RELIGIÃO

Bragantinos encerram festividade para o glorioso São Benedito

Os moradores da cidade fizeram a procissão final da festividade em homenagem ao santo preto nesta quinta-feira (26)

Marujos e Marujas foram às ruas para celebrar o santo padroeiro de Bragança

FOTOs: mauro ângelo
Marujos e Marujas foram às ruas para celebrar o santo padroeiro de Bragança FOTOs: mauro ângelo

Após nove dias de programação, o município de Bragança encerrou ontem (26) a 226ª Festividade do Glorioso São Benedito, com o tema “São Benedito, Lírio de Pureza, fazei-nos vossos imitadores!”, iniciada no dia 18 de dezembro.

Durante os nove dias de festejos foram realizadas diversas programações como missas, novenas, ladainhas, procissão fluvial e terrestre, disputa de cavaleiros na cavalhada, programação cultural e apresentações da Marujada.

No último dia da festividade foram esperadas entre 120 mil a 150 mil pessoas que tomaram as ruas da cidade, que não arredaram o pé sob um sol forte com o tempo marcando 34° de sensação térmica. A programação foi organizada pela Paróquia de Nossa Senhora do Rosário e da Irmandade da Marujada de São Benedito de Bragança.

As tradicionais vestimentas marcaram o evento e coloriram as ruas, com os homens vestidos de calça e camisa brancas e chapéu branco de marujo com uma fita vermelha e as mulheres trajando saia vermelha, blusa branca e chapéu dourado com plumas brancas adornadas com lantejoulas e fitas coloridas. Os devotos, sejam adultos ou crianças, vão caminhando com os pés descalços pela cidade como demonstração de fé.

O atendente de loja Fábio Lopes, 28 anos, mora em Belém, mas todos os anos nesta época vem para Bragança prestigiar a festividade e celebrar o Dia de São Benedito, que é comemorado em 26 de dezembro, sendo feriado municipal em Bragança desde o ano de 1960. A devoção ao santo veio de família, passada de geração por meio dos bisavós dele.

“É uma grande alegria vir todos os anos. Eu participo como marujo há dez anos. Representa pra mim a expressão de fé que só aumenta com o tempo”.

A universitária Bárbara Silva, 19, é moradora de Bragança e participa dos festejos a São Benedito desde quando tinha sete anos de idade. A devoção veio por meio de familiares, com os avós de Bárbara incentivando a participação dela na importante manifestação cultural do município.

“Quando chega esse período é uma emoção muito grande porque há anos eu participo da Marujada, desde quando eu era criança. Pra gente que mora aqui, São Benedito tem um significado muito importante”.

A festividade na região representa mais que a devoção religiosa, sendo também um grito de resistência à escravidão, pois São Benedito é o santo protetor dos escravos e padroeiro da cidade.

Moradora de Belém, mas com família em Bragança, a aposentada Ana Rosa de Almeida, 80, vem diretamente da capital paraense só para vivenciar o espírito festivo na cidade. Da sacada de casa, ela acompanhou os milhares de marujos e marujas em procissão ao Santo, bem pertinho da Igreja de São Benedito.

“É emocionante ver tanta gente reunida aqui manifestando sua emoção. Eu peço que São Benedito me dê mais saúde e que tenha menos violência no mundo”.

Cheia de disposição e agradecimento, a capitoa da Marujada, Maria de Jesus, 67, participa do evento há mais de três décadas. Emocionada, a devota afirmou que há 13 anos é capitoa da Marujada como forma de demonstrar a emoção a São Benedito.

“Gosto muito de participar todos os anos. Eu me sinto viva assistindo as danças e os festejos. São Benedito é nossa intercessão diante de Jesus Cristo. Não tem como não se envolver com a festividade nessa época”.

LOUVAÇÃO

A programação do último dia da festividade começou logo cedo, às 7h, com o Terço e Novena, na Igreja de São Benedito. Logo após, às 7h30, foi realizada a Santa Missa Solene da Festividade, no Largo de São Benedito. Em seguida, foi realizado o tradicional Leilão da Festividade, no Salão Beneditino. A partir das 12h, foi oferecido almoço aos participantes pelo Juiz da Festividade, Antônio Milton de Brito Lobão Júnior, no Podium Club.

No meio da tarde, ocorreu a Louvação ao Santo, na Igreja de São Benedito, com as Comissões de Esmolações. Em seguida, às 16h, teve início a Procissão solene, com a imagem do Glorioso São Benedito do Andor pelas ruas da cidade, com os participantes percorrendo cerca de 4,7 quilômetros. Com a chegada da procissão, foi realizada a Missa Campal em frente à Igreja de São Benedito e em seguida, teve apresentação da Marujada, no Teatro Museu da Marujada.

Para o padre Pablo Misley, 30, da Catedral de Bragança, o dia de São Benedito, assim como os nove dias de festividade dedicada ao santo, é o que tem de mais importante e representativo para o povo bragantino.

“O Natal aqui é diferente porque temos o dia 25 e temos logo em seguida o dia do nosso santo, o que faz as pessoas ficarem mais próximas em torno da dedicação a São Benedito”.

HISTÓRIA

A origem da marujada é do final do século XVIII e início do XIX, associada à criação da Irmandade do Glorioso São Benedito de Bragança em 1798, por iniciativa de povos negros escravizados naquela localidade. Para celebrar São Benedito, eram realizadas rezas, tambores, danças, missas, ladainhas e folias que vieram a se caracterizar com o que se entende hoje por Marujada do Pará.

As Marujadas de São Benedito no Pará foram reconhecidas como Patrimônio Cultural do Brasil em setembro deste ano, durante a 105ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. O órgão colegiado de decisão máxima do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), aprovou, por unanimidade, a inscrição do bem no Livro de Registro de Celebrações.

O pedido de registro foi apresentado em 2011 pela Irmandade da Marujada de São Benedito de Bragança, organização de caráter educativo e cultural, fundada em 1798.