DE VOLTA À CELA

Luxo, ostentação e prisão: Noelle Araújo e Mago das Unhas caem em nova operação

A polícia identificou que, juntos, movimentaram cerca de R$ 42 milhões em contas ligadas às práticas ilegais.

A polícia identificou que, juntos, movimentaram cerca de R$ 42 milhões em contas ligadas às práticas ilegais.
A polícia identificou que, juntos, movimentaram cerca de R$ 42 milhões em contas ligadas às práticas ilegais. Fotos: Divulgação

Na manhã desta quinta-feira (17), a Polícia Civil do Pará deflagrou a Operação “All In”, com o objetivo de desarticular um esquema milionário de movimentação financeira ligado à exploração ilegal de jogos de azar em plataformas digitais — popularmente conhecidas como “jogo do tigrinho”.

Dois influenciadores digitais foram presos durante a ação: Noelle Maria de Araújo Lopes e Gleison Pereira Soares, mais conhecido nas redes sociais como “Mago das Unhas”. Além das prisões, a polícia apreendeu diversos bens, incluindo celulares, objetos de marcas de luxo e um veículo importado.

Ambos os detidos já haviam sido alvos da Operação Truque de Mestre, deflagrada em dezembro de 2023, também por envolvimento na promoção de jogos de azar via redes sociais. No entanto, segundo a Polícia Civil, as prisões desta quinta-feira ocorreram por novas evidências e circunstâncias distintas.

A operação cumpriu dois mandados de prisão preventiva e dois de busca e apreensão domiciliar, expedidos pela Vara de Inquéritos Policiais e Medidas Cautelares de Belém. A ação foi coordenada pela Divisão de Combate a Crimes Contra Direitos Individuais Praticados por Meios Cibernéticos (DCCCDI), vinculada à Diretoria Estadual de Combate a Crimes Cibernéticos (DECCC).

Mago das Unhas

Segundo o delegado Yan Almeida, titular da DCCCDI, as investigações apontaram fortes indícios de lavagem de dinheiro. “Foram meses de análise de movimentações financeiras suspeitas. Com base nas provas, solicitamos os mandados à Justiça. As prisões de hoje evidenciam que os influenciadores atuavam como divulgadores dos jogos ilegais, além de movimentarem quantias expressivas, de origem ilícita”, explicou.

Noelle Araújo.

💸 Esquema de lavagem e manipulação digital

Os investigados são acusados de crimes contra a economia popular, promoção de jogos de azar em plataformas online e envolvimento em esquemas de lavagem de dinheiro. A polícia identificou que, juntos, movimentaram cerca de R$ 42 milhões em contas ligadas às práticas ilegais.

Em apenas 60 dias, um dos investigados realizou transações que somaram mais de R$ 1,5 milhão, com movimentações fracionadas e uso de “laranjas” para esconder a origem do dinheiro. Em troca da divulgação dos jogos, os influenciadores recebiam valores elevados das plataformas.

As investigações também destacam como esses criadores de conteúdo manipulavam a percepção do público, principalmente com promessas falsas de prêmios e lucros fáceis, violando os princípios da boa-fé e induzindo consumidores ao erro.

Segundo a delegada Vanessa Lee, diretora da DECCC, “mesmo após operações anteriores, muitos influenciadores insistem em promover esses jogos ilegais, aumentando o alcance da atividade criminosa. O estilo de vida ostentado nas redes era incompatível com as rendas oficialmente declaradas, o que reforça os indícios de ocultação patrimonial”.

Impacto Social e Econômico dos Jogos de Azar Online

O “jogo do tigrinho” e outras apostas online tornaram-se populares principalmente entre as classes D e E, com forte apelo nas redes sociais. Muitos dos afetados são jovens e adultos endividados, atraídos pela falsa promessa de enriquecimento rápido.

Pesquisas recentes reforçam o impacto desse tipo de conteúdo: levantamento do Serasa com o Instituto Opinion Box aponta que 40,2% dos endividados das classes D e E têm o “jogo do tigrinho” como uma das principais apostas. Outro estudo, do Instituto DataSenado, revelou que 13% dos brasileiros com 16 anos ou mais apostaram nos últimos 30 dias, sendo a maioria homens de até 39 anos, com ensino médio completo.

Os dois presos foram levados para a delegacia especializada, onde passaram pelos procedimentos de praxe e seguem à disposição da Justiça.