Belém -
A busca por oportunidades na capital também faz parte do cenário de Belém. A capital mais antiga da Amazônia viveu um intenso crescimento populacional no século XX, com pessoas vindas do interior e de estados mais pobres em busca de trabalho – um fenômeno que pode ser chamado de êxodo rural. Em 1900, a população total da cidade era de aproximadamente 97 mil pessoas. Em 2000, esse número chegou a 1.297.688 habitantes, com o número de moradores mais do que dobrando entre 1960 e 1980, quando passou de 402 mil para 949 mil. Atualmente conta com 1,3 milhões de moradores.
Apesar das dificuldades enfrentadas no início do século, a resiliência da “cidade das mangueiras” manteve vivo seu potencial econômico. Ancorada em uma cultura popular riquíssima e no intercâmbio de conhecimentos ancestrais, com um toque cosmopolita, além da beleza amazônica em meio à selva de pedra, os últimos anos trouxeram uma revolução na forma como Belém é vista no mundo.
Atualmente, a cidade vive um ciclo virtuoso, com o aumento do fluxo de visitantes e de investimentos públicos e privados. Para atender à crescente demanda turística, o setor de serviços têm apostado fortemente na criação de novos postos de trabalho. As obras também injetam recursos na economia, gerando mais contratações. A COP-30 – Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, que será realizada no Pará em novembro de 2025 – já causa reflexos no aquecimento econômico da capital.
Uma pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que, no ano passado, Belém foi a principal geradora de novos postos de emprego no Estado, de janeiro a novembro.
O grande mercado consumidor da capital a posiciona como uma importante geradora de empregos formais, com carteira assinada. “Se olharmos para os 144 municípios, 70% deles apresentam saldo positivo, e Belém é o município paraense que mais gera empregos até aqui. São 16 mil postos de trabalho, representando um terço de tudo o que o estado gerou”, informa Costa.
A trinca turismo, serviços e comércio sempre representou a maior parte do PIB – Produto Interno Bruto – do município, com 67% de toda a riqueza anual produzida por esses setores. A indústria, por sua vez, corresponde a cerca de 15% do PIB, segundo dados do IBGE. Costa destaca que o turismo deve ser a atividade mais impactada positivamente e que deve se manter forte mesmo após a COP. “Belém tem um portfólio que proporciona ao turista aquilo que ele mais busca: experiências marcantes. O que o turista deseja quando procura uma atração é ter uma experiência única. Estamos nos especializando para entrar definitivamente no mapa turístico internacional. Essa é, inclusive, uma das expectativas que temos como legado da COP-30”.
Com a perspectiva de atrair eventos e a reestruturação dos equipamentos urbanos, os trabalhadores que contribuem para o crescimento da cidade estão cada vez mais atentos e se preparando para melhor atender os visitantes locais e estrangeiros.
“A ansiedade está grande. Parece que a gente já quer que chegue logo a COP”, declara Márcio Evangelista, 45 anos, garçom de um bar na Estação das Docas. “A gente espera um ganho de mais ou menos 100% no que ganhamos normalmente, não só nas datas da COP, mas no mês todo de novembro. Esperamos muita gente na cidade. E nós estamos com a expectativa de juntar o que ganharmos durante esses dias. Em dez dias, será praticamente o equivalente a dois meses de salário”, projeta Evangelista.
O garçom também compartilha conselhos para quem deseja garantir boas gorjetas e se destacar no trabalho. “Bom atendimento, conhecimento do que você está vendendo, saber, não saber só o cardápio, em si dá uma informação sobre a Baía do Guajará, a Estação das Docas, que ano surgiu a estação, o que que Belém tem de bom para abranger nestes dias que terão na COP, o que eu posso sugerir além da Estação das Docas em outros lugares”, aconselha Evangelista, que ressalta saber falar inglês e um pouco de francês.
A necessidade de entender outros idiomas também é reconhecida pela garçonete Paula Velasco, 27. “Bem, no final do ano passado já tinha bastante turista. Em outubro, novembro, dezembro, a gente já via muitos estrangeiros. E é preciso se virar para falar com eles. A gente consegue, mas aprender mais, principalmente inglês, vai ajudar muito para a COP-30.”
Os dados da pesquisa do Dieese mostram que o crescimento não se limita às vagas informais, mas também inclui empregos formais, que oferecem maior segurança trabalhista a médio e longo prazo.
Vinícius Santos, 21, conquistou há dois meses seu primeiro emprego formal como frentista. O jovem, sem experiência prévia, usará o salário para pagar um curso técnico de radiologia. “O emprego é o que nos permite buscar nossos objetivos. Sem trabalho, ninguém consegue nada, até porque não somos herdeiros. O emprego é o que sustenta o que a gente quer fazer, no meu caso, o curso”, relata Santos.