O bairro da Pedreira, em Belém, é o terceiro mais populoso da capital, com mais de 64 mil habitantes, segundo o último Censo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Carinhosamente apelidado de “bairro do samba e do amor”, a Pedreira tem centenas de apaixonados que além de constituir família, trabalham e têm excelentes oportunidades de negócio alí. Quem vê a intensa movimentação pelas ruas do bairro, não imagina que a história do local remonta ao século 19.
“Existem informações na história de Belém que falam sobre o bairro se chamar Pedreira porque era o local de onde foram retiradas pedras para a pavimentação das ruas do centro de Belém”, explica o professor e historiador Adony Borges. O contexto se refere ao final do século 19, quando a capital experimentava a glória do período da borracha, com a chamada Belle Époque. À época, o centro recebia intensa intervenção urbana, com prédios e palacetes. “A ocupação da Pedreira começa com o remanejamento da população pobre, que antes ocupava o bairro do Umarizal, que também começou a receber um embelezamento nessa época”, explica o historiador.
Segundo a obra do historiador Vicente Sales, que trata sobre a formação do negro no Pará, essa realocação resultou no desenvolvimento da cultura de raiz africana no bairro, refletida na música e espiritualidade. “Os ex-escravizados vão desenvolver a sua cultura na Pedreira, inclusive com os primeiros terreiros, grupos de batuque e roda de samba, longe do centro de Belém”, esclarece o historiador. A partir da década de 50, o bairro ganha as primeiras escolas de samba, além dos Cine Rex (depois chamado de Cine Vitória) e o Cine Paraíso. Os bares também começam a se destacar como um ponto de encontro da boemia.
A alcunha “do samba e do amor” nasce neste cenário e começa a ser popularizada a partir da obra da escritora Eneida de Moraes. “Esses estabelecimentos atraíam intelectuais e estudantes que iam para a Pedreira confraternizar. Baseado nisso, a Eneida de Moraes usa essa expressão: bairro do samba e do amor”, esclarece Borges. O símbolo desse ritmo é a Aldeia Cabana, a sede do desfile das escolas de samba de Belém e ponto de encontro dos carnavalescos. “Hoje é um local de desenvolvimento comercial e de empreendedorismo. Tem grandes supermercados, filiais de empresas e os moradores não precisam sair para outros locais”, pontua o historiador.
Comércio e empreendedorismo na Pedreira
O barbeiro Gabriel Souza, 28, é um exemplo desse movimento comercial intenso. Ele começou a empreender no local em 2019, e mesmo com a pandemia de covid-19, continua firme na barbearia localizada na travessa da Estrela, próximo da Pedro Miranda, a principal via do bairro. “Aqui é um local privilegiado e a clientela só tem aumentado. A vantagem aqui na Pedreira é que sempre tem um indicando para conhecidos, amigos e familiares”. A feira, uma das maiores da cidade segundo a Prefeitura, é o coração do comércio no bairro.
O feirante Antônio Raposo, 57, tem 40 morando e trabalhando no bairro. Ele veio do interior e desde a chegada começou a jornada de venda de mariscos na feira da Pedreira. “Tenho clientes fiéis, especialmente os clientes idosos, que só compram aqui comigo”, relatou. As barracas oferecem uma variedade de opções que começam com a farinha, passam pelas frutas, hortaliças, legumes, carnes, peixes e frango. Na outra ponta, a atividade da feira inclui ervas, além de roupas, calçados e uma parte destinada à alimentação.
Santuário de Nossa Senhora Aparecida
Na frente da feira, uma imponente construção chama atenção de quem passa na Pedro Miranda: o santuário de Nossa Senhora Aparecida, presente há 70 anos no bairro. A igreja começou como uma pequena capela em homenagem à padroeira do Brasil e ganhou forte presença de fiéis. Em 2021, a paróquia foi elevada a santuário pela Arquidiocese de Belém. “O mês de outubro é muito especial para os moradores. As pessoas já esperam a queima de fogos e a grande procissão no dia de Nossa Senhora Aparecida”, afirmou Gabriel Matos, 25, que trabalha na igreja. Ele mora na Pedreira desde a infância e permanece morando no bairro, hoje com a esposa e a filha.
História semelhante tem Suely Cunha, 67, que mora na travessa Curuzu desde os primeiros anos de vida. “Antigamente isso aqui era só ponte, tinha muita lama. Ali na Antônio Everdosa, por exemplo, era um igarapé onde as crianças tomavam banho”, relata. Ela casou com Jorge Cunha, 63, e observa o crescimento intenso do bairro. “A cada dia o bairro se desenvolve mais, está cheio de prédios e casas grandes”. Juntos, eles acompanharam a chegada do asfalto e as mudanças urbanas que a Pedreira passou nas últimas décadas. “O metro quadrado por aqui vale muito hoje em dia”, brincou Jorge. O casal também destaca o lado solidário do bairro. “Quando tem alguém doente os vizinhos vão visitar, se precisamos de algo, um ajuda o outro”, diz Suely. Ela não esconde o orgulho de ser pedreirense: “Sair da Pedreira? Nem pensar”.
Além dos desfiles das escolas de samba no carnaval e da festividade de Aparecida, um dos grandes momentos culturais no bairro ocorre no dia 29 de junho, quando o mercado municipal celebra o dia de São Pedro, um dos santos mais populares da Igreja Católica e o padroeiro do espaço. A festa existe há mais de 60 anos e reúne grande número de populares. A organização para a festa de 2025 já começou e é feita pelos próprios feirantes.