Com uma região insular formada por 39 ilhas e um variado número de parques ambientais espalhados pela cidade, Belém tem uma vocação natural para o chamado ecoturismo. Não apenas para o turista que visita a capital paraense pela primeira vez, mas também para os próprios moradores que se permitem vivenciar os espaços da cidade, não faltam opções de passeios em meio ao contato com a natureza.
Além da região das ilhas de Belém, na própria área urbana de Belém é possível encontrar lugares preservados, tradicionais, e que possibilitam uma experiência de ecoturismo mesmo em uma visita curta. Em muitos casos, inclusive, nem é preciso se afastar das vias de maior movimento da cidade para chegar a esses espaços.
Entre essas opções, o professor da Faculdade de Turismo do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Pará (ICSA/UFPA), Álvaro Negrão do Espírito Santo, destaca uma Unidade de Conservação Estadual composta por 1.300 hectares de área verde preservada e que foi criada com o objetivo de contribuir com a preservação de ecossistemas naturais, o Parque Estadual do Utinga Camillo Vianna.
“O Parque do Utinga, que é administrado pelo Ideflor-Bio, já tem um programa de ecoturismo em desenvolvimento. Eles estão desenvolvendo já há algum tempo trilhas dentro das unidades, não só do Parque propriamente dito, mas do próprio Refúgio de Vida Silvestre (REVIS) que foi construído naquela área onde era, antigamente, a Pirelli”, explica.
Esse grande corredor é apenas um exemplo do potencial que a capital paraense possui para o ecoturismo, um tipo de turismo ligado à natureza e que mantém uma ligação ainda mais forte com as práticas sustentáveis. “A grande diretriz mundial ditada pela ONU Turismo é que as práticas turísticas sejam sustentáveis em todos os segmentos. Mas no caso do ecoturismo, essa relação é maior ainda porque não se trata só de uma prática de uso adequado dos recursos naturais, o uso adequado recursos naturais é o produto em si. Então, de todos os segmentos é no ecoturismo que a sustentabilidade tem que ser mais forte, mais expressiva, representar de forma concreta uma relação harmônica entre o homem e o meio ambiente”.
Neste sentido, o ecoturismo encontra nas unidades de conservação, como é o caso do Parque do Utinga, acaba sendo também um impulsionador de práticas sustentáveis. “O ecoturismo feio em unidades de conservação, seja em parques, seja em APAS, faz com que haja uma forma de manutenção nessas unidades de conservação porque, historicamente, sempre houve uma grande dificuldade do poder público em manter essas unidades de conservação, então, o ecoturismo estando presente, ele consegue levar recursos para as comunidades residentes, criar novas alternativas econômicas além daquelas que já estão sendo desenvolvidas e, com isso, dar melhores condições de vida para as populações que moram naqueles lugares. E você oferecendo, nessas unidades, um ecoturismo com características científicas e comunitárias você está ativando a economia do lugar”.
Todo esse potencial também já é aproveitado por iniciativas de empreendedores que viram na riqueza natural e cultural de Belém e sua região metropolitana um atrativo para a visitação. Atuando no cenário da capital paraense, inicialmente, como uma escola de canoagem, hoje a Marenteza se dedica exclusivamente aos passeios pelos rios da Região Metropolitana de Belém. Instrutor de canoagem do grupo, Thiago Santos conta que viu a demanda por esse tipo de atividade crescer durante a pandemia e se firmar mesmo depois dela. “Naturalmente, a gente tem um potencial hídrico muito grande por sermos banhados por rios, igarapés e, na região Nordeste do Pará, pelo mar e essa conexão com a natureza surge quase naturalmente”.
Apesar de o público atendido pela empresa ainda ser formado, em sua maioria, por pessoas de dentro do Estado, muitos turistas também já têm procurado os passeios de canoagem pelos rios de Belém. “As pessoas adoram conhecer, a gente fazia remadas no Utinga e as pessoas ficavam surpresas de encontrar água cristalina no centro de Belém, então, a nossa natureza favorece muito esse tipo de turismo, atualmente. As pessoas estão percebendo isso e o ecoturismo tem aumentado muito na região”, considera Thiago. “Outro dia eu levei uma turma para um passeio que era toda de fora, de Brasília, do Rio de Janeiro, de São Paulo. Eles adoram, é legal porque é uma realidade muito diferente pra eles”.
