Pará

Pará já registrou 12 afogamentos fatais em 2023

Todo cuidado é pouco nas praias. Foto-Wagner Santana/Diário do Pará.
Todo cuidado é pouco nas praias. Foto-Wagner Santana/Diário do Pará.

Carol Menezes

O aumento do número de naufrágios registrados no ano de 2022 puxou para cima a quantidade de vítimas fatais de afogamento naquele ano, segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Pará (CBM-PA). Só nos primeiros dias de 2023 a corporação registrou 17 ocorrências, sendo 12 delas fatais – um número não muito distante da média mensal do ano passado, de 19,25, de um total de 231 mortes acumuladas entre janeiro e dezembro.

Assessor de imprensa do CBM-PA e da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, o major Leonardo Sarges afirma que os números de 2022 representaram 73 casos fatais a mais em relação ao ano de 2021, quando foram 158 óbitos por afogamento – ou um acréscimo de 46%.

“Esse aumento também é atribuído ao fato de que em 2022 nós tivemos um maior número de naufrágios, ocorrências que vitimizam um número maior de pessoas em um mesmo incidente” justifica. Um dos casos emblemáticos do ano passado, ocorrido em setembro, o naufrágio do Dona Lourdes II, que saiu da Ilha do Marajó sem autorização para navegar e de um porto clandestino, afundou próximo da Ilha de Cotijuba, bem próximo de Belém, matando 23 passageiros de uma única vez.

O Pará possui maior rede hidronavegável do Brasil: de seus 144 municípios, 72 possuem acesso por água e praias tem características diversas. Ambientes muito procurado pela população, sobretudo nos períodos festivos, como carnaval, férias escolares, Natal e réveillon, as praias que mais estatisticamente falando tem maior número de óbitos por afogamento são: praia do Vai Quem Quer, na Ilha de Cotijuba; a praia da Brasília, na Ilha de Outeiro; a praia do Paraíso e do Marahu, na ilha de Mosqueiro; e a praia do Atalaia, em Salinas.

“Esses números, esses óbitos por afogamento nessas praias citadas têm relação direta com as características morfológicas e perigos que as praias apresentam. Maioria é de praias de tombos, que tem correntes de retorno, profundidade considerável, fortes ondas e correnteza bastante acentuada na região”, detalha o major Leonardo Sarges.

Em primeiro lugar, prevenção. Em segundo e terceiro, prevenção também.

A corporação faz recomendações gerais, que servem tanto para praia, piscina, açude, rios: a pessoa deve, primeiramente, buscar a orientação do guarda-vidas local para que ele possa falar sobre as características da praia; não pular de cabeça quando chegar no ambiente que não conhece, não conhece a profundidade, não conhece se tem pedra, não conhece se tem alguma estrutura submersa que ela não está visualizando; evitar saltos de qualquer forma, porque pode cair de mal jeito e se machucar; evitar utilizar equipamentos que passam uma falsa sensação de segurança, como boias de braço ou de câmara de pneu, colchões, bola, e o material adequado de salvatagem, que é o colete salva-vidas.

Com crianças no cenário, todo e qualquer deslize pode se transformar em algo gravíssimo e mesmo fatal

Para além das recomendações gerais, com pequeninos em volta, o cuidado beira o exagero, porém é necessário.

“Jamais abandonar a criança no ambiente líquido sozinho, seja na praia, seja na piscina ou seja no banho dentro de casa. No ambiente aquático, tem que ficar com a criança à distância de um braço estendido do adulto, porque se ela escorregar, se ela afundar, se ela for arrastada para uma onda, o adulto consegue então apanhar essa criança e puxa-la para si”, explica.

De novo as características das águas de nossa região justificam tanto cuidado. Por serem turvas em sua maioria, se a criança afunda, o adulto fica com dificuldade de enxergar e não consegue pegar e puxar para a  superfície rapidamente, o que vai fatalmente provocar o afogamento e podendo evoluir para o óbito.

“Mais uma vez prover para a  criança o equipamento adequado, que é o colete salva-vidas, não confiar em boias e bolas e qualquer outro equipamento que possa ser utilizado que é inadequado para. Não permitir que a criança se afaste da margem de segurança nem que fique fazendo saltos para dentro de piscinas ou para praia, ela pode se machucar”, orienta.

A ajuda inadequada não só atrapalha como pode até matar.

O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil advertem que, em caso de afogamento, se você não há os conhecimentos e as técnicas necessárias para fazer o salvamento ou resgate, não deve-se tentar pessoalmente salvar, por mais desesperador que seja a situação.

“Não vá ao encontro dessa pessoa na água, porque você pode se tornar uma vítima de afogamento fatal. Viu um afogamento, acione imediatamente o Corpo de Bombeiros se estiver na praia, busque um guarda vidas. E em outro ambiente, ligue para 193 e acione socorro imediatamente”, recomenda o major.

Praia não é bicho-papão, mas o que garante a diversão é a segurança

Vai entrar na água? Não custa obedecer a margem de segurança, que é água na altura do umbigo, com a possibilidade da pessoa de voltar para praia, de retornar com segurança para o ambiente onde antes se encontrava.

Se a pessoa começa a avançar essa margem de segurança, essa profundidade aumentada ela pode não conseguir mais tocar o pé no solo e fica à mercê das correntezas e das fortes ondas. Por isso a margem de segurança, segundo o a autoridade militar é um item fundamental para que a pessoa não venha sofrer afogamento.

Outro detalhe extremamente importante e que deve ser evitado é a associação bebida alcoólica e ida ao meio líquido. De acordo com a autoridade militar, 65% das ocorrências de afogamento têm relação com a bebida alcoólica.

Praias do Pará também não são os melhores lugares para bancar o Michael Phelps (ex-nadador americano considerado o maior atleta olímpico de sua categoria, tendo batido 36 recordes mundiais) e superestimar sua capacidade de natatória.

“O perigo está posto quando a pessoa acredita que pode chegar até determinado ponto, que pode atravessar a piscina, acredita que consegue chegar até uma boia, acredita que pode fazer determinado nado atravessando uma correnteza, por exemplo, e ela não tem as condições de fazê-lo e acaba sendo vítima de afogamento“, associa.

O major sugere que se a pessoa quer fazer uma prática esportiva de natação, ela deve nadar paralelamente à praia e não se afastando da margem, ou seja, não no sentido perpendicular da praia, indo cada vez mais para o fundo porque se ela tiver uma câimbra, se ela tiver um mal-estar, se ela tiver algum mal súbito, afastado da praia ela não vai ter condições de voltar. “Se ela tiver nadando paralelamente a praia é fácil ela fazer o sinal, alguém vai socorrer rapidamente ou ela mesmo consegue retornar para a praia”, finaliza o major Leonardo Sarges.