Muito além da simples escuta. O trabalho desenvolvido pela Fundação ParáPaz, um dos órgãos executores das políticas públicas sociais do Governo do Pará, é repleto de histórias de superação, que geralmente começam com o gesto do acolhimento especializado. Todos os dias, equipes formadas por psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais se unem para atender, com respeito, cuidado e sensibilidade, crianças, adolescentes e suas famílias, que vivenciam situações de violência. Esse compromisso diário ganha ainda mais relevância no dia 16 de abril, instituído como o Dia do Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes no Pará.
Nos centros especializados da Fundação ParáPaz, em Belém, os acolhimentos seguem protocolos específicos, respeitando o tempo e a realidade de cada vítima. A unidade que funciona na centenária Santa Casa de Misericórdia é referência no atendimento exclusivo a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, enquanto a unidade integrada à Polícia Científica do Pará acolhe vítimas de violência física, psicológica e sexual, além de negligência e maus-tratos.
A assistente social Vânia Tangerino conhece de perto a realidade de quem chega em busca de ajuda. Coordenadora do Centro Integrado ParáPaz na Polícia Científica há mais de cinco anos, ela ressalta que a importância de garantir os direitos das vítimas, desde o primeiro atendimento, está “na agilidade do serviço, para que os encaminhamentos sejam efetivados a tempo e garantam os atendimentos para a profilaxia; acesso à delegacia, em caso de flagrante e não flagrante; aos exames periciais e aos demais atendimentos necessários”.
Segundo ela, o papel do assistente social é oferecer a escuta especializada, o acolhimento e os encaminhamentos iniciais — que podem incluir o Conselho Tutelar, atendimento médico e psicológico, e a Delegacia Especializada no Atendimento à Criança e ao Adolescente (Deaca), especialmente nos casos em que a vítima chega sem Boletim de Ocorrência.
Empatia e respeito – No atendimento psicológico, um dos cuidados fundamentais é evitar a revitimização, evitando que a criança sofra novamente ao ter que reviver a situação de violência, informa a psicóloga Luiza Bulhões, que atua na unidade da Santa Casa.
“Garantimos que a criança não tenha que repetir o relato diversas vezes, e que todo o atendimento seja conduzido com empatia, respeito e escuta ativa. Evitamos perguntas sugestivas ou invasivas. Respeitamos o tempo da criança para falar sobre o ocorrido, e não forçamos nenhuma revelação. O foco é sempre o cuidado e a preservação emocional da vítima”, garante a psicóloga.
Luiza Bulhões também enfatiza o papel dos responsáveis, que muitas vezes são os primeiros a perceber que há algo errado. Nesses casos, é preciso saber acolher corretamente. “O mais importante é acolher sem pressionar. Escute com atenção, transmita segurança e nunca duvide da fala da criança. Evite fazer perguntas invasivas ou tentar investigar por conta própria. Proteja e, principalmente, denuncie. A responsabilidade pela proteção é dos adultos”, reitera a profissional.
Educação, prevenção e capacitação – O compromisso da Fundação ParáPaz com a prevenção da violência se estende às escolas, onde são realizadas palestras educativas, além de atividades itinerantes e em espaços públicos. Nesses locais, são realizadas rodas de conversa, distribuídos exemplares da Cartilha “Brincando” – usada como ferramenta de proteção e informação contra o abuso sexual -, e o auxílio do personagem GiraPaz, que ensina, de maneira lúdica e cuidadosa, os limites do corpo e o que fazer em caso de abuso.
O presidente da Fundação ParáPaz, Alberto Teixeira, destaca que o cuidado não se limita ao atendimento individual, passando também pela capacitação constante da rede de proteção, a fim de fortalecer os fluxos de atendimento nos municípios e garantir que mais pessoas estejam aptas a identificar sinais de abuso, orientar corretamente a vítima e prestar o devido atendimento.
“Nosso compromisso é garantir que os profissionais estejam preparados, informados e atualizados para lidar com os desafios que envolvem os casos de violência. Essa formação contínua é fundamental para oferecer um atendimento humanizado e eficiente em todos os cantos do Estado”, frisa Alberto Teixeira.
Fonte: Agência Pará