos de lidar com a vida: Honório, um artesão carpinteiro talentoso; Dulcinha, devota e presa ao medo e à tradição; Maria, companheira do avô do menino e adepta à liberdade; e Amarílis, que desperta em Tonho a vontade de crescer e descobrir o amor. Cada encontro conduz o garoto a compreender mais sobre o legado de Dorival e sobre si mesmo.

Para a autora, o livro é também uma história sobre recomeço, sobre os jovens que vão semear o amanhã.

“Tonho não conhece muito sobre a terra, porque cresceu nesta ilha feita de tábuas, uma ilha criada por seu avô e outros amigos. Até que conhece Amarílis e percebe que ela sabe mexer na terra. Enfia as mãos naquelas profundezas sem medo de ser engolida. Eles vão semear juntos. Aliás, eles são as sementes dos antepassados”, destacou a autora.

Ela lembra como foi a sua estadia inspiradora na ilha. “Tinha que atravessar de balsa, depois pegar barco, búfalo para chegar na casa de amigos, num terreno muito alagado. No dia seguinte, quando acordei, parecia que tinha um manto branco estendido sobre a grama, mas eram teias de aranhas. Centenas de teias, pareciam ter combinado de tecer todas juntas naquela mesma noite. Fiquei maravilhada. Estive no Pará muitas vezes. Adoro especialmente Alter do Chão. O Rio Tapajós é o mais bonito do mundo!”.

Narrado também postumamente pelo próprio Dorival, o livro alterna os pontos de vista com naturalidade, ao construir uma narrativa sensorial, rica em metáforas e afetos. O rio representa fluidez, liberdade e constante movimento; a terra simboliza estabilidade, finitude e morte. Já o avô morto continua presente em pensamento e memórias, e revela que, às vezes, o “final” é só mais uma forma de continuar a vida.

OUTRAS HISTÓRIAS

Além deste livro, a autora escreveu “Mururu no Amazonas”, vencedor do prêmio FNLIJ de melhor livro juvenil, “Desplumada”, a série “Diário de Pilar”, “Detetives do Prédio Azul”, entre muitas outras histórias.

“No momento estou criando outro livro, inspirado numa viagem que fiz ao Acre. E em janeiro sai o filme Diário de Pilar na Amazônia – que foi filmado aí no Pará”, adiantou ela. “Espero que já possam exibir algum trecho da “Pilar na Amazônia” na COP 30”, almeja.