Nesta quinta-feira (8), pais de crianças autistas atendidas pelo plano de saúde da Unimed Belém fizeram uma manifestação em frente à sede administrativa da cooperativa, localizada no bairro do Marco. O protesto ocorreu devido às ações consideradas abusivas por parte da Unimed, que estaria tentando convencer os clientes a deixarem de fazer atendimentos e acompanhamentos em clínicas particulares conveniadas ao plano, incentivando a utilização apenas das clínicas credenciadas pela rede, o que tem resultado em um tratamento precário para essas crianças. Essa situação vem acontecendo há aproximadamente um ano.
Durante a manifestação, os pais carregavam cartazes com frases como: “Justiça para as crianças autistas, saúde não se negocia” e “Autistas não podem esperar. Respeitem o nosso tempo, Unimed”. Segundo os manifestantes, o atendimento automático da Unimed Belém envia mensagens pelo WhatsApp para os responsáveis, informando de forma arbitrária sobre agendamentos em clínicas diferentes das que as crianças já estão acostumadas a fazer seus tratamentos. As famílias afirmam que isso é uma tentativa de constranger os pacientes e de retirar terapias e tratamentos essenciais.
Além disso, os pais atípicos estão passando por outras dificuldades. Eles têm enfrentado atrasos ou até mesmo a suspensão dos pagamentos das clínicas para o atendimento dessas crianças. Alguns também relatam que a autorização para tratamentos muitas vezes é negada ou suspensa. Isso acontece porque, em vários casos, as decisões judiciais favoráveis não estão sendo cumpridas, o que faz com que esses pais passem por várias dificuldades e até humilhações na tentativa de conseguir as autorizações necessárias para as terapias.
Outro problema enfrentado é a ausência de cobertura para métodos de tratamento que não estão previstos no rol da ANS, mesmo quando há liminares que garantem esses direitos. Além disso, há restrições no tempo de duração das terapias e dificuldades para agendar procedimentos e consultas, principalmente com neuropediatras e neuropsicólogos.
Relatos de Mães
Fabíola Moraes, mãe de um adolescente de 14 anos, comenta que o que muitas vezes chamam de “tratamento humanizado” na verdade tem sido uma forma de coação. O filho já faz acompanhamento em uma clínica particular, cujo custo é coberto pelo plano de saúde, mas ela começou a receber mensagens com agendamentos que ela nunca solicitou no Centro de Clínicas e Terapias Especializadas da Unimed Belém, um lugar onde ela nunca buscou atendimento.
“Recebi uma mensagem, que parecia uma mensagem acolhedora, mas na verdade não era. Meu filho faz terapia em uma clínica particular aqui em Belém e eu não pedi nada para a Unimed de Belém. E, de repente, recebi uma agenda pronta, pedindo para eu comparecer ao centro da Unimed. O que acontece é o seguinte: essas clínicas credenciadas têm uma carga horária reduzida, diferente do que está indicado no laudo médico. Essas clínicas não analisam o laudo médico adequadamente nem seguem exatamente o que está nele”. Segundo Fabíola, o Centro de Clínicas e Terapias Especializadas realiza atendimentos em grupos, e não de forma individualizada. Isso acaba prejudicando a qualidade do atendimento para crianças com TEA.
A professora Ynis Cristine é autista e mãe de duas crianças também autistas, uma de 12 anos e outra de 7 anos. Ela relata que a situação com a Unimed Belém tem sido bastante difícil para sua família, pois sente que a empresa vem colocando seus filhos em risco repetidamente. “Entramos com uma demanda judicial, e já há uma sentença favorável. Uma das crianças faz terapia na travessa João Balbi, no Umarizal, enquanto a outra faz terapia perto do Aeroporto, em Val de Cães, já eu realizo terapia na TV Barão do Triunfo, no Marco. São endereços totalmente opostos”, detalha.
“É difícil se deslocar até essas clínicas mais distantes, pois para eu fazer o meu acompanhamento precisaria deixar um dos meus filhos sem terapia para poder fazer a minha”, diz indignada. Além disso, ela critica o fato de o advogado da Unimed afirmar que a empresa está cumprindo suas obrigações ao fornecer atendimento, o que ela considera inaceitável e desumano diante da situação que enfrentam.
“Nós queremos ser ouvidos, mas, na única vez em que consegui falar nesta ouvidoria, acabei tendo uma crise. Fiquei muito emocionada, chorei bastante, me tremi toda e até passei mal. Estava usando um colar de girassol no pescoço e, infelizmente, ninguém me acolheu. Ninguém me ofereceu água ou um remédio. Pelo contrário, fui tratada de forma cruel e desumana nesta Unimed, que não se preocupa com as pessoas autistas e não possui um espaço de regulação sensorial para momentos assim”, ela relata.
O que diz a Unimed Belém
Diante da manifestação realizada nesta quinta-feira (8) por pais de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), a Unimed Belém vem a público reafirmar seu compromisso com a prestação de atendimento integral, baseado em evidências científicas, a todos os seus beneficiários.
A diretoria da cooperativa recebeu um representante dos pais para uma reunião institucional, que contou com a presença de um defensor público convidado pela própria Unimed Belém. Durante o encontro, ficou acordada a realização de uma nova reunião no próximo dia 14 de maio, na sede da Defensoria Pública ou do Ministério Público, com o objetivo de formalizar um canal permanente de diálogo entre as partes.
A medida busca evitar ruídos na comunicação, fortalecer a mediação de eventuais demandas e garantir que as informações cheguem de forma clara e transparente às famílias.