
A chegada de um bebê ao mundo inaugura uma nova realidade não apenas para ele próprio, mas, sobretudo, para a mãe. Depois de meses de transformações intensas durante a gestação é chegada a tão esperada hora do primeiro contato pele a pele com o bebê que, até pouco tempo atrás, esteve acolhido dentro do ventre materno. São as primeiras horas de uma experiência única e que é capaz de marcar para sempre a jornada da maternidade.
Enquanto a vida segue seu curso do lado de fora, por entre os muros da histórica Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, maternidade pública fundada ainda no século XVII, todos os meses uma média de 700 mulheres passam pela experiência do primeiro contato físico com os filhos recém-nascidos. São mães estreantes ou que já passaram pela experiência outras vezes, mas cada uma com uma história única e uma percepção muito particular das sensações despertadas pelos primeiros momentos vivenciados ao lado dos filhos.
Para que chegasse ao momento inesquecível de segurar o filho pela primeira vez nos braços, o caminho percorrido por Elissandra Matos, 31 anos, não foi nada fácil. Natural do município de Paragominas, a mãe de primeira viagem não imaginava que precisaria passar quase três meses internada para garantir o bom desenvolvimento do filho. A entrada na Santa Casa, em Belém, se deu ainda em 18 de fevereiro, mas a chegada do pequeno Pedro André ocorreu apenas no dia 04 de maio, uma vitória concretizada a uma semana do Dia das Mães. “Eu dei entrada com um quadro de ‘abordo inevitável’, o que para muitos médicos seria impossível segurar a gravidez até onde a gente chegou. Mas a gente confiou muito em Deus e conseguiu chegar até as 33 semanas e 2 dias”.
A condição delicada da gestação exigiu que Elissandra mantivesse repouso absoluto até o momento do parto. Durante esse período, que ela passou na Casa da Gestante, dentro da Santa Casa, foram meses deitada quase o dia inteiro, levantando-se apenas para ir ao banheiro. Uma batalha que foi recompensada logo nos primeiros segundos em que Elissandra ouviu, pela primeira vez, o choro do filho. “É um mix de sentimentos que nem dá para explicar, mas é só felicidade ver o rostinho dele. Eu ficava preocupada em saber se ele iria chorar porque pelos dias que ele estava sem líquido porque a bolsa rompeu antes do tempo também, mas ele chorou bastante até e aí deu um alívio”, descreve. “Eu gostei de tudo nele, a gente fica olhando cada pedacinho dele e aproveitando porque já, já cresce”.
Acompanhando de perto os cuidados necessários com o neto, a mãe de Elissandra, Sandra Maria Silva, recorda muito bem os momentos difíceis que precisaram ser enfrentados para que, às vésperas do Dia das Mães, elas pudessem viver a alegria de ter o Pedro nos braços. Desde a primeira entrada no hospital, ainda em fevereiro, Sandra foi quem acompanhou a filha que se preparava para se tornar também mãe.
“Eu sempre fiz questão de ter ela perto. Quando eu descobri que eu estava grávida, eu logo falei que eu queria que a mãe ficasse do meu lado e ela, desde o início, está sempre comigo. Ainda teve um momento que a minha mãe adoeceu, então ela precisou voltar para Paragominas. Foi um momento que eu fiquei sozinha aqui e tive todo o apoio da equipe da Casa da Gestante e assim a gente foi vencendo e chegamos até aqui”, recorda Elissandra.
“Pra mim foi uma vitória chegar até aqui porque a gente teve muita fé e, em momento algum, a gente abaixou a cabeça. Eu já tinha ouvido que eu não ia pra frente com a gestação, mas eu sabia que eu ia chegar até o final porque tinha sido promessa de Deus. Antes de saber que eu estava grávida eu havia sonhado que eu ia ficar grávida, que seria uma gravidez difícil, mas que eu teria um menino”.
Histórias de mães e filhos
A forte conexão entre mãe e filho também se manifestou na vida da Leide Liliana Romero através de sonho, antes mesmo do seu segundo filho, Dominick, nascer no último dia 07 de maio. Colombiana que mora no Pará há 10 anos, Leide conta que sonhou com o rosto do filho durante a gestação e, para sua surpresa, ao olhar para ele pela primeira vez, constatou que ele era exatamente como ela havia imaginado. “Eu sonhei com ele e vi o rostinho dele. Desde aí eu fiquei pensando que o meu filho ia ser como eu tinha sonhado e quando ele nasceu, ele tinha o mesmo rosto que eu sonhei. Foi uma renovação, algo muito bonito para a nossa vida. Estou muito agradecida a Deus”.
