
Estudos recentes apontam que a floresta amazônica está próxima de um colapso irreversível, o chamado “ponto de não retorno”. O conceito, também conhecido como ponto de inflexão, foi introduzido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC), há mais de 20 anos, para indicar o momento em que as consequências das mudanças climáticas serão irreversíveis. O alerta vem de pesquisadores que monitoram o avanço do desmatamento e do comportamento do clima na região, responsáveis por comprometer os ciclos de chuva, a biodiversidade e o equilíbrio climático global.
De acordo com o doutor em Ecologia, Divino Silvério, pesquisador e professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), campus Capitão Poço, o conceito de “ponto de não retorno”, ou “tipping point”, está associado à noção de resiliência, a capacidade de recuperação de um sistema depois de uma “perturbação” extrema. Em relação aos ecossistemas globais, o conceito está relacionado ao potencial de recuperação do ambiente natural após episódios ocasionados pelas mudanças climáticas, como em casos de incêndios florestais.
Na linguagem popular, “ponto de não retorno” são como situações que ficam tão sérias e complicadas que não dá para voltar atrás. Dessa forma, quando o nível de “perturbação” é ultrapassado, o funcionamento de um ecossistema muda de forma definitiva e dificilmente retorna às condições anteriores, podendo potencialmente levar a destruição de alguns biomas. “O que determina o ponto de não retorno é a observação de mudança no estado do ecossistema, sendo que após alcançar este limite, a recuperação das condições iniciais não será mais possível. Assim, este novo estado, caracterizado por alterações profundas na estrutura e no funcionamento dos ecossistemas, será permanente, pelo menos de médio a longo prazo. A gente entende que ele ultrapassou esse limiar, esse ponto de não retorno, quando o episódio de perturbação foi forte o suficiente para vencer a resiliência do sistema”, explicou.
RISCOS
Segundo o pesquisador e professor da Ufra, as consequências das mudanças desencadeadas pela degradação da Amazônia envolvem desde a capacidade de conservação da biodiversidade, os estoques de carbono, o regime de chuvas até a manutenção do clima, entre outros fatores. Além disso, o rico bioma nativo, responsável por abrigar 10% da biodiversidade terrestre do planeta, daria espaço a uma vegetação bem mais aberta e aquém da capacidade natural da floresta.
“Falando da Amazônia, uma vez ultrapassado esse limiar, além de perder uma floresta exuberante, rica em carbono e em diversidades de espécies, uma das opções desse estado é que o sistema passa a ser mais degradado, caracterizado por espécies mais diferente, mais transitórias, pioneira. Um tipo de vegetação aberta que é pobre em carbono, pobre em espécies, e o funcionamento desse novo ecossistema perde a capacidade de fornecer uma variedade de serviços que são úteis a manutenção do clima, de toda essa riqueza que existe, como o próprio fornecimento de alimento para a fauna e para as populações tradicionais. É uma diversidade grande de consequências”, afirma.