
Após quatro décadas, o Bloco Guarda-Chuva Achado está de volta às ruas de Belém. Saudosos das marchinhas de carnaval de época, os foliões terão a oportunidade de dançar e se divertir ao som da Charanga do grupo Os Cobras, do Mestre Palheta. O baile popular será neste domingo, 16, a partir das 15h, na Praça do Carmo, na Cidade Velha.
O bloco reunia artistas, fotógrafos, músicos e jornalistas. Tonico, Ana Catarina, Januário Guedes e Celso Luan, que integraram a primeira formação e a fundação original do bloco, estarão presentes na folia deste domingo. “A ideia desse evento é resgatar a memória do Carnaval. Foi a primeira manifestação carnavalesca na Cidade Velha, em Belém”, afirma Cássio Lobato, um dos fundadores do bloco.
Depois de inscrito no edital da Lei Aldir Blanc, o projeto foi aprovado e habilitado. “Nós nos adequamos à realidade das legislações, em proteger o patrimônio histórico. Então, o volume de som é apropriado ao local porque não pode extrapolar o limite permitido para a área, que é de preservação do patrimônio histórico. A gente aproveita pra convidar todo mundo que queira vivenciar uma experiência bacana de carnaval, relembrar e pegar sua fantasia, sua alegria, sua folia, e vir junto pra gente curtir na Praça do Carmo”, convida Cássio.
O organizador diz que o Bloco Guarda-Chuva Achado começou com uma brincadeira espontânea em uma conversa de bar entre amigos, com uma banda de menor porte, que na época contava com um atabaque, um violão, um bandolim, além de um instrumento que era tocado com a mão. Com o tempo, surgiu um tambor grande, mais uma caixa e os músicos aparecendo naturalmente.
A festa vai ser animada por uma charanga de marchinhas tradicionais com músicas tradicionais do Carnaval com a banda Os Cobras. “Eles são maravilhosos e vão se apresentar com os seus oito músicos fazendo as grandes marchinhas. Isso vai ser tudo instrumental, porque é uma adequação, nós primamos por não colocar equipamentos sonoros de grandes proporções. O povo das marchinhas vai cantar, soltar a voz, vai ser tudo acústico bem aos moldes do carnaval de rua, com mascarados e pintados. Eram os blocos de sujo, como chamavam antigamente”.
Sem restrição. Essa é a ideia do Guarda-chuva Achado, que era grafado com ‘x’ para enfrentar todo o preconceito, diz Cássio. “As bandeiras do Guarda-Chuva Achado e antes, a gente escrevia com ‘x’ porque era um bloco anárquico, construtivo, antifascista, antirracista, anti tudo quanto ao tipo de preconceito. É um bloco libertário, político, obviamente, mas tudo muito light, muito alegre, muito da paz”, comenta Lobato.
O músico completa, dizendo que há anos pensava em trazer o bloco às ruas. “Mesmo ele sendo deixado de estar na Praça do Carmo, as pessoas continuaram indo para lá e pedindo para o bloco voltar. Mas para isso acontecer, requer recursos. Embora o primeiro tenha surgido na década de 1980 espontaneamente, no decorrer do tempo, precisou-se gastar algum recurso para mantê-lo. Então, com a oportunidade da Lei Aldir Blanc, conseguimos viabilidade”, conta ele, que foi incentivado pelo amigo, músico e produtor cultural Bruno Benítez a inscrever o projeto.
ORIGEM
“O secretário municipal de Educação e Cultura na época era o João de Jesus Paes Loureiro. E a prefeitura, através da Secretaria de Municipal de Educação e Cultura, promovia uns eventos na praça chamada as Serenatas de Carmo, ou Seresta de Carmo, como muitas pessoas diziam. E um grupo de amigos que estavam lá, o Tonico, que foi o achador do guarda-chuva, olhou e viu um guarda-chuva abandonado na praça, e pegou esse guarda-chuva, e então eles foram para um barzinho, abriram guarda-chuva, começaram a cantar músicas, a brincar. E foi quase unânime, assim, criamos um bloco de carnaval, de forma muito espontânea”, diz ele relatando que tudo começou com 13 a 15 pessoas no primeiro ano e passou a compor cerca de 500 pessoas.
Ele conta, com nostalgia, que já havia preocupações dos brincantes quanto ao patrimônio. “A gente parava em frente aos casarões que estavam em ruínas e pedíamos pela restauração deles. E um deles é o Palacete Pinho, por exemplo, a gente parava em frente ao Palacete Antônio Lemos e outros casarões antigos da Cidade Velha pedindo o restauro”.