Esta não foi a experiência de Leide com a gestação. Há 16 anos ela deu a luz ao seu primeiro filho, ainda na Colômbia, mas relata que cada gestação e cada filho é diferente e único. “Eu fiquei muito ansiosa de ver logo ele, como se fosse a primeira vez. Eu ficava muito ansiosa para ver ele, quando ele estava na barriga eu conversava muito com ele também”, lembra, ao falar da segunda experiência. “Eu fiquei muito encantada nessa gravidez porque eu fiquei mais ansiosa para conhecer ele, para comprar as coisas dele, foi muito lindo. Não que com o meu primeiro filho não tenha sido, mas quando eu estava grávida do primeiro filho estava em um momento mais difícil, foram muitas coisas que eu passei e eu era muito nova também, então, foi uma experiência diferente para cada um”.
Entre a ansiedade da espera e o encantamento do contato inicial
Toda a ansiedade com que Leide esperava pelo nascimento do caçula se dissipou quando ele, enfim, veio ao mundo. Ainda nas primeiras 24 horas de contato físico entre mãe e filho, foi possível observar que Dominick tem uma personalidade forte, personalidade esta que já foi suficiente para encantar a mãe. “Eu esperava ele com muita felicidade, com muita ansiedade, e agora estou encantada por ele. Sinto um amor muito grande com ele, ele é muito lindo em tudo, perfeito. Estou apaixonada”.
O encantamento com o filho que acabara de conhecer também está presente no olhar de Adriele Queiroz, de 33 anos. Mãe do Kauã Raphael, de 15 anos, ela teve a oportunidade de vivenciar mais uma vez a experiência da maternidade com a chegada do pequeno Davi Lucca, que veio ao mundo com 36 semanas de gestação, no mês dedicado às mães. “Esses primeiros dias com ele tem sido voltando a aprender o que eu já tinha esquecido porque são 15 anos de diferença entre o primeiro filho e o segundo, mas está sendo muito bom e desafiador. Cada um é diferente do outro”, avalia, enquanto dá andamento aos cuidados com o Davi ao lado do esposo, Rafael Queiroz, de 35 anos. “O Davi está com icterícia e a gente vai precisar ficar um pouquinho mais no hospital, mas se for pela saúde dele, a gente suporta”.
A família se preparava para receber o caçula apenas no dia 20 de maio, mas o pequeno Davi decidiu se antecipar. Nasceu no último dia 04 de maio para já viver o seu primeiro Dia das Mães ao lado de Adriele. “Foi um presente antecipado porque eu imaginava que eu iria passar o Dia das Mães com ele ainda no forninho. Mas não foi no nosso tempo, foi no tempo dele e no tempo de Deus”, considera. “Fomos pegos de surpresa, mas é uma sensação que a gente não consegue explicar. Uma sensação de amor, de alívio por ver que ele está bem”.
Ainda admirando cada detalhe do filho, Adriele tenta identificar como será a personalidade do caçula. Em meio às mamadas, ao primeiro banho, aos cuidados médicos que ainda são necessários, ela se acostuma com a força do amor que conecta mãe e filho, um amor já conhecido, mas que, ainda assim, é diferente.
“A gente pensa que não vai sentir o mesmo amor, mas a gente sente, apesar de ser diferente. O amor do meu primeiro filho e agora desse é diferente, mas são muito grandes os dois. O meu primeiro filho é o amor da minha vida e agora esse aqui também é o amor da minha vida. É uma coisa que a gente não sabe explicar, só tem a agradecer a Deus porque é perfeito”.
Na expectativa para que Kauã Raphael e Davi Lucca se conheçam pessoalmente, quando o caçula puder receber alta da maternidade, a mãe já faz planos para a relação que ela espera que os irmãos mantenham. “Com certeza ele (Davi) vai querer se espelhar em alguém, e eu espero que seja no irmãozinho dele, que gosta muito de música, toca instrumentos musicais. Eu acredito que como ele vai ver o pai dele e o irmão dele já nesse rumo da música, ele vai querer também seguir”, imagina.
“E eu espero que eles possam ser bem unidos, um amigo do outro. A gente sempre pensava que iria ser só o meu filho mais velho, mas o mais novo veio para completar e a gente pensa no futuro deles unidos porque irmãos brigam, mas quando um precisa do outro está ali para apoiar. O meu filho (Kauã) sempre dizia: ‘Ah, eu não vou ajudar a cuidar’, mas quando ele viu a foto do irmãozinho dele, ele postou e escreveu ‘irmão, te amo’. Então, eu já fiquei toda
besta, né? Mãe é assim”.
Estatísticas da maternidade
Apenas no ano passado, 9.274 mães passaram pelas primeiras horas de experiência da maternidade na Santa Casa de Misericórdia do Pará, o que representa uma média de 773 partos por mês.