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Apoio psicológico: Você no controle da sua mente 

Você já parou pra pensar que quando está nervoso, preocupado ou ansioso é comum sentir dor de barriga?

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Apoio psicológico: Você no controle da sua mente 

Você já parou pra pensar que quando está nervoso, preocupado ou ansioso é comum sentir dor de barriga? Aquela vontade de fazer o ‘número 2’ tem uma explicação emocional, segundo a psicóloga Joelma Martins.

“Dentro da psicologia, a gente até fala que o intestino é o nosso segundo cérebro, porque é onde mais se produz serotonina. Na maioria dos casos de transtornos, existe uma alteração no intestino. É um dos primeiros sinais que a gente observa. Então, não é só a importância de absorver nutrientes, mas também de absorver emoções, sentimentos. Se está tudo certo, a gente absorve o sentimento e fica bem emocionalmente. O que não for, a gente coloca para fora, vamos dizer assim”.

Emoção que também se manifesta quando a pessoa tem uma vida normal e, de repente, se vê com o diagnóstico de uma doença grave. Pense no caso da cantora Preta Gil. Artista, cheia de vida, alegre, esbanjando energia no carnaval e, de uma hora pra outra se viu diagnosticada com um câncer de intestino que se complicou tanto, que precisou viajar para os Estados Unidos em busca de um tratamento alternativo, já que a doença se espalhou e Preta até precisou amputar o reto e passou a usar de forma definitiva uma bolsa de ileostomia. Imagine como fica a cabeça de um paciente nessa situação?

A psicóloga Joelma Martins concedeu uma entrevista para esta Série em que aborda a importância do acompanhamento emocional de quem enfrenta uma enfermidade grave, seja de origem intestinal ou não. Confira a seguir! 

  • Em caso de doenças graves, como a Doença de Crohn ou mesmo o câncer de intestino, essa ajuda terapêutica emocional faz a diferença?

No caso das pessoas que têm problema no intestino, o que eu entendo? O nosso intestino tem como função principal a absorção dos nutrientes. Ou seja, a gente se alimenta e ele separa os aminoácidos, as vitaminas, e os envia para a corrente sanguínea, para que sejam distribuídos pelo corpo. A partir do momento em que há uma disfuncionalidade, precisamos lidar com isso. E, às vezes, esse autossuporte que tenho no dia a dia, numa vida harmônica, dentro da disfunção, eu já não consigo mais. E aí eu fico muito mais exausta, estressada. Lido com medo, com insegurança, com tristeza, com muitos questionamentos. O acompanhamento psicológico é fundamental para que a gente possa aceitar o diagnóstico.

  • Não só aceitar, mas também tentar compreender?

Às vezes, não é só aceitar, mas compreender o diagnóstico, porque, na maioria dos casos, o adoecimento não está à toa no teu organismo. Ele é resultado de algo. Às vezes, é uma falta de cuidado: se eu não como bem, se não durmo bem, se não faço atividade física, se não bebo água, eu não posso esperar que um órgão funcione perfeitamente. Então, ele é resultado de algo. Ele quer te sinalizar que algo está acontecendo. Às vezes, até essa compreensão, como no caso do intestino… O que eu estou absorvendo? O que eu não estou deixando ir? O processo terapêutico vai te ajudar nessa compreensão do sintoma. Desde o momento do diagnóstico que a gente recebe — porque é um choque. A pessoa tem que tirar um pedaço de um órgão, fazer uma readaptação, às vezes usar uma bolsa, que é algo socialmente estranho. Isso mexe não só com o funcionamento do organismo, mas também com a interação social, com a autoestima. Tudo isso está envolvido. Por isso, a importância. 

  • No caso de usar uma bolsa de ileostomia, com certeza é um choque para o paciente e para quem lida com ele…

Uma outra coisa que é importante: pacientes adoecidos precisam ter esse acompanhamento psicológico para lidar com essa nova readaptação. No caso da bolsa, como eu te falei, há a questão da aceitação social, mas também há algo estranho no corpo que precisa se adaptar. E toda adaptação, para o ser humano, causa medo, causa preocupação. Pode surgir um quadro não só de estresse, mas também de ansiedade, de depressão, além de muitos questionamentos: “Por que estou passando por isso?”, “Por que agora?” O apoio psicológico vem muito, muito mesmo, para dar suporte e tornar o processo mais aceitável. Até porque, falando da Doença de Crohn, ela envolve vários preconceitos. Toda hora a pessoa precisa ir ao banheiro, e aí vem o julgamento: “O que está acontecendo?” Existe também o constrangimento social, o isolamento, porque a pessoa pode deixar de sair de casa por vergonha.

