VIOLÊNCIA NO CAMPO

Ataque a tiros a assentamento do MST deixa três mortos em São Paulo

Ataque a tiros contra militantes do MST deixa três mortos e cinco feridos em acampamento no Tremembé (SP).

Um ataque a tiros contra militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no acampamento Olga Benário, em Tremembé (SP), deixou três mortos e cinco feridos na noite de sexta-feira.
Um ataque a tiros contra militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no acampamento Olga Benário, em Tremembé (SP), deixou três mortos e cinco feridos na noite de sexta-feira.

Um ataque a tiros contra militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no acampamento Olga Benário, em Tremembé (SP), deixou três mortos e cinco feridos na noite de sexta-feira. Depoimentos das vítimas indicaram que criminosos chegaram em carros e motos e efetuaram os disparos.

Duas pessoas morreram no local: Valdir do Nascimento, conhecido como Valdirzão, de 52 anos, e Gleison Barbosa de Carvalho, de 28. Os demais atingidos, com idades entre 18 e 49 anos, receberam atendimento no pronto-socorro de Tremembé e no Hospital Regional de Taubaté, municípios da região do Vale do Paraíba.

Um deles não resistiu aos ferimentos e faleceu na tarde deste sábado – Denis Barbosa de Carvalho, de 29 anos, segundo informou um dos líderes dos sem-terra pelas redes sociais. Ele foi atingido na cabeça e estava em coma induzido. Era irmão de Gleison.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) confirmou os assassinatos, que ocorreram na altura da Estrada do Kanegae, em Tremembé. O caso está sob investigação da Polícia Civil de Taubaté.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou neste sábado que a Polícia Federal (PF) instaure um inquérito para investigar o ataque. No ofício enviado à PF, segundo o Palácio do Planalto, o ministro em exercício, Manoel Carlos de Almeida Neto, cita a violação a direitos humanos. Uma equipe da PF, com agentes, perito e papiloscopista foi deslocada para o local.

Os criminosos teriam entrado no assentamento por volta das 23h de sexta-feira, utilizando cinco carros e duas motos, e dispararam contra as vítimas, que estavam em um espaço coletivo.

O MST de São Paulo classificou a ação como um “massacre” e criticou a “falta de políticas públicas de segurança nos territórios da reforma agrária”. O ministro de Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, por sua vez, declarou nas redes sociais que o crime é “gravíssimo” e cobrou providências. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva repostou a publicação de Teixeira.

“O MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) repudia o crime e manifesta solidariedade e apoio aos assentados da reforma agrária, especialmente às famílias de Valdir do Nascimento e do jovem Gleison Barbosa Carvalho, brutalmente assassinados neste caso”, diz nota divulgada pela pasta.

Políticos de diferentes partidos, especialmente de esquerda, se manifestaram sobre o ataque nas redes sociais. Presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann postou em seu perfil no X: “Violência inadmissível que não pode ficar impune. Toda solidariedade às famílias do Olga Benário”.

O assentamento é regularizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) há cerca de 20 anos para o MST. Segundo a assessoria do movimento, cerca de 45 famílias vivem no local.

Em agosto do ano passado, levantamento divulgado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostrou que o primeiro ano do novo governo Lula bateu recorde de conflitos no campo. Foram 2.203 ocorrências, maior número em 38 anos, desde que os registros passaram a ser feitos. O número representa alta de 8% em relação a 2022. O recorde anterior era de 2020, com 2.130 conflitos documentados.

O maior número de conflitos ocorreu na Amazônia, com 1.034 casos. A região Norte registrou 35% das ocorrências, seguida do Nordeste, com 32%. O Pará liderou em número de problemas, com 226 ocorrências, seguido pelo Maranhão (206) e Rondônia (186). Os três estão dentro da Amazônia Legal.

Tem sido grande a ação de pistoleiros contra os povos tradicionais e trabalhadores sem-terra, com 264 registros em 2023. Segundo a CPT, o Movimento Invasão Zero, criado há dois anos na Bahia, tem coordenado a ação de grupos armados para retirar moradores das áreas de interesse de invasores, seja para criação de gado ou agronegócio.

Texto de: Samuel Lima e Karolini Bandeira (AG)