Sean Baker já é um cineasta reconhecido no circuito independente de Hollywood. Ele já fez filmes com repercussão, como “Projeto Flórida” e “Red Rocket” (2021), mas sempre mantendo suas próprias marcas: trabalhar com elencos relativamente desconhecidos, usar uma fotografia mais sóbria e limpa, e a edição ágil, e sempre usando personagens marginalizados pela sociedade. Mesmo quando faz uma comédia dramática, como é o caso de “Anora” (2024), talvez seu trabalho de maior reconhecimento.
Aqui, Baker vai buscar no romantismo de “antigamente” (“Uma Linda Mulher”, “Bonequinha de Luxo”) a inspiração narrativa e estética para construir a história de uma dançarina erótica, Ani (Mikey Madison, que se entrega à personagem de corpo, literalmente, e alma) que vive um romance com o filho mimado de um bilionário russo, mas que irá se tornar conturbado por uma série de razões.
Mesmo assim, Baker tira a proposta do “conto de fadas” da frente e deixa algumas camadas mais complexas da sociedade atual, como a exploração sexual capitalista e a dominação social da riqueza sobre o comportamento humano. Afinal, não há digressões possíveis quando a realidade bate à porta. No caso, os “capangas” da família do playboy e seus pais. Há algumas variáveis narrativas no caminho de Baker, que vão do romance inicial, regado à muita luxúria e ostentação, passando pela comédia na atitude atabalhoada dos personagens diante das situações, até o drama puro e simples do final.
É interessante acompanhar esses altos e baixos a partir do ponto de vista da personagem principal, que deixa transparecer todos os sentimentos, da alegria à preocupação, até chegar na tristeza geral. Palmas para a atuação de Madison, que colecionava participações pequenas em outros filmes apenas e agarra a oportunidade com força. Yura Borisov também faz um trabalho divertido com o capanga que vai se revelando mais sensível que o habitual.
Meu único incômodo, e olha que não sou uma pessoa conservadora, é o mesmo de “A Substância”: a exploração excessiva do corpo da protagonista, e com o peso das muitas cenas de sexo. Mas aí, a questão está em como Madison se sentiu em relação a isso e se foram ultrapassados os limites do respeito com a atriz no set (algo que ocorreu com gravidade em “Azul é a Cor Mais Quente”, diga-se). Mas, isso, só os envolvidos podem dizer. De resto, é um bom filme, com o acréscimo que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e vem forte na disputa para o Oscar 2025. A conferir.
Confira o trailer de Anora: