DANIEL SANTOS

Prefeito de Ananindeua é multado em R$ 1,4 milhão por destruição ambiental

Prefeito de Ananindeua investigado pelo MPPA e multado pelo Ibama por destruição de floresta na Amazônia. Saiba mais

Daniel Santos é dono de cinco fazendas que aparecem no nome dele, da esposa e da mãe, além de milhares de cabeças de gado
Daniel Santos é dono de cinco fazendas que aparecem no nome dele, da esposa e da mãe, além de milhares de cabeças de gado

Além de investigado pelo Ministério Público do Pará (MPPA), o prefeito de Ananindeua, Daniel Barbosa Santos, também está na mira da imprensa nacional. Segundo o blog do jornalista Matheus Leitão, da revista Veja, o prefeito foi multado em R$ 1,4 milhão pelo Ibama, o instituto brasileiro do Meio Ambiente, porque destruiu “279,5 hectares de floresta nativa do bioma Amazônico, sem autorização da autoridade ambiental”. A área destruída equivalente a quase 300 campos de futebol. Fica no município de Tomé-Açu, no Nordeste do Pará, onde o prefeito e familiares dele adquiriram várias fazendas e milhares de cabeças de gado, além de cavalos de raça, como mostrou o DIÁRIO.

São pelo menos cinco fazendas que aparecem nos CPFs de Daniel, da esposa dele, a deputada federal Alessandra Haber, e da mãe dele, Deuseny Barbosa Santos, quando se consultam os sistemas da Semas, a secretaria estadual de Meio Ambiente. Mas não há fazendas na declaração de bens de Alessandra à Justiça Eleitoral, em 2022, quando ela informou um patrimônio de apenas R$ 700 mil.

Mas foi na fazenda “Agropecuária JD1”, que pertenceria a Alessandra, que o Ibama flagrou a devastação ambiental. Que, além da multa milionária, também levou ao embargo daquela área. O que significa que ela não poderá ser usada em nenhuma atividade, até que se recupere da destruição que sofreu.

As cinco fazendas somam 1.800 hectares e parecem formar uma área contínua, segundo as coordenadas geográficas. Mas, em julho de 2022, a Exagro Consultoria, do estado de Minas Gerais, informou, em seu Instagram, que a fazenda da Agropecuária JD, em Tomé-Açu, possuía 4.200 hectares, só de área de pasto, além de 4.869 cabeças de gado. Na época, a Exagro havia sido contratada para planejar as atividades da empresa. Daí ter de possuir informações precisas. Agora repare na coincidência de nomes entre a área embargada, que seria de Alessandra, e a Agropecuária JD Ltda (CNPJ 34.381.158/0001-70). Sabe quem é o único dono dessa empresa? Ele mesmo, o prefeito Daniel Santos.

Segundo a Receita Federal, a Agropecuária JD Ltda foi aberta em julho de 2019 e possui um capital social de apenas R$ 100 mil. No entanto, o preço mais barato que o DIÁRIO localizou na internet, em meados deste ano, para fazendas em Tomé-Açu, foi de R$ 5.500,00 por hectare. Mas essa fazenda possuía apenas água, luz, um curral “funcional” e um barraco. Já para fazendas mais bem estruturadas (como parecem ser as de Daniel), o preço chegava a R$ 25 mil por hectare.

Então, só essas 5 fazendas, que somam 1.800 hectares, valeriam, no mínimo, cerca de R$ 10 milhões. Mas se verdadeiras as informações da Exagro, só os 4.200 hectares da fazenda da Agropecuária JD Ltda valeriam pelo menos R$ 23 milhões. A conta é simples: basta multiplicar a quantidade de hectares por R$ 5.500,00.

Prefeito tem quase 5 mil cabeças de gado

No entanto, essa é apenas uma parte da fortuna do prefeito. Ainda há as 4.869 cabeças de gado, informadas pela Exagro. Cujo valor mais baixo, encontrado na internet, em meados deste ano, foi de R$ 2.000,00 a unidade. O que significa que esse rebanho deve valer, no mínimo, R$ 9,7 milhões. Mas o DIÁRIO ainda localizou dois aviões em nome da Agropecuária JD Ltda. O primeiro é um jatinho fabricado pela Textron Aviation, ano 1999, com 8 assentos, adquirido em março do ano passado. No mercado, um aparelho similar custa cerca de 2 milhões de dólares, ou mais de R$ 12 milhões.

O outro avião é um King Air, fabricado pela Beech Aircraft, ano 1981, modelo F90, com 10 assentos e dois motores turbo-hélices, que custa cerca de 1,5 milhão de dólares, ou cerca de R$ 9 milhões. Ele foi transferido para a Agropecuária JD no último 2 de maio, pelo Hospital Santa Maria de Ananindeua, do qual o prefeito foi sócio e cujo capital social registrado na Receita Federal é de apenas R$ 800 mil. No entanto, a Justiça teria barrado essa transferência, porque ela ocorreu após o bloqueio dos bens do hospital. Que é investigado, junto com Daniel e outros, pelo MPPA, devido ao desvio de R$ 261 milhões do Iasep (o instituto de assistência dos servidores públicos estaduais), através de superfaturamentos de serviços, entre outras fraudes.

Mas a fortuna do prefeito ainda inclui cavalos da raça mangalarga marcha picada, que a Agropecuária JD Ltda vem adquirindo do Haras Cibele Fraga, do estado de Sergipe, e em leilões, como mostram várias postagens nas redes sociais. São cavalos caros, especialmente os garanhões, que podem chegar até a R$ 60 mil. E só do Haras Cibele Fraga, o prefeito comprou uns 10 desses cavalos, pelo menos.

No entanto, não há, nas declarações de bens de Daniel e de Alessandra à Justiça Eleitoral, qualquer menção à cavalos de raça, rebanhos e aviões. E das 5 fazendas, só duas foram informadas por ele, em anos anteriores: a Agropecuária JD, da qual ele declarou apenas o capital social de R$ 100 mil; e uma “propriedade rural localizada em Tomé-Açu”, que ele avaliou em apenas R$ 350 mil.

Texto de Ana Célia Pinheiro