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"Amor da minha vida" Audiovisual nacional aposta em uma pitada de romance

Audiovisual brasileiro busca o tom da comédia romântica e aposta em lançamentos do gênero nos cinemas e streaming

Divulgação
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Amar e rir são verbos que têm dado as mãos – e otras cositas más – no escurinho dos cinemas brasileiros. A relação é aberta: basta olhar a programação de filmes em circuito nas salas, além do calendário de estreias e longas-metragens nacionais em produção, para tirar uma casquinha dessa união que arranca “ownnns” e “ha-ha-has” do público. Filão que passa por uma significativa renovação, como apontam realizadores ouvidos pela reportagem, comédias românticas têm feito a cabeça de um número crescente de cineastas no país.

Os exemplos não se restringem às telonas. No streaming, o fenômeno também ganha tração na esteira do sucesso mundial, sobretudo no Brasil, de novelas turcas e folhetins sul-coreanos, os chamados “doramas”, todos com tramas ancoradas em “romances iôiôs” – que vão e voltam com frequência -, embebidos por trapalhadas cheias de graça e encontros em circunstâncias incomuns.

“O que não falta é demanda de público por esse tipo de narrativa. Afinal, o amor está sempre no ar… E ele se atualiza constantemente, né? A partir disso, dá para fazer novos enquadramentos do tema”, avalia Cris D’Amato, diretora responsável por representantes bem-sucedidos do gênero como a franquia “S.O.S Mulheres ao mar” (2014 e 2015), estrelada por Giovanna Antonelli e Reynaldo Gianecchini, e “Viva a vida” (2025), em cartaz recentemente nos cinemas e no qual os atores Thati Lopes e Rodrigo Simas interpretam dois familiares distantes que descobrem o amor durante uma improvável viagem a Israel.

As abordagens sobre o amor estão, de fato, mais amplas no audiovisual nacional – e não necessariamente marcadas pela expansividade escrachada de títulos consagrados como arrasa-quarteirões, como “Se eu fosse você” (2006) e “De pernas pro ar” (2010), ou pelo clima de contos de fadas de clássicos americanos. Os exemplares mais recentes de comédias românticas brasileiras se desvencilham do tom exagerado ou fantasioso para pôr a lupa sobre problemas reais de gente que, sim, poderia estar andando logo ali na calçada ao lado.

É o caso de “O dia que te conheci” (2024), do diretor mineiro André Novais Oliveira. O longa protagonizado por Grace Passô e Renato Novaes, disponível no Globoplay, furou a bolha do cinema independente – e conquistou o mesmo número de indicações do hit “Ainda estou aqui” (2024) na última edição do Prêmio APCA – com um romance singelo, simples, corriqueiro. Em cena, um bibliotecário às voltas com antidepressivos, e que enfrenta dificuldades para acordar cedo e tomar o ônibus no horário certo, se envolve com uma colega após ser demitido. A história é essa, sem firulas.

Figuras semelhantes – que madrugam e cortam um dobrado para pagar os boletos da vida – estão igualmente no centro da trama de “Confia: sonho de cria”, produção do Globoplay lançada diretamente no streaming. O longa dirigido por Fabio Rodrigo foi gestado nos bastidores da novela “Vai na fé” (2023) pelas mãos dos roteiristas Renata Sofia, Pedro Alvarenga e Fabricio Santiago. À época, diante do sucesso do personagem interpretado por MC Cabelinho no folhetim, o trio idealizou um filme – especialmente para o artista – sobre um jovem entregador de uma lanchonete, morador do complexo de favelas Cantagalo-Pavão-Pavãozinho, no Rio, que se enamora por uma moça (interpretada por Malía) enquanto sonha se tornar um cantor de trap. Detalhe: qualquer semelhança com a trajetória de MC Cabelinho, nascido e criado na mesma comunidade carioca, não é mera coincidência.

“Há um recorte social ali, mas as questões trabalhadas no filme são universais”, afirma Pedro Alvarenga. “A comédia romântica ainda é vista como um gênero comercial, como se não tivesse em seu DNA a crítica social dos costumes e não tratasse de anseios humanos tanto quanto o drama, o que é um erro”.

Sob outra perspectiva, “Amor da minha vida” – maior estreia de uma série nacional na plataforma Disney+ em 2024 – segue mais ou menos a mesma cartilha. A produção de dez episódios aposta em complexidades de relacionamentos entre jovens de classe média, tendo como trunfo a popularidade de Bruna Marquezine, que faz par com Sérgio Malheiros. O roteirista e diretor Matheus Souza já planeja outras obras do gênero com a atriz.

Gostaria de ver ainda mais comédias românticas no Brasil. Acho que o melhor campo de aprendizado do cinema é dentro desse gênero. Não são filmes caros de produzir e podem cativar um grande público”, ressalta Matheus, nome por trás de “Apenas o fim” (2008), “Ana e Vitória” (2018), “Eduardo e Mônica” e o inédito “Cinco Júlias” (previsto para este ano), que tem a influenciadora digital Jade Picon entre as protagonistas.

“Pretendo seguir nesse caminho enquanto continuar inspirado e sentindo que consigo contar alguma história que gere identificação e que melhore o dia de quem está assistindo. No fundo, a beleza da comédia romântica está nisso. São filmes que funcionam como um abraço. E todo mundo precisa de um abraço de vez em quando”, diz.

Fonte: AGÊNCIA O GLOBO