Nos passeios realizados pelo Rio Maguari, na cidade vizinha de Ananindeua, Thiago conta que a experiência vai além do contato com a floresta em si, alcançando também as pessoas que nela vivem. “No Rio Maguari a gente faz passeios para dois locais: um restaurante que vende comidas como peixe frito, peixe assado, comidas bem básicas, mas muito gostosas; e também vamos para uma casa ribeirinha que a dona bate açaí, também faz uma galinha caipira, também faz um peixe. Então, os turistas adoram esse tipo de turismo, esse tipo de contato”.
Além do Ver-o-Rio, bem no centro de Belém, e do Rio Maguari, em Ananindeua, também é possível fazer passeios pelos rios que cortam territórios um pouco mais distantes da capital, mas que ainda integram a região metropolitana. “Eu digo que o passeio mais bonito que a gente tem é o pelo Rio Caraparu, em Santa Isabel. São águas escuras, geladas e você rema muito tempo sombreado, debaixo das árvores. É um passeio que tem sempre uma boa aceitação do público que busca mesmo essa conexão com a natureza”.
Contato com a natureza é priorizado por quem visita Belém
Essa busca por um maior contato com a natureza fica evidente quando se conversa rapidamente com quem está visitando em Belém. Apesar de morar em Castanhal, o aposentado Tadeu Foscaldo é natural do Rio de Janeiro e, sempre que pode, faz questão de passar em Belém para passear um pouco pela cidade. Acompanhado dos netos e da cunhada Ana Lúcia Ferreira Pinto, que visitava Belém pela segunda vez,ele contou que sempre que vai à capital procura por espaços onde possa ter maior contato com a natureza.
Desta vez, o espaço escolhido para ter essa conexão foi o Parque Zoobotânico Mangal das Garças, que além da interação com bichos que vivem soltos no espaço, também proporciona uma vista privilegiada de um cenário típico da Amazônia, com seus largos rios e floresta. Para a aposentada Ana Lúcia, cunhada de Tadeu, que é natural do Rio de Janeiro, mas mora em Campinas (SP), esse contato com a natureza traz benefícios que vão além do passeio em si. “É muito gostoso. Eu gosto desse turismo que a gente tem um contato maior com a natureza porque tira um pouco do estresse da cidade”.
Do farol instalado à margem do Rio Guamá, os turistas e moradores da cidade que visitam o Mangal também têm uma pequena amostra da biodiversidade amazônica e das formas de vida e da cultura que também ajudam a compor o bioma. O técnico de produção Cristiano Almeida, 42 anos, é de Minas Gerais e não escondeu o encantamento com a vista proporcionada pelo farol do parque, local que visitava pela primeira vez ao lado da auxiliar operacional paraense Tamara Silva, 34 anos.
“Eu já vim a Belém outras vezes, mas não a passeio. Hoje eu estou podendo conhecer mais da cidade. A diversidade aqui é muito grande, é muito bonita. É algo que a gente não tem no nosso estado, então, quando a gente vem pra cá e vê isso, é muito bonito”.
Mesmo sendo vizinha de toda essa beleza natural, a tecnóloga em turismo Carla Pontes, 32 anos, faz questão de frequentar o parque, especialmente para levar a filha Maria Elis, de 3 anos. “Nós somos vizinhas do Mangal das Garças e como ela está de férias, eu trouxe ela para poder passear um pouquinho, eu venho aqui para ela aprender sobre os animais, sobre o meio ambiente”.
Carla lembra que no seu primeiro emprego, quando trabalhou em hotéis e como guia turística, essa busca por um turismo mais ligado à natureza era muito presente entre os visitantes da capital paraense, sobretudo os estrangeiros.
Guia de Ecoturismo e Atrações Naturais em Belém e Região
1. Parque Estadual do Utinga – Curió Utinga
Localizado no bairro do Curió Utinga, o Parque Estadual do Utinga oferece 1.300 hectares de área verde preservada, um verdadeiro pulmão ecológico que contribui para a manutenção do microclima e preservação de ecossistemas da região. Ideal para quem deseja realizar atividades ao ar livre, o parque também desempenha um papel vital na dispersão de sementes e reprodução de espécies.
