SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O total de mortes causadas pelo terremoto de magnitude 7,8 que atingiu a Turquia e a Síria ultrapassou os 19 mil nesta quinta-feira (9), cerca de 72 horas após os tremores iniciais.
E a expectativa é que o número cresça -as primeiras horas são consideradas cruciais em catástrofes do tipo, e em ambos os países houve queixas acerca da demora das respostas oficiais ao desastre.
Só na Turquia, o número de óbitos chegou a 16.170 nesta quinta. A cifra indica que o terremoto está a caminho de se tornar o maior na história da nação -o recorde até o momento pertence a um sismo de magnitude 7,4 que deixou mais de 17 mil mortos ao sacudir Izmit, no noroeste, em 1999.
Já na Síria, devastada por quase 12 anos de guerra civil, o total de mortes subiu a 3.277, de acordo com os balanços das autoridades de Damasco e das equipes de resgate nas zonas rebeldes. Destas, 1.930 pessoas estariam em áreas dominadas por dissidentes no noroeste do território.
Ainda há esperança, como indicam vídeos que mostram casos de pessoas resgatadas após passarem mais de três dias soterradas, mas sobreviventes nas regiões mais atingidas reclamam de jamais terem visto sinais de equipes de resgate, além da falta de assistência em geral, enfrentando fome, sede e frio.
Centenas de milhares de pessoas da região estão desabrigadas, e várias acampam em abrigos improvisados em garagens, acostamentos ou mesmo em meio às ruínas. Autoridades turcas afirmam que mais de 6.500 prédios colapsaram no país, e outros incontáveis foram danificados.
O fato de que o tremor se deu na madrugada contribui para piorar a situação, uma vez que vários dos sobreviventes fugiram de suas casas sem roupas adequadas para o frio, alguns sem nem sequer calçarem seus sapatos. Em ambos os países, muitos passaram sua terceira noite ao relento ou dormindo em carros, temendo voltar às suas casas em razão do risco de novos desabamentos.
Ancara afirma que, por ora, parte dos desabrigados foi acolhida em tendas montadas em estádios esportivos e centros de convenções, além de dormitórios universitários e abrigos estatais. Hotéis por todo o território, incluindo resorts à beira dos mares Egeu e Mediterrâneo, também cederam cerca de 10 mil cômodos a sobreviventes, de acordo com a Federação Turca de Hotéis.
Muitos dos sobreviventes aparentam, porém, não querer deixar as áreas atingidas, à espera de notícias sobre entes queridos. Segundo a agência de desastres nacional, Afad, mais de 28 mil pessoas foram recolhidas em pontos de encontro para serem retiradas da área.
Na Síria, a instabilidade política dificulta a chegada de ajuda. Nesta quinta, a ONU enviou seu primeiro comboio para o noroeste do território, controlado por rebeldes contrários ao regime de Bashar al-Assad. Seis caminhões carregados de suprimentos e remédios atravessaram a fronteira turca em direção à região, onde mais de 4 milhões dependiam de doações do exterior mesmo antes dos tremores.
Voluntários dos Capacetes Brancos afirmam, porém, que o socorro da ONU é insuficiente e que equipamentos pesados para operações de busca e resgate ainda são necessários nos locais em que ainda há pessoas soterradas. Assim, socorristas recorrem a ferramentas simples e guindastes antigos.
António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, disse que o chefe de ajuda humanitária do órgão visitará Aleppo e Damasco neste fim de semana para avaliar a situação, além de Gaziantepe, na Turquia.
Ele também rogou por mais vias de acesso à região controlada por rebeldes -mais cedo, o enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, havia pedido ao ditador garantias de que não haveria reprimendas no envio de doações. Quase toda a ajuda humanitária que chega na área hoje vem através da fronteira turca e passa pelo Bab al Hawa, ponto de acesso criado a partir de uma resolução das Nações Unidas e que o ditador considera uma violação da soberania síria.
“Estradas estão danificadas. Pessoas estão morrendo. Agora é a hora de explorar todas as vias possíveis de conseguir introduzir suprimentos e equipes de emergência em todas as áreas afetadas. Precisamos priorizar a população, afirmou Guterres a repórteres em Nova York.
Assad, aliás, chegou a participar de reuniões de emergência acerca do terremoto, mas até agora não fez nenhum pronunciamento oficial à nação sobre o tema.