SUCESSO

Grupo de mulheres quer levar camisaria artesanal à COP-30

O grupo UZE, formado por mulheres do município de Bagre, no Marajó, está bordando um capítulo à parte na moda contemporânea do Pará.

Camisas bordadas à mão com padrões ancestrais vão ser produzidas para o evento FOTO: DIVULGAÇÃO
Camisas bordadas à mão com padrões ancestrais vão ser produzidas para o evento FOTO: DIVULGAÇÃO

O grupo UZE, formado por mulheres do município de Bagre, no Marajó, está bordando um capítulo à parte na moda contemporânea do Pará. Para isso, busca a cultura ancestral marajoara e os padrões dos desenhos tradicionais deixados pelos antigos povos amazônicos na cerâmica para criar as camisas bordadas que têm feito sucesso inclusive entre personalidades públicas, como o governador Helder Barbalho. Feitas de maneira totalmente artesanal, cada camisa pode levar até 15 dias para ser concluída. O desafio do grupo agora é intensificar a produção para alcançar uma meta de pelo menos cem peças que serão apresentadas no estande do município de Bagre durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-30, em novembro.

A ideia do UZE é aproveitar a presença de visitantes de diversos países para colocar a produção na vitrine internacional, e com sentido de pertencimento. “Muita gente usa por aí, cada vez mais, os desenhos marajoaras. Mas é quase tudo apropriação cultural”, brinca o prefeito Clebinho Rodrigues. “O nosso bordado é original do Marajó, de Bagre”.

Foi a partir de um projeto da prefeitura do município que surgiu o grupo UZE, composto por dez mulheres que participaram de um curso de bordado a partir dos tradicionais desenhos da cerâmica marajoara, em julho de 2024. Logo a camisaria passou a fazer sucesso. “O prefeito de Bagre, Clebinho, deu duas camisas ao governador, e ele já usou em várias ocasiões”, festeja a coordenadora do grupo, Maurícia Moraes. “Vendemos 100% da produção”, completa.

HERANÇA

A cerâmica marajoara é uma das imagens mais características do Brasil: seus motivos indígenas formam uma trama inconfundível, espécie de digital cultural. As integrantes do grupo UZE, então, aplicam esse bordado a partir da própria experiência: definem o tipo de ponto, o tecido mais adequado, linhas, cores, formato geral da peça.

Preços e Processo Artesanal

O preço de cada camisa varia de acordo com o tecido e com o tamanho do bordado. De linho, R$ 400; de outros tecidos, entre R$ 200 e R$ 250. “Passo até 15 dias para bordar uma camisa”, diz Maurícia Moraes. “É que também atuo como Coordenadora pedagógica numa escola, e não tenho tanto tempo”.

Outra integrante do grupo, Valdineia Pinheiro, 42 anos, ex-professora, encontrou no bordado conforto e renda: “Distrai, ocupa, foi uma bênção de Deus em minha vida: estou também ensinando minhas filhas a bordarem, para termos mais renda”, diz ela.

“Tenho depressão e, depois que comecei a bordar, melhorei muito”, diz Josineia Freitas de Lima, 43 anos. “Levo de sete a dez dias para concluir um trabalho; gosto dos bordados mais difíceis”, aponta.

“Quando vejo a camisa pronta, bonita, me realizo”, diz Dona Conce, 69 anos, que é cozinheira aos finais de semana.

Reconhecimento e Expansão

“A alegria de ver gente importante, famosa, usando nossas peças, é um estímulo a mais”, reforça Maurícia Moraes. “Neste momento, estou bordando uma camisa para o cantor Alceu Valença, lá de Pernambuco”. Alceu vai ganhar a blusa de presente de um amigo, e é como presente que o trabalho do UZE ganha asas.

“As pessoas postam, comentam, presenteiam, e as encomendas surgem dos lugares mais diferentes”, ressalta Maurícia. “Expomos em eventos da Prefeitura e em eventos de artesanato por vários municípios”.

Além de camisas marajoaras, o grupo passa a produzir toalhas, tapetes, bonés, guardanapos e outros acessórios de moda.