- Endereço: Av. João Paulo II, S/N – Curió Utinga
- Funcionamento: Quarta a segunda-feira e feriados, das 6h às 17h
- Entrada Gratuita. Estacionamento: R$10/2h para carro e moto (R$8 a cada fração de hora)
- Atividades: Rapel, Tirolesa, Boia Cross, Caiaque
- Mais informações: @amazonia_aventura
2. Mangal das Garças – Parque Zoobotânico
O Mangal das Garças, situado às margens do Rio Guamá, é um exemplo de revitalização urbana que combina lazer e ecoturismo. O parque oferece uma visão imersiva da vegetação típica da Amazônia, incluindo diversas atividades de educação ambiental.
- Endereço: R. Carneiro da Rocha, s/n – Cidade Velha
- Funcionamento: Terça-feira a domingo, das 8h às 18h
- Entrada gratuita, exceto para espaços monitorados: R$9 (inteira) e R$4,50 (meia).
- Atividades: Borboletário, Vista do Farol de Belém, Memorial Amazônico da Navegação
- Atrações diárias e gratuitas: Alimentação de animais, como iguanas e garças, e apresentações de aves.
3. Bosque Rodrigues Alves
O Bosque Rodrigues Alves é uma área de floresta amazônica preservada com 150 mil metros quadrados de vegetação nativa, oferecendo um ambiente natural perfeito para quem busca conexão com a natureza em Belém.
- Endereço: Av. Almirante Barroso, 1622
- Funcionamento: Terça-feira a domingo, de 8h às 14h
- Ingressos: R$2
4. Museu Paraense Emílio Goeldi
O Museu Paraense Emílio Goeldi é uma referência em ecoturismo e biodiversidade amazônica, com um parque de 5,4 hectares de vegetação nativa, perfeito para quem busca conhecer a flora e fauna da região de Belém.
- Endereço: Av. Magalhães Barata, 376
- Funcionamento: Quartas-feiras a domingo, de 9h às 13h
- Ingressos: R$3
5. Passeio de Caiaque – Baía do Guajará
Explorar a Baía do Guajará em caiaque é uma experiência única para os amantes do ecoturismo e aventura. Diversas empresas, como a Marenteza Canoagem, oferecem passeios pelos rios que cortam Belém e seus arredores.
- Informações: @marenteza_canoagem
6. Ilha do Combu – Ecoturismo e Gastronomia Local
A Ilha do Combu, distante apenas 1,5 km do centro de Belém, é um destino ideal para quem deseja explorar a rica biodiversidade da Amazônia e saborear pratos típicos em restaurantes locais.
- Endereço do Terminal Hidroviário: Praça Princesa Isabel – Condor
- Passagens: R$24,00 ida e volta (grátis para crianças até 5 anos, idosos e pessoas com deficiência).
7. Ilhas de Ananindeua – Ecoturismo no Rio Maguari
As Ilhas de Ananindeua, situadas ao redor do Rio Maguari, são um excelente destino para quem busca atividades como canoagem, remo e stand-up paddle.
- Funcionamento Marina Canto da Ilha: Quinta-feira a segunda-feira, das 8h30 às 18h
8. Ilha de Mosqueiro – Praias e Gastronomia Típica
A Ilha de Mosqueiro, famosa por suas praias de água doce, é um destino perfeito para quem deseja relaxar e aproveitar a gastronomia local com destaque para camarões e peixes frescos.
9. Ilha de Outeiro – Praias e Cultura Local
A Ilha de Outeiro é conhecida por suas praias de água doce e a rica cultura local, com destaque para a Praia do Amor e Praia Grande. A região oferece uma ótima infraestrutura de lazer e gastronomia.
10. Ilha de Icoaraci – Cultura e Tradição
A Ilha de Icoaraci, conhecida como “Vila Sorriso”, encanta com suas peixarias tradicionais e a famosa água de coco, perfeita para quem deseja uma imersão na cultura local.
11. Ilha de Cotijuba – Biodiversidade e Ecoturismo
A Ilha de Cotijuba é uma Área de Proteção Ambiental, perfeita para quem deseja conhecer as praias paradisíacas e a rica fauna e flora da Amazônia, a apenas um curto trajeto de barco de Belém.
- Acesso: Embarcação sai do trapiche de Icoaraci