CELEBRAÇÃO

Manoel Cordeiro abre esta semana sequência de ocupações artísticas no Rio e São Paulo

Considerado um dos mestres da guitarrada e da música amazônida, Manoel Cordeiro celebra 70 anos de idade e 57 de carreira em 2025.

Manoel Cordeiro abre esta semana sequência de ocupações artísticas no Rio e São Paulo Manoel Cordeiro abre esta semana sequência de ocupações artísticas no Rio e São Paulo Manoel Cordeiro abre esta semana sequência de ocupações artísticas no Rio e São Paulo Manoel Cordeiro abre esta semana sequência de ocupações artísticas no Rio e São Paulo
Considerado um dos mestres da guitarrada e da música amazônida, Manoel Cordeiro celebra 70 anos de idade e 57 de carreira em 2025.
Considerado um dos mestres da guitarrada e da música amazônida, Manoel Cordeiro celebra 70 anos de idade e 57 de carreira em 2025. Foto celso Rodrigues/ Diário do Pará.

Considerado um dos mestres da guitarrada e da música amazônida, Manoel Cordeiro celebra 70 anos de idade e 57 de carreira em 2025. Apesar de ser conhecido pela sonoridade da sua guitarra potente, foi com o violão que o artista deu seus primeiros passos na música, com apenas 10 anos de idade, quando ainda morava em Macapá, no Amapá.

“Comecei a aprender com papai, que era músico, tocou cavaquinho. Minha mãe também tocava cavaquinho, uma cabocla do Marajó, de Anajás. Com 12 anos, fui convidado para tocar violão num programa chamado ‘Minigente’, da Rádio Educadora São José de Macapá. Aí começou o tititi na cidade, ‘tem um moleque que toca violão’”, disse Manoel Cordeiro, que aos 13 anos entrou para a banda Embalo Sete, já tocando guitarra e desde então não deixou o palco.

A celebração da vida do artista será em grande estilo, com a “Ocupação Manoel Cordeiro”, que vai promover um mergulho na obra, na cultura e na MPB feita na Amazônia, no próximo dia 11 de abril, no Rio de Janeiro, e no 17 de abril, em São Paulo.

“Vamos fazer uma exposição de fotos da minha história. E vou fazer um workshop, uma apresentação, em que vou mostrar a guitarra na música da Amazônia, porque temos um jeito muito especial de tocar. Assim como o nordestino toca safona, nós tocamos guitarra. Vou montar um estúdio de gravação no palco para mostrar o processo de gravação, produção e composição”, disse Manoel, que ao longo da carreira produziu nomes como como Beto Barbosa, Fafá de Belém, Pinduca, Banda Calypso, Warilou, Grupo Carrapicho, Roberta Miranda, Banana Split e Trio Los Angeles.

O evento é considerado inédito e vai reunir diversas ações – shows, filme e palestra com o mestre paraense. “Vamos ter um debate sobre Música Popular Brasileira feita na Amazônia. Convidei o Felipe Cordeiro, o Bernardo Oliveira, que é um professor e pesquisador da UFRJ. Vai ter também a projeção do minidoc ‘Luz do Mundo’, que mostra um pouco da minha trajetória, mas também aquele aspecto religioso e trata com certa profundidade o lance da covid, que foi muito difícil para mim. Depois vai ter a cereja do bolo, um show com vários artistas”, adiantou Manoel, que terá o filho Felipe Cordeiro e Liah Soares entre os convidados.

“Teremos também o Silvan Galvão, de Santarém, que faz um carimbó muito legal, a Évila Moreira, cantora de Castanhal, uma garota potente que está chegando agora”, acrescentou Manoel.

Manoel Cordeiro: Celebração e Legado da Música Amazônida

Na porta de seus 70 anos, Manoel Cordeiro vive uma empolgação e se declara com muito tesão para realizar coisas. Está escrevendo um livro, e com um longa-metragem em fase de edição, para ser lançado no dia do seu aniversário, 8 de novembro.

“Estou com a cabeça cheia de projetos. Tenho o [movimento] ‘Música Popular Brasileira Feita na Amazônia’ para mobilizar as pessoas em torno dessa ideia de que nós temos uma música potente e poderosa, que pode ser objeto de sustentação, visibilidade, assim como o samba é para o Rio de Janeiro, o axé para a Bahia, o maracatu para Pernambuco, ou o reggae para a Jamaica. Precisa é uma consciência coletiva que já estamos trabalhando, um dever de casa do próprio artista entender essa potencialidade e começarmos a usar isso ao nosso favor”, destacou Manoel, que acredita que a realização da COP30 em Belém traz a hora de virar a chave.

“Vamos falar, tocar, mostrar as nossas coisas, até porque a nossa música é uma das mais potentes do planeta. Viajo muito por aí e vejo a importância da Dona Onete, Pinduca, Felipe Cordeiro e outros artistas, que chegam em qualquer lugar do mundo. Tocamos em Moscou com o Felipe e foi uma recepção maravilhosa. Então, por que isso não é o nosso principal produto do ponto de vista artístico também, assim como a nossa culinária?”, provoca Manoel.

