“Foi uma experiência extraordinária, porque saio de Soure, cidade da Ilha do Marajó, para um evento promovido pelo Instituto Royal de Artes Tradicionais, que este ano estava prestigiando o Brasil”. Assim o artista visual marajoara Ronaldo Guedes descreve sua participação no evento “Conexão – Confluências da Cultura Saudita e Brasileira”, na cidade de Riyad, capital da Arábia Saudita.
De acordo com Guedes, foi apresentado um painel amplo. “Lá estavam uma exposição da arte brasileira, não só da arte visual, como a arte indígena também, uma companhia de dança, e eu estava representando a cerâmica marajoara”, conta.
O encontro ocorreu entre os dias 30 de janeiro e 1º de fevereiro, no Centro Cultural King Fahad, e foi promovido pelo Instituto Royal de Artes Tradicionais do país asiático.
“Quando a pessoas olhavam o totem e as cerâmicas, diziam: ‘Brasil, Brasil’! E admiravam, prestigiavam. Isso é algo muito poderoso e importante, porque eles têm lá a sua cultura, riqueza, petróleo. E nós também temos a nossa riqueza aqui, que é a nossa cultura, arte. É algo precioso, porque a cerâmica marajoara é referência da ancestralidade brasileira. O povo desenvolveu uma das cerâmicas mais importantes das Américas”, disse Ronaldo.
O artista destaca que, ao participar do evento, leva a nossa ancestralidade para um outro lugar.
“E isso abre as fronteiras, abre comunicações entre os povos, e me deixa mais convicto que estamos no caminho certo. E que meu trabalho está no caminho certo, que é fortalecer a nossa identidade, a nossa arte. Então, que a partir dela podemos nos comunicar com qualquer outra nação. Isso é símbolo de soberania para uma nação, fortalecer e valorizar a sua ancestralidade, história e cultura”, destacou ele.
A proposta do evento é celebrar a herança tradicional, além de promover um intercâmbio artístico entre a Arábia Saudita e o país homenageado. Nesta segunda edição, no caso, o Brasil.
A programação incluiu performances de dança e música, assim como a construção de uma obra colaborativa, denominada “Harmony”. A experiência teve o objetivo de simbolizar a unidade entre as culturas das duas nações. Além disso, houve diversas ativações culturais e experiências imersivas, que exploraram aspectos da arte, música, gastronomia, moda têxtil, entre outras formas de expressão de ambos os países.
“Ficava num estande onde estavam a exposição das peças marajoaras e também a confecção das peças, mostrando as técnicas. Então, o que levei realmente era uma técnica: do desenho inciso, da pintura natural, usando os recursos naturais, e isso foi uma coisa que encantou muito eles. Inclusive alguns contatos que fiz lá ficaram impactados com a cerâmica, com o lugar. E disseram que virão em julho para cá para conhecer”, contou Ronaldo Guedes.
Natural de Soure, na Ilha do Marajó, onde vive até hoje, Ronaldo Guedes é ceramista e artista visual. Há muitos anos ele desenvolve um trabalho de pesquisa, manutenção, valorização e difusão da cultura e da cerâmica marajoara dentro do município. Mas além da argila, ele atua com diversos materiais e expressões de arte, como a madeira, esculturas em cimento e materiais de reaproveitamento.
Além do trabalho autoral, também é fundador e idealizador do Atêlie Arte-Mangue Marajó, um coletivo de artistas e ceramistas que há mais de 20 anos atua na difusão da cultura marajoara junto à comunidade. Junto a isso, Ronaldo Guedes é ativista sociocultural, estando envolvido, também, na fundação da Ampac (Associação dos Moradores do Bairro do Pacoval) e do conjunto de carimbó Tambores do Pacoval.
“Como ouvi de algumas pessoas que tive a oportunidade de conversar, a experiência de alguns brasileiros que foram à exposição e os próprios árabes, com relação à arte brasileira, foi que sentiam uma unidade entre os padrões geométricos, a estética com a arte marajoara, brasileira”, destacou.