LUTO

Raymundo Mário Sobral: O adeus ao mais papa-chibé dos comendadores

Raymundo Mário Sobral, decano do jornalismo paraense, faleceu aos 86 anos. Conheça sua trajetória e conquistas.

Raymundo Mário Sobral, decano do jornalismo paraense, faleceu aos 86 anos. Conheça sua trajetória e conquistas.
Raymundo Mário Sobral, decano do jornalismo paraense, faleceu aos 86 anos. Conheça sua trajetória e conquistas.

Decano do jornalismo paraense, Raymundo Mário Sobral morreu na noite desta quarta-feira em Belém, aos 86 anos de idade, no Hospital Adventista de Belém, onde estava internado no Centro de Terapia Intensiva (CTI) por conta de um quadro de hipotensão. Autor da coluna “Jornaleco”, publicada pelo DIÁRIO às quartas e sábados no caderno Você já há décadas, o “Comendador da Ordem do Macaco Torrado”, como ele mesmo se intitulava, enfrentava um agravamento de seu estado de saúde desde dezembro último, quando chegou a ficar 35 dias internado por conta de uma infecção pulmonar.

O escritor teve 13 livros publicados, dentre eles o “Dicionário Papa Chibé”, publicação atualmente na sexta edição e que foi criada para preservar palavras e expressões locais, garantindo que não desapareçam e que permaneçam registradas para aqueles que desejam descobrir seu real significado.

Imortal da Academia Paraense de Letras (APL) desde 2022, ocupando o assento número 4, Sobral passou a contar com o apoio de uma cadeira de rodas depois de um acidente vascular cerebral (AVC) sofrido em 2013. Porém, a condição não lhe afastou do ofício apaixonado da escrita – inclusive sua última coluna publicada pelo jornal, de 15 de janeiro, ele enviou do hospital mesmo.

Filho de Mário Alves Sobral e Lucy Pimental Sobral, estudou e concluiu seus estudos no Colégio Nazaré. Pouco depois, casou-se com Léa Sobral, sua companheira por toda a vids. Em 1979, o escritor fundou o tablóide PQP – Um Jornal pra Quem Pode. Seus escritos têm caráter humorístico e tem como base o falar típico do paraense como forma de comunicação. Em 1987, foi tema da escola de samba Quem São Eles, com enredo “O Escambau Ilustrado do Comendador”.

OBRA

Sobral contava que sua obra mais conhecida demorou cerca de dez anos para ser feita, e foi baseada em suas vivências de infância, quando no convívio com uma tia e sua avó, começou a perceber essa linguagem diferenciada e se interessar por ela. Após muita pesquisa, inclusive com escritores consagrados da região, como nos livros do romancista Dalcídio Jurandir, o projeto foi se desenvolvendo e se transformou em um dicionário paraense.

“Desde quando eu era moleque, eu morava com a minha tia e minha avó, e elas falavam muitas palavras que eu ficava ouvindo. Além disso, fiz muitas pesquisas de escritores paraenses que usavam esses termos e expressões do Pará”, contou o “comendador”, em entrevista de agosto do ano passado concedida ao repórter Lucas Contente, do DOL.

À repórter Wal Sarges, do DIÁRIO, Raymundo Mário Sobral relatou em entrevista concedida em 2024 que desde a primeira edição do “Dicionário Papachibé”, surgiu um boato que ele era um filólogo ou dicionarista, mas ele acreditava não ser uma coisa nem outra.

“Eu sou, na verdade, um socorrista da palavra, que como tudo nessa vida, tem aquele determinismo histórico. Ela nasce, vive e morre. A palavra ‘bronca’, por exemplo, ou qualquer outra gíria, depois de muito tempo sendo usada, após uns cinco anos, quem usá-la fica sendo taxado como um cara que já é velho, um coroa. Então, eu entro aí como socorrista da palavra, porque ao colocá-las no dicionário, elas são perenizadas no livro mesmo que o pessoal não a use mais”, explicou à ocasião.

Seu lançamento mais recente é do ano passado, a autobiografia “Minha Vida nem Freud explica”. A obra contava desde seu nascimento, passando por sua adolescência, contando casos curiosos, inclusive sua primeira experiência sexual.

“São os casos mais interessantes e pitorescos que aconteceram ao longo da minha vida, contado na primeira pessoa. Uma vez estava em Mosqueiro e estava em uma canoa ancorada perto da praia e num lugar raso, eu pulava e voltava à superfície rapidamente. Uma das vezes, não prestei atenção que a canoa estava muito afastada da margem e eu pulei e não consegui bater no fundo e para voltar à superfície foi uma luta, pensei que ia morrer, estava muito fundo. Outra coisa é o conto ‘debut sexual’, que eu conto a primeira vez de um homem com uma mulher, foi a minha primeira vez”, relatou ele, na mesma entrevista.