SEXTA-FEIRA SANTA

Sermão das Sete Palavras emociona fiéis na Sexta-Feira Santa em Belém

A celebração, que chegou à sua 146ª edição nesta sexta-feira (18), reuniu fiéis de diversas gerações, desde às 12h, para refletirem sobre as últimas frases pronunciadas por Jesus na cruz, até às 15h.
A celebração, que chegou à sua 146ª edição nesta sexta-feira (18), reuniu fiéis de diversas gerações, desde às 12h, para refletirem sobre as últimas frases pronunciadas por Jesus na cruz, até às 15h. Foto: Wagner Almeida

Em meio ao silêncio reverente e a celebração intimista da fé, a Capela de Santo Antônio, localizada na Praça Dom Macedo Costa, Rua Frei Gil, no bairro da Campina, foi novamente cenário de um dos momentos mais intensos da Sexta-feira Santa: o Sermão das Sete Palavras, também conhecido como Sermão das Três Horas da Agonia. A celebração, que chegou à sua 146ª edição nesta sexta-feira (18), reuniu fiéis de diversas gerações, desde às 12h, para refletirem sobre as últimas frases pronunciadas por Jesus na cruz, até às 15h.

A cerimônia é sempre marcada por profunda introspecção, música sacra e uma atmosfera de recolhimento, mantendo viva uma tradição que começou em 1879 e segue sendo um símbolo de espiritualidade e herança cristã na capital paraense. O Coral Santa Cecília deu o tom da celebração com a execução da obra “Le Sette Ultime Parole di Nostro Signore sulla Croce”, do compositor italiano Giuseppe Saverio Raffaele Mercadante (1795–1870).

Este ano, a meditação foi conduzida pelo cônego Plínio Moraes Pacheco, pároco da Paróquia Jesus Ressuscitado e mestre de cerimônias da Arquidiocese de Belém. Com voz firme e pausada, ele refletiu sobre o sentido mais profundo de cada palavra de Cristo. A entrega total de Cristo nas mãos do Pai revela um gesto de confiança absoluta e de liberdade verdadeira, pois “obedecer nunca é fácil, mas é o caminho da verdadeira paz”. Plínio lembra que, ao contemplarmos a cruz, não vemos mais derrota, mas triunfo. “O maior ‘eu te amo’ da história foi dito no silêncio de uma cruz”.

Entre as sete palavras meditadas, “Todos os anos são anos de ressignificação”, comentou o padre Alan Henrique Silva, entre os presentes, que mantém a profundidade com o momento há quatro anos. Uma delas teve destaque especial para o padre Alan neste ano do Jubileu da Esperança: “Em verdade Te digo: hoje estarás comigo no paraíso”, com base no livro de Lucas, capítulo 23, versículo 43 (Lc 23:43). 

“É a esperança que Jesus dá para todo mundo. Mesmo diante dos sofrimentos, das dores, das lutas diárias, Jesus sempre estará conosco. Ele abre essas portas para chegarmos ao Céu”, refletiu.

Devoção e Tradição na Sexta-Feira Santa

Para os devotos, o momento é de conexão íntima com a dor de Cristo. A aposentada Fátima Martins, de 75 anos, saiu de Icoaraci e participa há três décadas da celebração. “Representa tudo na minha vida. Posso vir carregada de problemas, mas saio daqui outra pessoa. É como se a gente estivesse vivendo naqueles tempos, com aquele sofrimento e dor. Fico feliz e, ao mesmo tempo, um pouco mais triste. É um momento de reflexão”, expressou.

Já para a fisioterapeuta Adélia Oliveira, de 41 anos, a tradição é recente, mas já faz parte da programação do período. “Desde a primeira vez que vim, entendi o processo da Paixão de Cristo. A gente não consegue mais deixar de vir. Todos os anos é uma renovação. Este ano, a palavra que mais se encaixa na minha vida é a primeira: ‘Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem’ [Lc 23:34]. Perdoar genuinamente é muito difícil. Essa palavra mexe comigo”, contou.

Foto: Wagner Almeida

O arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, destacou a profundidade espiritual da cerimônia como “um convite à contemplação e à renovação da fé”. “Quando Jesus pronunciou as palavras na cruz, nós podemos chamar de um testamento divino. Eram palavras que expressavam tudo aquilo que estava no coração de Jesus, um coração humano, que participa do sofrimento, das dificuldades, desafios, mas um coração divino que desceu até o mais profundo do mistério do sofrimento humano para resgatarmos”, continuou.

Mudança no Coral Santa Cecília

Ainda, Dom Alberto anunciou a troca do nome do Coral Santa Cecília. “Diante de Deus, com santos e santas, cantando a melodia eterna da vida, a partir de agora a partir de agora, o nome do Coral Santa Cecília mudou, agora é Dom Vicente Zico”, frisou.

Finalizando a celebração, ao som das batidas de uma matraca, a imagem de Jesus carregada pelos membros da Arquidiocese.

“Nesse momento da Páscoa, muitos pensam que é o chocolate, mas não é. É momento de compaixão, de empatia”, afirmou o devoto Diego Silva, de 37, emocionado, acompanhado da filha Ana Cecília, de 11 anos. “Quero que minha filha cresça entendendo a importância da fé e da tradição. Aqui a gente sente algo diferente, é como se o tempo parasse”.


AS SETE PALAVRAS

“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34)
“Em verdade Eu vos digo: ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43)
“Mulher, eis o teu filho. Eis a tua mãe” (Jo 19, 26-27)
“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15, 34)
“Tenho sede” (Jo 19, 28)
“Tudo está consumado” (Jo 19, 30)
“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46)