Blocos para todos os gostos
E não é só o Bloco Guarda-Chuva Achado que estará animando o pré-carnaval da cidade. Do afoxé às marchinhas de carnaval, é assim que, em Belém, a folia de Momo oferece diversas opções de diversão. O “Tios Elétricos”, por exemplo, é um show que reúne artistas como Pedrinho Cavalléro numa brincadeira com a idade dos integrantes da banda e os trios elétricos. O show ocorre na próxima sexta-feira, 21, às 21h30, na Cervejaria Cabôca. Também por lá, no dia 1º de março, será a vez da cantora Alba Mariah celebrar Gal Costa com o Bloco do Prazer, a partir das 18h.
Ainda sobre os “Tios elétricos”, Cavalléro explica que é uma brincadeira com a idade tanto dos integrantes da banda quanto a do público, que é principalmente da terceira idade. “O bloco tem uns oito anos desde que ressurgiu em 2017/2018. A gente vinha fazendo aquele ‘carnaval dos carnavais’, que é um baile em uma volta ao tempo, através das canções antigas de carnaval, as marchinhas e onde as famílias iam, jogavam confete, serpentina e o lança perfume. Essa era a proposta, até que entre os anos de 2017 ou 2018, começamos a fazer o ‘Tios Elétricos’ e esse nome ganhou força e assim ficou”, explica Cavalléro, que canta ao lado de outros quatro músicos: Bob Freitas, que além de diretor musical, toca guitarra e pedaleira; Edivaldo Cavalcante, na bateria; Mário Jorge, no contrabaixo; e Davi Amorim, na guitarra.
Além das marchinhas inesquecíveis, o repertório conta com outros gêneros musicais. “Tem carimbó, brega e clássicos da música brasileira, tocadas em ritmo de marchinhas, como Carinhoso e músicas do Tim Maia, feitas em ritmo de carnaval. A nossa proposta é curtir, nós, os tios, e reunir as famílias. A gente já tem um público fiel que curtem os nossos shows. Tem pessoas que vão curtir de todas as maneiras, por exemplo, um deles, é um senhor de 90 anos que estava de andador, levantando os dois dedinhos”, comenta Cavalléro sobre um dos momentos icônicos de seu show.
SALVE, MALANDRAGEM!
Dois dias depois dos Tios Elétricos, tem o “Salve Malandrangem”, dia 23 deste mês, a partir das 15h, com concentração no Beco do Carmo com destino ao Palmeiraço. Após o cortejo, algumas das atrações são Fé no Batuque e Os Falsos do Carimbó. A programação celebra a cultura de matriz africana, assim como o Samba da Feira e o Fé no Batuque. “A cultura do samba está muito ligada à figura do malandro, então é importante desmistificar essas figuras que muitas vezes são marginalizadas e alvos de intolerância religiosa. A gente apoia um bloco que tem essa pegada da valorização da figura do malandro e do samba, enquanto representatividade da nossa cultura ancestral e religiosa, misturando o sagrado e o profano”, diz a DJ Jack Sainha, que também toca no evento.
A artista comenta que enquanto atração do evento, apresentará um set baseado em sua pesquisa sobre sambas relacionados ao seu Zé Pelintra, figura da Umbanda. “Tenho ainda outra pesquisa, em outro set, que chama ‘Macumbaria’, incluindo música brasileira que tem essa temática, que fala de alguma figura de religião de matriz africana. Então, nesses eventos, eu sempre tenho presente esses dois sets. E claro que também vai ter hits de carnaval e paraenses”, comenta Sainha, acrescentando que tem ijexá e afoxé também nesta programação.
Folia do momo
l Bloco Guarda-Chuva Achado
Quando: 16/02 (domingo), das 15h às 18h.
Onde: Praça do Carmo – Cidade Velha.
Quanto: Gratuito.
l Bloco Os Irrecuperáveis
Quando: 23/02 (domingo).
Onde: Bar do Mário ( Rua dos Pariquis, 1556).
l Tios Elétricos: A noite dos Mascarados
Quando: 21/02 (sexta-feira), às 21h30.
Onde: Cervejaria Cabôca (Boulevard Castilhos França, 550).
Quanto: R$40
Mais informações: (91) 98276-8136/(91)99168-8158.
lSalve Malandrangem: o Bloco
Atrações: Fé no Batuque; Os Falsos do Carimbó. Participações: Brenda Moraes, Odara Axé, Olívia Melo. Banda Cortejo: Acorda Pedreira+DJ Jack Sainha- Seu Edvaldo.
Quando: 23/02 (domingo); das 15h às 18h.
Onde: Beco do Carmo (concentração); Palmeiraço (destino do cortejo).
Quanto: R$50+1 kg de alimento (abadá-2°lote).
Mais informações: (91) 98450-8420/ (91) 98124-1363/ (91)98867-6141/(91) 991413525.
l Bloco do Prazer
Atrações: Alba Mariah
Quando: 1º/03, às 18h.
Onde: Cervejaria Cabôca (Boulevard Castilhos França, 550, Campina)
Quanto:R$ 100
Informações: (91)98198-0981