COLUNA

Pará e Portugal no Campo da Afetividade

Saiba mais sobre a relação entre o dia 24 de agosto no Pará e a importante data histórica da Revolução Liberal de 1820 em Portugal.

Saiba mais sobre a relação entre o dia 24 de agosto no Pará e a importante data histórica da Revolução Liberal de 1820 em Portugal.
Saiba mais sobre a relação entre o dia 24 de agosto no Pará e a importante data histórica da Revolução Liberal de 1820 em Portugal.

Por Sérgio Augusto do Nascimento

Qual a influência do dia 24 de agosto na vida dos paraenses? À primeira vista, nenhuma. Entretanto, se recuarmos nove dias, chegaremos ao dia 15 de agosto e aí sim: Dia da Adesão do Pará à Independência do Brasil. E o que mais? Bem, na história de Portugal, cujos laços com a cultura paraense são dos mais estreitos, o dia 24 de agosto, especialmente na cidade do Porto, marca a Revolução Liberal de 1820, aquela que pôs fim à monarquia absolutista e que fortaleceria, dois anos depois, a promulgação da primeira Constituição do país.

Além da data histórica, 24 de Agosto é um point dos mais conhecidos por todos os portuenses: é o nome de um logradouro com uma bela praça, onde chafarizes jorram água, localizado na freguesia (bairro) do Bonfim. Por sinal, um dos traços mais marcantes dos portuenses é o orgulho de suas histórias e tradições. Convidar um portuense para um café com torradas, em uma fria tarde de inverno, é o passaporte para ele falar sobre o Campo 24 de Agosto como se tocasse em uma memória afetiva das mais íntimas.

“MIJAVELHAS”
Certamente ele vai começar pelos registros mais antigos, onde o local já pairava na paisagem por volta dos séculos XIV e XV. Isso mesmo: 200 anos antes de Pedro Álvares Cabral chegar ao Brasil, o Campo 24 de Agosto já fazia parte do cotidiano dos portuenses. Havia uma fonte de onde a água jorrava em abundância. A surpresa vem agora: na época tinha um nome pitoresco de Campo de Mijavelhas.

Por que esse nome? Faça essa pergunta e o portuense vai responder com ternura: reza a lenda que “senhouras” maduras que chegavam ao Porto para vender frutas, legumes e pães, e vindas de cidades como Valongo e São Cosme, costumavam, digamos assim “aliviar-se” por ali. Não se sabe se isso é verdade, mas a história ganhou corpo e há 700 anos lá estava o chafariz de Mijavelhas a fluir suas águas…

O local sempre teve importantes funções econômicas na cidade. Além das águas, onde roupas podiam ser lavadas, também tinha muitas árvores, e, já na década de 1830 abrigou uma fábrica de algodão, seda e tecidos, feiras de gado e parque para venda de doces, pães, comes e bebes, ourivarsaria, antiguidades e muitos outros produtos. O nome foi trocado para Campo 24 de Agosto em 1860, para celebrar a Revolução Liberal de 40 anos antes.

A ARCA DE PEDRA DE 500 ANOS
Nos dias de hoje encontramos vestígios impressionantes de uma arca que funcionava para o abastecimento de água da cidade do Porto. Um reservatório que chamava a atenção pela eficiência e distribuía o liquido para a cidade, por volta do século XVI. Construída totalmente em pedra, a arca, apesar do passar dos séculos, está bem conservada.

Foi descoberta quando da construção dos túneis para o metrô do Porto, há pouco mais de duas décadas. Está localizada cerca de 20 metros abaixo do nível das ruas da cidade, no mezanino da estação Campo 24 de Agosto. Nela podemos ver o brasão do Império Português, várias canaletas, por onde a água escoava, além de um poço de seis metros de profundidade.

Essa é uma das muitas histórias que encantam moradores e turistas da “Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta”, Cidade do Porto, bem como os portuenses que hoje vivem em outros pontos do mundo e na nossa morena Belém do Pará.

Sérgio Augusto do Nascimento é um jornalista paraense que vive em Portugal. Foi repórter, editor e hoje é correspondente do DIÁRIO na Europa.