
Morreu, nesta sexta-feira (23), Sebastião Salgado, um dos maiores fotógrafos da história, aos 81 anos. Ele, que rodou o mundo com suas lentes, contraiu malária na Indonésia, em 2010. Após 15 anos, as complicações da doença evoluíram para uma leucemia grave, da qual o fotógrafo foi vítima, segundo nota oficial da família.
A malária é uma doença que pode ser aguda ou crônica, causada pela presença de parasitas do gênero Plasmodium nos glóbulos vermelhos do sangue. É transmitida para humanos através da picada de fêmeas infectadas dos mosquitos Anopheles, chamados também de mosquito-prego, que vivem em regiões tropicais.
QUAIS OS SINTOMAS E COMPLICAÇÕES?
Os sintomas mais comuns da malária são febre alta, calafrios, tremores, sudorese e dores de cabeça. Outros sintomas podem ser prostração -enfraquecimento-, alteração da consciência, dificuldade para respirar, convulsões, pressão baixa, fadiga e hemorragias. O quadro grave pode evoluir para insuficiência renal grave, anemia e icterícia, deixando os olhos amarelados.
Existem diferentes tipos de malária, como a malária falciparum, mais comum na África Subsaariana e no Sudeste Asiático, e a malária vivax, a mais comum no Brasil, em regiões como a floresta amazônica.
A malária falciparum pode gerar complicações bastante graves, como a malária cerebral e a febre hemoglobinúrica, afirma Ramon Andrade de Mello, médico oncologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia.
Hélio Bacha, infectologista do Hospital Albert Einstein, explica que a malária vivax, mais comum no Brasil, geralmente se manifesta em quadros benignos e tem um tratamento bem estabelecido no país. Em quadros mais graves e fatais, a doença poderia evoluir para encefalite, insuficiência renal e hepática e falência de múltiplos órgãos.
QUAIS MEDIDAS TOMAR PARA PREVENIR E TRATAR A DOENÇA?
Segundo Ramon Andrade de Mello, a maior forma de prevenção é reduzindo a cadeia de transmissão, através da redução da quantidade de mosquitos fêmeas infectados pelo Plasmodium. Para viajantes que irão para áreas endêmicas com risco grave do desenvolvimento da malária é recomendada a profilaxia com antimaláricos.
O médico explica que existem tratamentos medicamentosos para a doença, que consiste na minimização dos sintomas e também na eliminação do Plasmodium, e a maioria das pessoas apresenta melhora em 24 horas. Além disso, existem medidas a serem tomadas para diminuir o índice da doença, como evitar as picadas com o uso de inseticidas, telas e roupas de mangas longas e calças.
A DOENÇA PODE EVOLUIR PARA UMA LEUCEMIA?
Os especialistas alertam que não há evidência de relação direta entre leucemia e malária. Hélio Bacha, infectologista do Hospital Albert Einstein, explica que existem milhões de casos de malária no mundo, e que esses casos podem ser muito específicos.
“O que pode ter acontecido é que tenha havido uma condição específica de malária grave, com uma complicação de alguma imunodeficiência que pode levar uma ativação de outras infecções virais, como a mononucleose, que pode ativar algum linfoma”, diz o médico.
Mas, sem conhecer o caso específico de Sebastião Salgado, não pode-se afirmar qual foi o desenvolvimento da doença.
Outra possível relação, segundo Mello, é que a malária pode afetar o desenvolvimento de alguns linfomas, como o linfoma de Burkitt, que pode se manifestar como uma leucemia. “É mais comum em regiões endêmicas onde há infecção pelo Plasmodium falciparum”, explica. “E, embora não tenha uma relação direta com a leucemia, ela pode alterar o fenótipo do linfoma e iniciar uma leucemia esclerosante aguda. Mas é algo bem raro.”
Jayr Schmidt Filho, líder do Centro de Referência em Neoplasias Hematológicas do A.C.Camargo Cancer Center, diz que a relação direta não costuma existir porque a malária é uma doença infecciosa que parasita os glóbulos vermelhos, ao passo que a leucemia é uma alteração que costuma ser nos glóbulos brancos no sangue. “Hoje temos um amplo acesso ao tratamento de malária no SUS [Sistema Único de Saúde].”
GIULIA PERUZZO