
No dia 29 de dezembro de 2001, o Brasil se despediu de Cássia Eller, uma das intérpretes mais intensas e versáteis da música nacional. Com apenas 39 anos, a artista morreu em decorrência de um infarto agudo do miocárdio, no auge da carreira. Voz marcante, presença de palco arrebatadora e repertório que cruzava rock, samba, MPB e pop, Cássia foi também marcada por uma trajetória de constantes deslocamentos — entre eles, uma passagem por Santarém (PA) durante a juventude.
Filha de um militar e de uma dona de casa, Cássia Rejane Eller nasceu no Rio de Janeiro, em 1962, mas viveu em diferentes cidades ao longo da infância e adolescência. Depois de Belo Horizonte, mudou-se com a família para Santarém, onde morou por alguns anos antes de seguir para Brasília, aos 18. A capital paraense não foi palco de grandes performances, mas fez parte da construção pessoal e artística da cantora, que anos depois conquistaria o Brasil com sua entrega visceral e autenticidade.
Em Brasília, Cássia começou a se profissionalizar. Participou de grupos de forró, tocou surdo em rodas de samba, integrou trios elétricos e chegou a cantar em óperas. Em 1989, gravou uma fita demo com “Por Enquanto”, de Renato Russo. A gravação chegou a uma gravadora pelas mãos de um tio, e rendeu um contrato. Em 1990, lançou seu primeiro disco.
Nascia ali uma estrela que se recusava a ser moldada. Cássia não escondia a timidez fora do palco, mas ao cantar se transformava. Rompeu barreiras estéticas, sexuais e musicais. Era fã de Janis Joplin, Beatles, Nirvana, mas também cantava Cazuza, Nando Reis, Caetano Veloso e Riachão.
Seu “Acústico MTV”, lançado em 2001 com direção musical de Nando Reis, marcou a consagração. No mesmo ano, sua apresentação no Rock in Rio — ao lado do filho Chicão e da banda Nação Zumbi — entrou para a história da música brasileira.
Cássia Eller teve uma carreira curta, mas intensa. Fez mais de 90 shows no ano de sua morte. Bissexual assumida, deixou um legado artístico e afetivo que ainda ressoa. Seu filho foi criado pela companheira Maria Eugênia, reconhecida pela Justiça como responsável legal.