DIÁRIO NA EUROPA

A fortaleza que resguarda os mistérios do Porto

Explore o Porto e suas raízes históricas. Conheça a rica arquitetura e gastronomia que cativam moradores e visitantes.
Explore o Porto e suas raízes históricas. Conheça a rica arquitetura e gastronomia que cativam moradores e visitantes.

Por: Sérgio Augusto do Nascimento

O portuense é um povo que valoriza seu passado e suas raízes. Quer conquistar um? Basta elogiar os feitos históricos, a gastronomia ou arquitetura e meio caminho estará andado para “ganhar” a simpatia de um morador raiz da “Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta” cidade do Porto.

Dentre tantas peculiaridades, uma que muito impressiona quem aqui chega é a conservação do patrimônio histórico.

Sim, há casas de muitos séculos na cidade. Não estão intactas; afinal são centenas de anos a aguentar as intempéries do tempo.E, já que estamos aqui, vamos visitar a mais antiga delas, no centro histórico.

Tem até nome e sobrenome: Torre da Rua de Baixo. Não se sabe exatamente o ano em que foi construída, mas há uma certeza: o imóvel tem entre……..700 e 800 anos.

Sabe o que isto significa? Que Pedro Álvares Cabral, Vasco da Gama, Cristóvão Colombo e Fernão de Magalhães, os navegadores que ajudaram reescrever o mapa-mundi, só viriam ao mundo pelo menos um século após esta casa já estar de pé e habitada.

O acesso não é difícil, mas também não é dos mais fáceis. É preciso entrar em um labirinto onde pode-se encontrar verdadeiras relíquias medievais, em formato de outras casas e escadarias também seculares.

Quem se aproxima da Rua de Baixo, após desbravar a Rua dos Mercadores, tem a certeza que está entrando em uma espécie de máquina e viajando no tempo.

É impressionante o aspecto estreito da via, cercada de pedras, pedras e mais pedras.

Afinal falamos da uma época em que o cimento, como hoje o conhecemos, e outras substâncias usadas na construção de moradias, ainda não havia sido inventado.

Abro aqui um parêntese para um conselho de amigo: é mais prudente o visitante que vai à Torre da Rua de Baixo descer em direção à Ribeira, quando vem da Sé do Porto ou da estação ferroviária de São Bento, por exemplo.

Quem se aventura a subir tem, obrigatoriamente, que estar com as panturrilhas e o preparo físico em dia. Do contrário, é melhor nem arriscar.

Para quem sobe, a ladeira dá a impressão que nunca acaba e parece uma Torre de Babel a caminho do céu, também por causa dos muitos idiomas de turistas que ali circulam diariamente…

Mas somos bravos (como nossos antepassados, que desde a época dos romanos pelas mesmas ruas caminharam) e estamos vivos. Chegamos à casa mais antiga do Porto.

Não sei se tô tendo um déjà vu ou coisa parecida, mas aquele clima me fez ter a impressão de que a qualquer momento um cavaleiro dentro de uma armadura iria surgir em uma daquelas esquinas à procura de algum manuscrito do Código Da Vinci (o lugar fica soturno em alguns momentos e, acreditem, a sensação é essa mesmo).

E cá já estamos diante da Torre de Baixo. É pedra sobre pedra e muita história. Que segredos estas paredes não guardarão desta cidade tão cheia de encantos?

Se falassem estas paredes, muitas figuras históricas teriam que recontar o que realmente viveram e de que forma viveram…

Não tenho certeza se a porta é original, mas o trinco de ferro (que na época era a campainha) parece daqueles castelos que vemos nos filmes. Olha-se para cima e o queixo cai. A fachada é muito imponente.

E então imaginamos como levantaram aquela casa em uma rua tão estreita e em uma época em que a tecnologia era quase nenhuma? Talvez tenham os egípcios a resposta.

O dia tava ensolarado mas, vez por outra, uma nuvem pairava bem em cima e escurecia a Rua de Baixo.

O vento soprava e ao longe vozes se cruzavam. Dez segundos depois, silêncio total.

É incrível estar nos lugares em que a história ganhou corpo e vida, aconteceu e chegou até nossos dias.

Da Idade Média à Inteligência Artificial, qual será o próximo passo desta aventura chamada vida?

*Sérgio Augusto do Nascimento é um jornalista paraense que vive em Portugal. Foi repórter e editor e hoje é correspondente do DIÁRIO na Europa.