CINEMA

Um pecado não assistir Pecadores no cinema

“Pecadores” (2025), nova parceria entre Ryan Coogler e Michael B. Jordan, é o melhor trabalho dos dois juntos e o melhor terror do ano

Jordan domina a tela como os irmãos Fuligem e Fumaça. FOTO: reprodução
Jordan domina a tela como os irmãos Fuligem e Fumaça. FOTO: reprodução

É muito gratificante quando você entra em uma sala de cinema sem saber quase nada sobre um filme (só tendo como referência o currículo dos envolvidos, por exemplo), e sair com a sensação de ver algo novo, bem feito e que envolve uma série de sentimentos e discussões. É o caso de “Pecadores” (2025), nova parceria entre Ryan Coogler e Michael B. Jordan, que não apenas é o melhor trabalho dos dois juntos, como também é (até agora) o melhor filme de horror e um dos melhores do ano.

Em primeiro lugar, o que faz “Pecadores” ser um novo clássico é sua identidade bem definida: Coogler usa a música negra americana para espantar os males do racismo na união da comunidade e em busca de uma ilha de felicidade em meio à violência institucionalizada americana de décadas atrás e que permanece como uma sombra sobre aquela sociedade.

Ao mesmo tempo, joga o tempo todo com o horror que cerca o ambiente, onde o ódio incompreensível domina o ambiente cercado de sangue, simbolizado com muita propriedade pelo mito do vampirismo. Do apego ao comunitário, da propagação do medo religioso como arma contra a guerra cultural, e até o uso do violento como definidor de parâmetros sociais. São muitos os simbolismos presentes na metragem no projeto, que conta a história de um músico, que se junta aos primos gêmeos gangsteres na abertura de um clube de blues negro no meio da América racista e se depara com criaturas cercando o local.

Palmas para o elenco, espetacular, começando com Jordan dominando toda a tela como os irmãos Fuligem e Fumaça. B.Jordan transborda vilania e amor em grandes proporções e consegue complementar as atuações, com diferentes gestos, olhares e figurinos (que também é um caso à parte, com a espetacular Ruth E. Carter). Miles Caton também é uma grata revelação, tanto pelos dotes dramáticos, quanto vocais, e que rompe a barreira espaço/tempo com sua música. Assim como Wunmi Mosaku e Delroy Lindo, competentes como sempre.

A música é um definidor da obra, complementando não só a atmosfera dramática, mas criando rimas elegantes para a passagem de tempo e o sentimento dos personagens, além do peso de ser o elemento definidor da cobiça dos vampiros. O trecho musical do baile, onde passado e futuro se complementam, é um dos planos sequências mais espetaculares do cinema nos últimos anos, se juntando a muitas outras cenas que comprovam o alcance estético de Coogler na tela grande, inclusive com o uso da tecnologia Imax para filmagens.

Um filme de terror bonito, bem produzido, atuado e com muitos elementos para se discutir fora dele. Um primor cinematográfico para se assistir na tela grande.

Assista ao trailer de Pecadores: