
Aproximadamente 25% dos empregos em todo o planeta estão potencialmente expostos à transformação pela inteligência artificial generativa, segundo um relatório recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisa da Polônia. O documento, intitulado “IA Generativa e Empregos: Um Índice Global Refinado de Exposição Ocupacional”, alerta que a tecnologia está pronta para causar mudanças profundas e irreversíveis na dinâmica do emprego global.
A pesquisa analisou de forma minuciosa quase 30 mil tarefas profissionais, identificando diferentes graus de vulnerabilidade à automação por IA. Embora o temor de desemprego em massa seja recorrente no debate público, o relatório indica que a maioria dos postos está mais propensa a sofrer transformações do que a ser completamente substituída. O impacto da IA generativa será sentido de maneira desigual entre setores, funções e perfis demográficos, exigindo adaptação acelerada de trabalhadores e empresas.
Como a IA generativa afeta diferentes profissões e setores
O estudo classificou as ocupações em quatro níveis de exposição à automação, denominados gradientes. Apenas 3,3% dos empregos globais se enquadram na faixa de maior risco (Gradiente 4), onde quase todas as tarefas podem ser automatizadas, enquanto a maior parte dos empregos apresenta baixa ou moderada vulnerabilidade. A seguir, a classificação dos gradientes:
- Gradiente 1: Tarefas com baixa possibilidade de automação, mas com alguns aspectos sensíveis à IA.
- Gradiente 2: Mistura equilibrada de tarefas automatizáveis e não automatizáveis.
- Gradiente 3: Muitas tarefas com alto potencial de automação, porém com variações relevantes.
- Gradiente 4: Quase todas as tarefas altamente suscetíveis à automação.
Empregos de escritório, funções administrativas e áreas altamente dependentes de tecnologia – como mídia, programação e finanças – figuram entre as mais expostas à IA generativa. Nessas carreiras, grande parte das atividades pode ser replicada ou otimizada por softwares avançados, tornando-as particularmente vulneráveis à automação.
Por outro lado, profissões que exigem habilidades interpessoais, criatividade, tomada de decisão complexa ou execução manual especializada apresentam resistência maior à substituição por IA. Ainda assim, nessas áreas, a tecnologia tende a transformar processos, demandando atualização de competências e integração com ferramentas inteligentes.
Desigualdades na exposição à IA: gênero, renda e contexto global
O relatório destaca que o risco de automação por IA generativa não se distribui de maneira uniforme entre homens e mulheres, nem entre países de diferentes níveis de renda. Em economias desenvolvidas, cerca de 10% das mulheres ocupam funções altamente expostas à automação, proporção superior aos 3,5% verificados entre os homens. Globalmente, 4,7% das mulheres e 2,4% dos homens estão em posições de maior vulnerabilidade.
Essa diferença reflete o predomínio feminino em setores administrativos e de escritório, amplamente impactados pela automação de tarefas rotineiras. Em países com renda elevada, a digitalização avançada dos processos de trabalho amplia a exposição de determinados segmentos da força de trabalho, exigindo políticas públicas e corporativas voltadas à requalificação e redução das desigualdades.
A pesquisa também aponta que a exposição à IA generativa é proporcional ao grau de informatização do setor e do contexto socioeconômico. Em ambientes nos quais a digitalização já é realidade, a adaptação à automação será mais rápida, mas também mais disruptiva, pressionando trabalhadores a adquirirem novas competências e a se reinventarem profissionalmente.
Transformação dos empregos: automação, requalificação e futuro do trabalho
Apesar de 25% dos empregos globais estarem potencialmente expostos à IA generativa, o relatório enfatiza que a substituição total de postos de trabalho deve ser exceção. O cenário mais provável é a transformação das funções, com trabalhadores compartilhando tarefas com sistemas automatizados. Em muitos casos, a IA assumirá atividades repetitivas ou analíticas, liberando profissionais para se concentrarem em aspectos estratégicos, criativos e de relacionamento.
Segundo o estudo, mesmo em ocupações fortemente afetadas, a presença humana continuará sendo fundamental. Processos decisórios, atendimento personalizado, supervisão de sistemas e adaptação a situações imprevisíveis permanecem como desafios para a automação total. O futuro do trabalho será marcado pela convivência entre humanos e máquinas inteligentes, exigindo atualização permanente de conhecimentos e habilidades.
Para os trabalhadores, a recomendação é investir em educação continuada, com foco em áreas menos suscetíveis à automação, como criatividade, pensamento crítico, solução de problemas complexos e competências socioemocionais. Já as organizações devem promover ambientes de aprendizagem, incentivar o desenvolvimento de talentos e adaptar processos para a era da inteligência artificial.
Em síntese, a inteligência artificial generativa representa um divisor de águas para o mercado de trabalho global. Empregos não desaparecerão em massa, mas sua natureza e exigências mudarão rapidamente. A capacidade de adaptação e requalificação será o principal diferencial competitivo de trabalhadores e empresas nesta nova era tecnológica.