Carregando a bandeira da Amazônia

A Música do Pará e a Inovação Tecnológica

Para Cordeiro, os músicos do Pará têm a particularidade de usar a tecnologia para produzir novas batidas e misturá-las aos nossos ritmos e assim criar uma nova música. “Pegamos o nosso carimbó, o nosso batuque, marabaixo e misturamos com uma batida eletrônica, já é um produto novo. Isso é muito natural aqui, não precisa nem se esforçar muito para fazer uma música fusion. Tenho certeza que nesse momento tem um moleque lá na Cidade Nova, por exemplo, criando uma parada no computador dele, que chama de rock doido ou de qualquer outro nome, mas é algo muito criativo, o que é inerente à nossa personalidade”, explicou.

Ele diz que as ocupações no Rio de Janeiro e em São Paulo são uma busca por mais visibilidade ao trabalho, mas que “o artista sempre busca voltar para casa”. “Para mim é muito importante, porque é o começo de uma volta, acho que daqui a dois anos me restabeleço aqui [no Pará] definitivamente”, declarou o músico, que promete ações por aqui também a partir de maio.

“A ocupação é o começo de uma movimentação grande que pretendo fazer aqui, para a gente discutir as coisas, políticas culturais, mas acho que as nuances culturais de um povo não podem ser discutidas por uma doutrina de um partido só. Tem que ser suprapartidário, pois é só assim que a gente vai conseguir estabelecer uma cultura forte capaz de gerar emprego e renda, que é o que busco”, destacou ele.

No Rio, a ocupação será no Kingston Club, dia 11, seguida por São Paulo, no dia 17 na Casa de Francisca. Além do workshop “Guitarras Amazônicas, Produção musical e Home Studio”, Manoel apresentará o manifesto “Música Popular Brasileira Feita na Amazônia”. Será exibido o documentário “Luz do Mundo”, de San Marcelo e Cícero Pedrosa, e ainda a exposição “Um Norte Musical”, com fotos, vídeos, instrumentos e objetos que contam a história do artista.

Ao final dos dois dias de ocupação no Rio e em São Paulo, Manoel comanda um show com artistas convidados, como o cantor e guitarrista Davi Moraes, os paraenses Felipe Cordeiro, Liah Soares, Évila Moreira, Sandra Duailibe e Silvan Galvão.

A banda Sonora Amazônia, especialmente montada para a ocasião, será formada pelo próprio artista na guitarra solo, Kassin (contrabaixo), Arturo Cussen (guitarra base), Thomas Harres (bateria), Valério (percussão) e Antônio Neves de Moraes (metais).

Apesar de ser conhecido pela sonoridade da sua guitarra potente, foi com o violão que o artista deu seus primeiros passos na música, com apenas 10 anos de idade, quando ainda morava em Macapá, no Amapá.
Apesar de ser conhecido pela sonoridade da sua guitarra potente, foi com o violão que o artista deu seus primeiros passos na música, com apenas 10 anos de idade, quando ainda morava em Macapá, no Amapá. Foto celso Rodrigues/ Diário do Pará.

Manoel acredita que a música amazônica vem influenciando artistas em todo o Brasil, principalmente o carimbó e a guitarrada. “Não com esse nome. Por exemplo, fui gravar um disco, a pessoa perguntou se eu estava tocando axé. Disse, ‘não, estou tocando carimbó’. Mas é porque tem muita coisa do carimbó disseminada na música já. Grandes músicos, como Davi Moraes, gravamos uma guitarrada juntos quando o Moraes [Moreira, pai de Davi] era vivo, e ele se interessou muito pelo lance. O Kassin é um músico interessado na música da Amazônia. Daqui a pouco a gente vai estar ouvindo normalmente a música popular brasileira da Amazônia num repertório nacional”, disse ele.

WARILOU

Entre os projetos do artista, está também fazer a releitura do repertório do Warilou, banda formada por ele, que assina muitas das composições da banda. “Acho o repertório muito bom e que pode ser revisitado, atualizado para uma linguagem mais jovem, para alcançar o público atual. No momento que você escuta um ‘Volare’ e ‘Luz do mundo’, tem a sonoridade daquele tempo, mas acho que podemos propor com as ferramentas musicais artísticas vigentes, uma nova leitura com cantores jovens, que comuniquem mais com a juventude”, defende Manoel, contando que começou na música sendo influenciado.

“Quando comecei a tocar violão, comecei pelas valsas antigas do Dilermando Reis, depois pela a Bossa Nova, por Tom Jobim, João Gilberto e outros”. Atualmente, Manoel diz ouvir de tudo: de Germano Reis à Bossa Nova, Santana, Beatles a Gipsy Kings, som cigano pelo qual se apaixonou. “Inclusive imprimi bastante essa personalidade no segundo disco do Warilou, aloprei pra cima da música flamenca, porque tinha assistido a um show do Gipsy no Rio e voltei para o estúdio com ideia de fazer. Então, a minha influência toda é sempre atual, mas o meu ponto de apoio sempre é o choro, porque meu pai me ensinou a tocar bandolim. É genial para o músico, ele tem melodia, ritmo, criatividade. É a música mais rica do Brasil. Acho que o choro devia ter esse capítulo à parte, a escola da música brasileira está no choro. Mistura com nossos ritmos aqui, aí é a universalidade. O [mestre] Vieira veio dessa mistura, ele tocava choro no bandolim, no cavaquinho, aí começou a tocar isso na guitarra, inventou a guitarrada”, finalizou ele.