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Ato em Brasília lembra os dois anos dos ataques golpistas de 8/1

Relembre os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023 e a devolução de obras de arte danificadas no evento em memória.

Relembre os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023 e a devolução de obras de arte danificadas no evento em memória.
Relembre os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023 e a devolução de obras de arte danificadas no evento em memória. foto: marcelo camargo / agÊncia brasil

 O evento em memória aos dois anos dos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes reúne nesta quarta-feira autoridades do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do Supremo Tribunal Federal (STF) na Esplanada dos Ministérios e vai marcar a devolução de 21 obras de arte que haviam sido danificadas na invasão ao acervo do Palácio do Planalto. A programação de atos simbólicos prevista para o dia não deve contar, porém, com a presença dos presidentes das duas Casas do Legislativo.

O chefe do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que está em viagem no exterior, já informou que não vai participar da cerimônia. Em seu lugar, o senador Veneziano Vital do Rêgo, primeiro vice-presidente da Casa, representará o Senado.

Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não confirmou presença no evento, que acontecerá no Palácio do Planalto e na Praça dos Três Poderes. Lira está em Alagoas e aliados dizem que a tendência é que ele não vá. Em 2024, o chefe da Câmara também não compareceu à cerimônia de um ano das invasões golpistas.

Nomes de consenso para comandar o Senado e a Câmara a partir de fevereiro, Davi Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos) estão de férias e também não irão comparecer. No governo, ao menos três ministros também estão de férias e não participarão: Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Juscelino Filho (Comunicações) e Carlos Lupi (Previdência).

Já Fernando Haddad (Fazenda), Nísia Trindade (Saúde) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da União) tiveram as férias canceladas e confirmaram presença no ato. As ministras Anielle Franco (Igualdade Racial), Simone Tebet (Planejamento), Cida Gonçalves (Mulheres) e Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), por sua vez, confirmaram presença mesmo durante o recesso. Entre os outros ministros que irão ao evento estão Ricardo Lewandowski (Justiça), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), Camilo Santana (Educação), José Múcio (Defesa), Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária) e Rui Costa (Casa Civil).

De acordo com a colunista Bela Megale, do GLOBO, a organização do evento dividiu integrantes da gestão de Lula. Uma parte dos ministros defendeu a necessidade de lembrar a data com uma agenda simbólica marcante, que mostre que a democracia foi atacada, mas sobrevive. Já outra ala avaliou que o ato deveria ser mais protocolar e, até mesmo, reduzido a manifestações públicas do presidente Lula e de autoridades que representam os Três Poderes, sob o argumento de que colocar o 8 de Janeiro como uma bandeira do governo ajuda a acirrar a divisão da sociedade.

Um dos pontos de crítica desse segmento é que os dois anos dos ataques estão sendo capitaneados pelo Palácio do Planalto, e não pelo Congresso Nacional, como ocorreu no ano passado. Para eles, isso reforça o discurso de que o evento estaria sendo usado politicamente e não para defender as instituições.

Estão previstos diversos atos ao longo do dia, conforme antecipou o colunista Lauro Jardim, do GLOBO. O primeiro momento, mais restrito, está marcado para às 9h30 na Sala de Audiências do Planalto. Será uma cerimônia para reinstalar em seus locais as obras de arte danificadas durante a invasão.

Logo depois, às 11h, Lula discursará no Salão Nobre do Palácio do Planalto em cerimônia com a participação de ministros, representantes do Judiciário e do Congresso e representantes de 70 entidades da sociedade civil. Serão cerca de 400 convidados.

Por fim, haverá um abraço simbólico à Praça dos Três Poderes, batizado de “Abraço da Democracia”. O presidente vai descer a rampa do Planalto com as principais autoridades e encontrará o público para esse abraço. A iniciativa do ato partiu dos movimentos sociais, que convidaram o PT e outros partidos a participarem.

– A palavra democracia estará representada no chão, escrita em flores. A ideia é fazer um gesto simbólico e abraçá-la. O foco nunca foi de um ato de massa. Nossa intenção é fazer um desagravo à praça que foi palco da depredação dos Três Poderes naquele dia 8 – afirmou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, à colunista Bela Megale.

Entre os itens devolvidos ao acervo presidencial está o relógio fabricado pelo relojoeiro francês Balthazar Martinot e com design de André-Charles Boulle destruído durante os ataques do 8 de janeiro pelo mecânico Antônio Cláudio Alves Ferreira. O relojoeiro tem apenas mais um exemplar, que está exposto no Palácio de Versalhes, em Paris.

O artefato retornou ao Planalto nesta terça-feira, sob escolta da Polícia Federal, após passar por uma restauração na Suíça. Fabricado no Século XVII, o relógio foi um presente da corte francesa para Dom João VI e foi trazido ao território brasileiro pela família real portuguesa em 1808. A recuperação da peça ocorreu após uma parceria do governo brasileiro com a embaixada suíça.

Responsável pela destruição do objeto, o mecânico do interior de Goiás, Antônio Cláudio Alves Ferreira, foi condenado pelo STF a 17 anos de prisão pelos crimes de associação criminosa armada; abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça, com emprego de substância inflamável contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima.

A restauração das demais peças do acervo foi feita por meio de um acordo de cooperação entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e a Diretoria Curatorial dos Palácios Presidenciais, vinculada à Presidência da República. Os trabalhos começaram em 2 de janeiro do ano passado em um laboratório de restauração montado no Palácio da Alvorada e envolveram 50 profissionais.

Ao menos três obras restituídas após a vandalização chegaram ao Planalto até esta terça-feira: o quadro “As Mulatas”, do pintor Di Cavalcanti, a escultura O Flautista, de Bruno Giorgi, e a escultura de madeira Galhos e Sombras, de Frans Krajcberg.

Os principais momentos programados para os dois anos do 8/1:

Às 9h30m, o presidente Lula participa de uma cerimônia para marcar o retorno de obras danificadas na invasão e já restauradas ao acervo do Planalto.

Às 10h30, ocorre o descerramento da obra “As Mulatas”, de Di Cavalcanti.

Às 11h, Lula discursa em cerimônia com a presença de autoridades, no Salão Nobre do Planalto. Os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, não devem participar do ato.

Após a cerimônia, o presidente desce a rampa do Planalto e participa de um “Abraço da Democracia”.

Decisões do Supremo sobre o 8 de Janeiro até o momento:

225 condenações; foram pelos crimes mais graves, como golpe de Estado

5 absolvições; Dessas, quatro foram de pessoas em situação de rua

146 condenações; foram por crimes mais brandos, como incitação ao crime

Texto de: Karolini Bandeira, Gabriel Sabóia, Eliane Oliveira e Jeniffer Gularte (AG)