  • Essas emoções — de raiva, medo, tristeza — precisam ser trabalhadas dentro do ambiente terapêutico?

A gente viu o exemplo da Preta Gil, todo o suporte que ela teve. Eu não sei se em algum momento ela mencionou que estava fazendo acompanhamento psicológico, realmente não vi, mas acredito que sim. Ela teve uma rede de apoio muito grande. Um amigo dela, inclusive, parou de trabalhar para ficar com ela. Isso mostra o quanto esse suporte é importante no tratamento e no processo de cura. O pai dela disse: “Minha filha, se está muito pesado, se entrega.” Mas ela está numa esperança de cura. Vi uma reportagem dela dizendo que iria para os Estados Unidos e falou: “Volto curada.” Esse suporte é fundamental. Você lida com emoções, com a finitude, com a esperança. Ter essa oportunidade é essencial para o organismo entrar novamente em equilíbrio ou se readaptar à nova situação.

  • E sobre os gatilhos emocionais?

Um outro fator importante para ter acompanhamento durante o processo de tratamento é entender os gatilhos emocionais — até os mais exaustivos — diante do processo. Porque todo tratamento requer tempo. E como lidar com isso? Como o organismo está reagindo às mudanças, à medicação? O processo terapêutico ajuda nisso. Você entende o que é gatilho, o que não é, como lida com isso, quais recursos você tem, a necessidade de readaptação, novas medicações, como lida com a opinião dos outros… Tudo isso é importante, até para prevenir um adoecimento mental — ansiedade, estresse, depressão.

É importante o processo terapêutico diante de uma situação como essa. 

  • É muito comum atender esse tipo de paciente no consultório de psicologia?

Tenho acompanhado uma paciente em tratamento contra o câncer e a gente vê o quanto essas doenças são emocionais. Se você está bem emocionalmente — e não tem como estar 100%, mas tentando manter o equilíbrio — o processo de cura é mais rápido. Ela fez todo o tratamento e continuou o processo terapêutico. Foi interessante, porque ela também estava lidando com lutos. Como ela disse: “É uma parte do meu corpo que está indo embora, que está morrendo, mas eu estou aqui.” É importante trabalhar isso, ter esse espaço. O apoio psicológico te dá essa oportunidade de falar coisas que talvez você não falaria para o seu marido, para o seu médico. Mas, no ambiente terapêutico, você coloca isso. É fundamental para que outros adoecimentos não surjam. 

  • É preciso ser otimista além do tratamento convencional?

Acho que o principal do processo terapêutico é quando o paciente entende que ele não é definido pela doença. Ele ‘tem’ a doença, mas pode se tratar, pode se curar, pode ter uma nova vida. Vejo muito isso na Preta Gil. Tem dias que ela está mal, mas aí ela corta o cabelo, reúne os amigos. Ou seja: você não é definido pela doença. Você é a vida. É protagonista de uma vida inteira. Você é além. E pode, sim, se curar. O processo terapêutico é importante, mas o que acontece? O organismo é seu. Você precisa se permitir cuidar, se permitir curar. Como eu disse, a doença é um alerta de que algo está disfuncional. Acho que o tratamento físico e psicológico é uma oportunidade de olhar para isso: o que está errado? Por que a doença veio? Como ela me atingiu? E o principal: o que eu faço com ela a partir de agora?

  • Dá pra ressignificar esse processo de enfrentamento da doença?

Eu posso ressignificar, me fortalecer e seguir em frente. Por isso, vejo como essencial o acompanhamento psicológico. A gente não sabe lidar com as próprias emoções. Não temos o hábito. Se eu tenho uma dor física, é muito mais fácil identificar, saber o que fazer. Nosso sistema imunológico está ali todos os dias, nos protegendo, mas se a gente não ajuda, ele não aguenta. Às vezes o adoecimento vem justamente para dar uma sacudida na gente. Nem que seja para descansar mais, ou ter um novo olhar para a vida. Somos seres de passagem aqui. Precisamos cuidar melhor do nosso organismo, do nosso ser, da nossa alma, do nosso espírito e do nosso físico. Às vezes, a gente não cuida… e aí, não aguenta. Por isso, fazer psicoterapia é importante não só no adoecimento, mas para a vida.

  • Por que adoecemos?

O adoecimento vem porque lidamos com o meio externo. E o meio externo é: o alimento que você ingere, a água que você bebe, seus relacionamentos, o ar que respira. Tudo isso exige preparo. Que o processo possa nos ajudar a lidar com os desafios da vida. E dentro de uma situação de adoecimento, isso é fundamental. O adoecimento é físico, mas o emocional influencia diretamente o físico e contribui para a cura.