COLUNA

Sobre o Globo de Ouro e o Auto da Compadecida 2

Enquanto o Auto da Compadecida 2 cresce nas bilheterias do Brasil, Fernanda Torres ganha seu Globo de Ouro. E a morte de Pedro Veriano

Auto da Compadecida 2 traz de volta as desventuras de Chicó e João Grilo FOTO: laura campanella/divulgação
Auto da Compadecida 2 traz de volta as desventuras de Chicó e João Grilo FOTO: laura campanella/divulgação

Esta coluna seria apenas sobre “O Auto da Compadecida 2”, mas aí a Fernanda Torres venceu, merecidamente, o Globo de Ouro de melhor Atriz em Drama por “Ainda Estou Aqui” e acho que cabe algumas linhas sobre o cinema brasileiro e como ele é bom, mesmo que alguns façam questão de desprestigiá-lo.

Quando eu falo que o cinema brasileiro é um dos melhores do mundo, é sem exagero nenhum. Sim, eu já fui um desses ignorantes que achava os filmes nacionais “menores”, mas nada como o tempo e a vivência para perceber o quão redondamente enganado estava. Posso afirmar, sem mentir, que em todos os setores do audiovisual, seja roteiro, atuação, técnica, direção, etc, temos um cinema diverso e poderoso. É só pesquisar.

E falando na adaptação da obra de Ariano Suassuna, o primeiro é lembrado até hoje com carinho pelo público pela qualidade do texto e dos atores envolvidos. Infelizmente, não é possível dizer o mesmo da continuação. Selton Mello e Matheus Nachtergaele continuam afiados nos papéis de Chicó e João Grilo e eles, junto ao resto do elenco, são as únicas coisas realmente boas de “Auto 2”.

O problema começa no cenário, substituindo o sertão por um estúdio com projeções ao fundo. Eu até entendo o fato dos diretores Guel Arraes e Flávia Lacerda quererem emular o teatro do movimento armorial e a literatura de cordel, mas a questão é que o filme perde na comparação com o original, que tinha uma essência muito mais realista do Nordeste. Aqui parece escuro demais, artificial e com uma maquiagem bem esquisita. Mas as animações das histórias de Chicó são ótimas, diga-se.

O roteiro também não ajuda muito. Não tem o mesmo ritmo ligeiro de Suassuna, se tornando mais cansativo e menos inventivo. E ainda faz questão de praticamente repetir situações da obra de 2000, com alguma novidade criativa. Se fosse uma obra nova e isolada, até se justificaria, mas infelizmente perde força porque existe um clássico cult e impecável feito 24 anos antes pelos mesmos realizadores. Mesmo assim, vale a ida para prestigiar o cinema nacional.

Confira o trailer de O Auto da Compadecida 2:

PEDRO VERIANO

É uma dessas coincidências da vida que o cinema brasileiro tenha um reconhecimento no mundo um dia antes da partida de um dos seus maiores defensores e apaixonados. O Pará perdeu um dos seus maiores no último dia 6 de janeiro. Pedro Veriano, dedicou sua vida à sétima arte, despertando, com seu trabalho e incentivo ao cinema, a paixão em muitos outros, inclusive este que vos escreve.

Lia sempre suas colunas no jornal e seu blog, ansioso por suas listas de melhores do ano. O livro “Cinema no Tucupi”, eu emprestei inúmeras vezes da biblioteca quando estudei na UFPA. Fica seu legado na exibição de filmes clássicos nos cineclubes que organizava, sua escrita impecável como crítico e seu amor pelo Pará e os filmes.