Ana Laura
Falta de informação e medo ainda rondam a palavra câncer — termo genérico para um grande grupo de doenças que pode afetar qualquer parte do corpo. Para combater esses dois males que dificultam a prevenção e o diagnóstico da doença, o dia 4 de fevereiro foi escolhido para datar o Dia Mundial do Câncer.
Neste dia, o objetivo da iniciativa global organizada pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), é aumentar a conscientização e a educação mundial sobre a doença, além de mobilizar a sociedade para o controle do câncer.
Segundo o Instituto de Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS), entre os mais incidentes estão os cânceres que surgem no pulmão, intestino, próstata, mama e colo do útero. Sobre este último, trazendo para o panorama regional, mulheres negras, mulheres com baixa escolaridade e mulheres da Região Norte, são as mais acometidas pelo câncer do colo de útero. É o que diz a Fundação do Câncer, em publicação inédita, o Info.Oncollect, lançado em novembro do ano passado.
Para o médico oncologista clínico, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC) e pesquisador em novos tratamentos para o câncer, Luís Eduardo Werneck, a desinformação sobre as causas da doença ainda é o principal obstáculo para o combate e prevenção e, para diminuir os números de casos, é preciso trabalhar intensamente em campanhas informativas. “Aqui no Pará, nós temos a maior incidência do câncer de colo de útero. Há quase 10 anos o Sistema Único de Saúde disponibiliza as vacinas contra o Papiloma Vírus Humano (HPV), principal vírus causador da doença. Porém, a adesão à vacinação ainda é baixíssima, então, é preciso reforçar a divulgação de informações com relação a este tipo de prevenção”, ressalta.
A desinformação não só prejudica a prevenção como também o tratamento de quem vive com a doença. De acordo com Luís Eduardo Werneck, as principais dúvidas dos pacientes oncológicos giram em torno de saber se o estado é grave e se vai morrer. “A desinformação é total, as pessoas não sabem o que é câncer, não sabem como evitar, o que pode acontecer. Todo câncer é grave, mas nem todo o câncer leva ao óbito. A questão é identificar o estágio da doença, definir qual o melhor tratamento e não tratar o câncer, o tumor, mas tratar o paciente oncológico, tratar a família que é o mais importante neste processo”, afirma.
Educação para ajudar na prevenção
l Como medida de prevenção a longo prazo, aponta o médico Luís Eduardo Werneck, uma iniciativa inovadora seria inserir na carga horária das escolas municipais e estaduais, aulas de informação em saúde, onde os menores teriam a possibilidade de aprender sobre cuidar de si e dos outros, conhecer o seu corpo, entender as doenças e como evitá-las.
l O oncologista clínico ainda pontua que o acesso digno ao tratamento de pacientes oncológicos é um grande diferencial para o combate à doença. “Precisamos como sociedade, estabelecer parâmetros e diretrizes para que, primeiramente, possamos tratar as pessoas com câncer de maneira digna. Aqui no Pará isso vem sendo feito em hospitais referências como o Hospital Ophir Loyola e o Hospital Universitário Antônio Barreto, que estão aprimorando o atendimento ao paciente oncológico”.
Eficiência do tratamento depende do diagnóstico precoce
Novos procedimentos para tratar os pacientes com câncer vêm surgindo ano após ano, porém, a eficiência do tratamento ainda depende de um diagnóstico precoce. Apesar da ânsia da população de reconhecer os sintomas de um possível câncer logo na fase inicial, o oncologista clínico comenta que quase nenhum câncer é de fácil percepção. “Nos estágios iniciais, quase não há sintomas a serem percebidos, que é onde eu gostaria de percebê-lo. O câncer normalmente é uma doença silenciosa. Porém, o mais evidente deles é a perda de peso sem explicação, sem dieta, sem exercício. A expectoração com sangue pode ser um sintoma em casos de cânceres de pulmão e estômago. Mulheres com câncer de mama podem sentir um caroço, mas para sentir esses sintomas, geralmente a doença já está em estado avançado”, pontua.
Segundo ele, ainda não existe uma forma de prevenção imediata para o câncer, mas de acordo com o oncologista, isso precisa ser trabalhado para as gerações futuras. No entanto, algumas atitudes podem diminuir as chances de desenvolver a doença.
TABAGISMO
Não fumar está no topo da lista, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o tabagismo tem relação com vários tipos de câncer e é responsável por cerca de 90% das mortes por câncer de pulmão. O oncologista alerta, inclusive, para o perigo dos cigarros eletrônicos, mais conhecidos como “vape”.
“Os riscos para quem adere a esse tipo de cigarro se mantêm os mesmos ou são até piores! Eles apresentam substâncias carcinogênicas e tóxicas às células. Não fumar nunca, nem cigarro convencional, nem cigarro eletrônico, é o mais importante método de prevenção ao câncer”, completa.
Segundo informações da Organização Pan-Americana de Saúde (Opan), cerca de um terço de todos os casos de câncer poderiam ser evitados trabalhando os principais fatores de risco, como tabagismo, abuso de álcool, dieta inadequada e inatividade física. “Controlar o uso de sal e açúcar, praticar atividade física, fazer exames de rotina e aprender a conviver com situações de estresse é muito importante. Nossos costumes alimentares, como sentimos e reagimos às situações estressantes, tudo afeta a saúde do nosso corpo”, alega Luís Eduardo.
Para finalizar, o oncologista comenta que, felizmente, previsões confiáveis de organizações e instituições da área, afirmam que nos próximos 15 anos, o número de pacientes oncológicos pode dobrar, porém o número de mortes será reduzido em até 40%. “É um sinal de que a oncologia e os médicos oncologistas vêm avançando. Todos ganham com isso”.