LINGUAGEM MORTAL

Facções e gestos: Números de dedos podem definir a vida ou a morte

Entenda os perigos por trás dos gestos de dois ou três dedos em fotos e a relação com as facções criminosas no Brasil.

Entenda os perigos por trás dos gestos de dois ou três dedos em fotos e a relação com as facções criminosas no Brasil.
Entenda os perigos por trás dos gestos de dois ou três dedos em fotos e a relação com as facções criminosas no Brasil.

Gestos com dois ou três dedos em fotos de pessoas inocentes têm causado mortes violentas. Interpretados como saudações ou provocações a facções criminosas, esses gestos resultaram em homicídios no Ceará, Bahia e Mato Grosso.

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil conta com 72 facções criminosas “de base prisional”. O número de dedos exibidos nas fotos está relacionado a dois grandes grupos de facções: “tudo com 3” e “tudo com 2”, expressões usadas pelo crime organizado, pela polícia, funkeiros e estudiosos.

Os números 2 e 3 se referem à quantidade de letras nas siglas das duas principais facções brasileiras: o Primeiro Comando da Capital (PCC), que surgiu em São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), originado no Rio de Janeiro.

Facções de diversos estados, representadas pelos gestos com dois ou três dedos, podem ser confundidas com outros grupos, gerando risco de associação com parceiros ou inimigos.

O PCC lidera o grupo “tudo 3”. Por isso, sinais com três dedos são frequentemente relacionados à facção e seus aliados. Esse gesto pode formar a imagem de um revólver, a letra M ou o aceno característico de fãs de heavy metal.

Foi um gesto com três dedos que levou à morte de Marcos Vinícius Alves Gonçalves, de 20 anos, em Feira de Santana (BA), do turista Henrique Marques de Jesus, em Jericoacoara, Ceará, e até à retirada de um videoclipe da rapper Duquesa.

No caso da Bahia, o Bonde do Maluco (BDM) é uma facção associada ao “tudo 3”. A facção negou, em nota, que mate alguém apenas por gesticular como o logotipo da marca de surf Wang Loose, cujos dois dedos laterais são esticados. Porém, o gesto pode ser interpretado como uma sinalização para facções inimigas, como o “tudo 2”.

O Comando Vermelho (CV), representado pelo “tudo 2”, tem origem no Rio de Janeiro, mas está presente em estados como Maranhão, Goiás, Vitória e Santa Catarina. Facções como Bala na Cara (RS) e Bonde do Ajeita (BA) também integram esse grupo. Contudo, o gesto de dois dedos nem sempre é exclusivo de facções parceiras. No Rio de Janeiro, membros da facção Amigos dos Amigos (ADA) utilizam a letra L, que remete ao seu líder, Paulo César Silva dos Santos, o Linho, desaparecido no início dos anos 2000. A ADA é uma dissidência do Terceiro Comando e inimiga do CV.

Pesquisadores, como Eduardo Armando Medina Dyna, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), classificam facções em “tudo 2” e “tudo 3”, embora a realidade de cada estado seja mais complexa e envolva facções menores e arranjos locais.

Facções “tudo 2”:

  • Comando Vermelho (RJ e outros estados)
  • União do Crime (Amapá)
  • Comando da Paz (BA)
  • Bonde do Ajeita (BA)
  • Comando Vermelho do Maranhão (MA)
  • Novo Okaida (PB/RN)
  • Comando Vermelho de Goiás (GO)
  • Primeiro Comando de Vitória (ES)
  • Máfia Paranaense (PR)
  • Primeiro Grupo Catarinense (SC)
  • Bala na Cara (RS)

Facções “tudo 3”:

  • Primeiro Comando da Capital (SP e outros estados)
  • Bonde dos 13 (AC, TO)
  • Terceiro Comando Puro (RJ)
  • Amigos dos Amigos (RJ)
  • Comando Classe A (PA)
  • Família Terror (AP)
  • Primeiro Comando do Panda (RO)
  • Guardiões do Estado (CE)
  • Bonde do Maluco (BA)
  • Estados Unidos (PB)
  • Comboio do Cão (DF)
  • Os Manos (RS)

Com informações do Portal Terra