Em Belém, a entressafra do açaí tem gerado uma temporada amarga tanto para os consumidores quanto para os comerciantes. Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese-PA) apontam que, em dezembro de 2024, o preço do açaí médio foi comercializado a uma média de R$23,98. Atualmente, com o fruto mais difícil de encontrar, os preços já ultrapassam os R$25 por litro em alguns pontos da cidade.
Impacto da Mudança Climática na Safra de Açaí
Segundo Leoclides Andrade, de 67 anos, proprietário de um box na Feira da 25, no bairro do Marco, o problema começa na lavoura. Ele expõe que a safra de 2024 foi especialmente prejudicada pelas mudanças climáticas, reduzindo drasticamente a oferta do açaí das ilhas de Belém. Um paneiro do caroço do açaí, que antes custava menos de R$100, hoje chega a R$130 ou até mais.
“Os açaizeiros sofreram muito com o clima, e isso comprometeu a safra. Agora, estamos dependendo do açaí que vem do Marajó, mas a oferta já está caindo. O preço do caroço aumentou, e somos obrigados a repassar esse custo ao consumidor. Hoje, o litro do açaí médio está R$26 aqui no box”, afirma Leoclides, que em outros períodos comercializava o litro do açaí médio entre R$18 e R$20.
A Instabilidade no Mercado de Açaí
Outro desafio enfrentado pelos comerciantes é a instabilidade no fluxo de vendas. Com a diminuição da oferta, Leoclides precisou reduzir o horário de funcionamento de seu estabelecimento. “Se vendemos tudo até 12h, fechamos mais cedo. Antes, ficávamos aqui até às 17h”, compartilhou.
Em alguns pontos de Belém, como na Avenida Marquês de Herval com a travessa Timbó, no bairro da Pedreira, o litro do açaí médio está sendo vendido por R$25. No mesmo bairro, Heron Rocha, de 56 anos, proprietário de um ponto na feira, destaca que o litro do açaí médio custa R$24. “Agora, na entressafra, o preço do paneiro chega a valores absurdos. Isso encarece o litro e dificulta até para nós que tentamos manter a qualidade”, detalha.
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Aumento de Preços e Baixa Produção no Mercado de Açaí
O aumento no preço do açaí é inevitável, e a tendência é que o valor se mantenha elevado. “Um paneiro de açaí, que antes custava entre R$50 e R$70, agora chega a R$130 na entressafra, em média. No final de fevereiro e início de março, é comum que o preço aumente ainda mais. Ano passado, comercializamos o litro médio a R$35”, destaca Heron.
A produção diária caiu pela metade, limitando a quantidade disponível para venda. “Se antes produzíamos de 30 a 33 litros por lata na safra, agora não passamos de 28 litros na entressafra”, complementa.
A Questão da Qualidade do Açaí
Além do aumento no preço, a qualidade do açaí também tem sido impactada. Heron explica que, com o aumento da demanda e a escassez de frutos, muitos fornecedores acabam colhendo o açaí antes do ponto ideal, o que resulta no chamado “parol” — um fruto verde, com baixo rendimento e sabor alterado. “Quem trabalha com qualidade sofre para manter o padrão, porque há uma grande diferença e, obviamente, o consumidor percebe”, afirma.
José Monteiro, de 67 anos, engenheiro agrônomo e frequentador assíduo de pontos de venda de açaí em Belém, também sente no bolso o aumento dos preços. “O açaí é parte da nossa cultura e do nosso dia a dia. Hoje, estou comprando 2 litros para 4 pessoas. Quando o preço está muito elevado, acabamos consumindo de outras formas, como fazendo picolé”, contou.
