O velório do compositor e instrumentista Mestre Laurentino ocorreu neste domingo (22) na Paróquia São Sebastião, no bairro da Sacramenta, em Belém. Na ocasião, familiares e amigos próximos estiveram presentes para prestar as últimas homenagens e se despedir do artista. Por volta de 13h foi dado início ao sepultamento do corpo, no Cemitério de São Jorge, na Marambaia. Mestre Laurentino ficou conhecido como “o maior rockeiro do Brasil” e teve uma das carreiras mais longevas entre os artistas paraenses.
Aos 98 anos, o músico faleceu em casa, por volta de 14h30 do último sábado (21). Segundo informações dos familiares, Laurentino, que tinha uma saúde invejável, começou a passar mal logo após o almoço e partiu horas depois de forma natural. Para a filha Greyce Corrêa, de 41 anos, que morava e cuidava do mestre nos últimos momentos de vida, o artista foi um pai exemplar, que sempre enfrentou a vida com alegria e sabedoria ao lado de sua gaita, eterna companheira da vida artística.
A alegria e simplicidade com que levava a vida tornou Mestre Laurentino uma pessoa muito querida e amada por amigos, filhos, familiares e outros artistas com quem conviveu ao longo da vida. De acordo com a esposa Leonice Carvalho, de 67 anos, os momentos de felicidade vão ficar sempre na memória, assim como o legado artístico de Laurentino, que é autor de muitos samples, trechos sonoros de uma música utilizados em novas gravações de outros artistas.
“Laurentino foi uma pessoa muito para mim e para os amigos. Uma pessoa que não tinha preconceito de nada, uma pessoa simples, tudo para ele estava bom, era todo o tempo alegre. Sempre foi carinhoso comigo, com os filhos, com os amigos, com todos. Os melhores momentos foram com ele ao meu lado. Às vezes ele tirava a gata pra tocar, cantava e a música sempre ficava no meu coração. Peço que ele não seja esquecido, que ele sempre seja lembrado por todos pela sua felicidade e pela sua música”, lembra a companheira.
Através das redes sociais, o governador do Pará, Helder Barbalho, se manifestou sobre a morte de um dos maiores ícones da música paraense. Na ocasião, enfatizou a importância do artista para o legado da música regional. “Hoje nos despedimos do mestre Laurentino, o roqueiro mais velho do Brasil. Um ícone paraense que deixou sua marca na música e em nossos corações. Seu legado será eterno!”, disse o governador do estado.
Também pelas redes sociais, o então prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, publicou as últimas palavras para Mestre Laurentino, com quem cultivava uma antiga amizade. “Eu tive a honra de ser o seu amigo pessoal e um de seus grandes admiradores. Costumava visitá-lo para ouvi-lo tocando habilidosamente a sua gaita. Parte um grande mestre autodidata genial, ficam os ensinamentos e a sua obra, que traduzem toda a sua humanidade e amorosidade”, disse o prefeito.
Laurentino: ‘O roqueiro mais velho do Brasil’
Natural de Ponta de Pedras, no Arquipélago do Marajó, João Laurentino da Silva nasceu em 1o de janeiro de 1926 e se envolveu com a música desde criança, quando ganhou uma gaita da mãe. Anos mais tarde, Mestre Laurentino passou a ser conhecido como “o roqueiro mais velho do Brasil”, título que ostentava com orgulho. O instrumentista compôs músicas de sucesso como “Loirinha Americana”, além de trabalhar com outros grandes nomes da Música Popular Brasileira (MPB) como Tom Zé, Gilberto Gil e Otto.
Em 1998, Laurentino se apresentou no festival Rock Seis Horas, realizado no Mercado de São Brás. Na ocasião, o artista abriu o show da banda “Mangabezo” com a música “Loirinha Americana” para um público de quase 2 mil pessoas. A apresentação chamou a atenção de Hermano Vianna, antropólogo que mapeava a música brasileira de raiz, e resultou no convite para gravação de um documentário veiculado pela MTV. Nos anos 2000, o músico fez parte do Coletivo Rádio Cipó, onde fazia experimentações com música eletrônica através da voz e gaita. Já em 2005, o disco “Formigando na Calçada do Brasil” foi eleito como um dos melhores projetos independentes do Brasil com participação de Mestre Laurentino.
“Ele é a prova de que a idade não impede que você busque alcançar os seus sonhos. Ele tinha 80 anos e nós estávamos na faixa etária entre 25 e 30 anos. Então, o Mestre se junta com jovens que dominavam equipamentos de música eletrônica, rock, hip hop e outros ritmos com a música regional que ele fazia. Ele é a prova de que é possível fazer música e que o etarismo precisa ser combatido. Se tivéssemos preconceito em relação a idade dele, jamais o Coletivo Rádio Cipó teria o alcance que teve e o Laurentino teria a visibilidade que tinha”, disse o ex-integrante da banda Mangabezo, o artista Ruy Montalvão.