![Descubra a polêmica declaração de Donald Trump sobre o controle da Faixa de Gaza após a guerra entre Israel e o Hamas. Descubra a polêmica declaração de Donald Trump sobre o controle da Faixa de Gaza após a guerra entre Israel e o Hamas.](https://diariodopara.com.br/wp-content/uploads/2023/10/capturadepantallagooglemapsbr-1024x576.png)
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou na terça-feira (4) que seu país assumirá o controle da Faixa de Gaza após o fim da guerra entre Israel e o Hamas. A declaração, imediatamente rejeitada por boa parte da comunidade internacional, surpreendeu mesmo quem já está acostumado ao comportamento errático do americano.
Afinal, o presidente recém-empossado passou seu primeiro mandato buscando diminuir o engajamento internacional americano pelo mundo. Suas falas sobre a necessidade de encerrar a Guerra da Ucrânia e seu lema “America First” pareciam apontar para uma reedição dessa estratégia.
Além disso, os EUA ajudaram a mediar os tratados que buscavam justamente encerrar a disputa de árabes e israelenses pelas terras -os Acordos de Oslo, de 1993. O plano, que jamais se concretizou, determinava que Gaza, assim como a Cisjordânia, deveria fazer parte de um futuro Estado da Palestina.
Entenda, abaixo, o que é a Faixa de Gaza e quem disputa seu controle.
O QUE É A FAIXA DE GAZA?
A Faixa de Gaza é um território localizado na costa leste do Mediterrâneo, entre o Egito e Israel. Sua área é de 365 km², o equivalente a um quarto da cidade de São Paulo.
A faixa pertencia desde o século 16 ao Império Otomano, desintegrado em 1922, após a Primeira Guerra Mundial. Ela então passou a ser controlada pelo Reino Unido, e assim seguiu por aproximadamente duas décadas.
Com a criação do Estado de Israel, em 1948, e as guerras que a sucederam, Gaza passou a estar continuamente sob disputa, e seu domínio oscilou entre Egito e Israel ao longo da segunda metade do século 20.
Os Acordos de Oslo, firmados entre israelenses e palestinos em 1993, determinaram que a faixa deveria integrar o futuro Estado da Palestina, o que nunca aconteceu.
QUANTAS PESSOAS VIVEM LÁ?
Antes da guerra Israel-Hamas, Gaza abrigava cerca de 2,2 milhões de habitantes. Isso fazia da faixa um dos locais mais densamente povoados do mundo, com cerca de 6.000 pessoas por quilômetro quadrado.
Não se sabe com certeza quantos desses palestinos morreram no conflito. Autoridades de saúde do território, que são ligadas ao Hamas e não diferenciam combatentes de civis, calculam mais de 47 mil mortes -um estudo recente sugeriu que essa cifra pode ser 40% maior.
Israel, que perdeu cerca de 1.200 cidadãos no ataque do Hamas que deu início à guerra, contesta a estimativa fornecida pelo grupo terrorista.
QUEM SÃO ELAS?
Árabes palestinos, 66% dos quais chegaram a Gaza após fugirem ou serem expulsos do território que hoje compreende Israel devido à guerra que sucedeu a criação do Estado, em 1948. A maioria deles é muçulmana sunita. A faixa também abriga cristãos, mas eles representam menos de 1% da população.
Dados demográficos do PCBS (Escritório Central de Estatísticas Palestino) ajudam a delinear o perfil desses palestinos antes da guerra Israel-Hamas. Eles eram jovens: 68% da população tinha menos de 30 anos, sendo que 47% era menor de idade. Só 3% tinham 65 anos ou mais.
Além disso, mesmo antes do conflito, o território era marcado pela miséria. Sua taxa de pobreza era de 53% em 2017, e a de desemprego, de 45% em 2020. Cerca de 80% dos habitantes dependiam de assistência humanitária, segundo a ONU.
Como esperado, a guerra só agravou essa situação, e um relatório do Banco Mundial de maio de 2024 afirma que o PIB per capita nominal no território diminuiu em 28% de outubro de 2022 para o mesmo mês de 2023. A fome é generalizada, e ainda de acordo com o documento, um em cada quatro habitantes sofrem com insegurança alimentar aguda.
QUEM DISPUTA O CONTROLE DE GAZA?
Árabes e israelenses lutam pelo controle de Gaza muito antes de Trump entrar na disputa.
O mais próximo que houve de um entendimento entre essas partes foram os Acordos de Oslo, firmados em 1993. Eles determinavam que Gaza e Cisjordânia deveriam formar um Estado da Palestina no futuro, e estabeleciam um cronograma inicial para isso.
Também criavam uma entidade de autogovernança responsável por administrar os territórios palestinos, a Autoridade Nacional Palestina (ANP), durante a transição de poder.
Diferentemente do que ocorreu na Cisjordânia, local em que Israel aumentou a sua presença ao longo dos anos, o Estado judeu se retirou de Gaza. Esse processo, marcado por idas e vindas, foi de 1994 a 2005 quando ele enfim entregou o território à ANP.
Em 2007, a ANP perdeu o controle de Gaza para o grupo terrorista Hamas.
O destino da faixa após a guerra Israel-Hamas também já era incerto muito antes das falas de Trump. A ultradireita israelense defende uma ocupação de Gaza nos moldes do que o Estado judeu já faz na Cisjordânia.
QUAL É A SITUAÇÃO ATUAL DA FAIXA?
Um relatório preliminar do Centro de Satélites da ONU, Unosat, produzido com base em imagens do território e publicado em dezembro passado estima que 69% de todas as estruturas em Gaza, ou 245 mil unidades habitacionais, foram parcial ou totalmente destruídas.
As cidades mais impactadas foram Rafah, no sul (3.054 unidades habitacionais destruídas) e Jabalia (1.339).
QUANTOS PALESTINOS SERIAM DESLOCADOS PELO PLANO DE TRUMP?
Antes de afirmar que os EUA deveriam controlar Gaza, Trump sugeriu que os palestinos que restaram no local pós-guerra deveriam se mudar para países árabes nas cercanias, a fim de, nas palavras dele, “limpar a coisa toda”.
Seu projeto de criar na faixa a “Riviera do Oriente Médio” aparentemente se baseia na mesma estratégia, o que levaria ao deslocamento forçado de cerca de 2 milhões de palestinos de Gaza.
Estes deveriam se juntar aos cerca de 3,5 milhões de refugiados palestinos que, segundo registros da agência da ONU para o tema, a UNRWA, vivem na Jordânia (2,4 milhões), Líbano (493 mil) e Síria (588 mil).
Outros 900 mil refugiados palestinos vivem na Cisjordânia ocupada.
A diáspora palestina que sucedeu a independência de Israel -chamada de Nakba, catástrofe em árabe- envolveu o deslocamento forçado de cerca de 700 mil palestinos.
CLARA BALBI/SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)