Pryscila Soares
O chamado cimento ecológico é uma alternativa que reduz os danos ao meio ambiente, assim como a emissão dos gases de efeito estufa, responsável por alterações climáticas em todo o planeta. Pensando nisso, pesquisadores e acadêmicos do Laboratório de Engenharia Civil da Universidade Federal do Pará (UFPA) desenvolvem diversos estudos para testar alternativas de produção de um cimento menos agressivo ao meio ambiente e que, por outro lado, pode resultar em um concreto mais resistente e durável para projetos da construção civil.
Nos estudos, os pesquisadores utilizam diversos tipos de resíduos orgânicos e inorgânicos para desenvolver um cimento mais sustentável, a exemplo de caroços de açaí, casca de castanha-do-pará, resíduo da indústria de dendê e metacaulim. De acordo com matéria divulgada pela BBC News Brasil, a indústria do cimento é responsável pela emissão de 7% de gás carbônico no ambiente, sendo a terceira maior produtora de gases do efeito estufa do mundo.
Em geral, o cimento utilizado na construção civil é formado por um composto de clínquer e gipsita (gesso). O clínquer é o resultado da queima do calcário e argila, submetidos a uma temperatura de 1200ºC. De acordo com o engenheiro civil Paulo Sérgio Lima Souza, professor titular do Laboratório de Concreto da UFPA e membro do Grupo de Pesquisa em Materiais de Construção (GPMAC), os efeitos negativos do cimento comercializado pela indústria começam com a extração dos minerais, além da queima dos materiais, o que libera gás carbônico.
ALTERNATIVA
O principal objetivo do uso de materiais orgânicos e inorgânicos no processo de produção de cimento é reduzir o emprego do clínquer e, consequentemente, a emissão de gases, conforme explicou o engenheiro. “A fábrica pega o calcário e a argila, queima os dois juntos e gera o clínquer. Esse clínquer é moído com uma quantidade pequena de gesso, com isso temos um cimento básico. É um cimento mais caro e mais agressivo ao meio ambiente. A retirada do material, calcário e argila, já causa uma agressão. A queima gasta energia e nessa queima há uma liberação de gás carbônico”, disse.
Ao usar os materiais reaproveitados, o uso do clínquer é reduzido, bem como os danos gerados por ele. “O cimento ecológico tem menos clínquer. É aí que entra a universidade, a gente trabalha para desenvolver materiais alternativos para não usar tanto clínquer. Já usei pó de mármore e granito, a cinza do caroço de açaí, cinza da casca da castanha, cinza do bagaço do dendê. Essas cinzas orgânicas não são uma novidade. A gente pegou a ideia e fizemos com o que temos aqui”, pontuou.
Apesar dos benefícios, esse cimento ecológico ainda não é uma realidade nas indústrias instaladas na nossa região. “O papel da universidade é mostrar caminhos. Fazer uso dos conhecimentos aqui gerados depende de políticas públicas e do interesse da iniciativa privada”, assinalou.