HISTÓRIA

Mais um espaço que ficará apenas na memória dos belenenses

O anúncio do fechamento da loja O Mandarim rememorou a fama que Belém tinha de cidade do “já teve”, quando locais históricos cerraram as portas em meio à conjuntura local. Relembre alguns deles

A loja do Mandarim funcionava há mais de 70 anos vendendo uma infinidade de itens em pleno centro de Belém.
A loja do Mandarim funcionava há mais de 70 anos vendendo uma infinidade de itens em pleno centro de Belém. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

O anúncio do fechamento da septuagenária O Mandarim, loja de confecções, armarinhos e uma infinidade de itens no centro de Belém, no fim deste mês de novembro, engrossa a lista de locais que encerraram as atividades após um longo período de atividades – fazendo lembrar que, até um tempo atrás, a capital paraense já foi conhecida como a cidade do “já teve”, justamente por conta desses encerramentos, que levam consigo um pouco da história da cidade também.

Mas afinal, o que justifica alguns lugares terem de acabar enquanto alguns outros se mantém, apesar dos percalços? Professor e historiador, Michel Pinho vai além: avalia que o fechamento desses lugares que os paraenses consideram icônicos levam também um pouco da história empresarial de Belém. “Porque é uma atividade tão importante para a cidade desde o século XIX até hoje, que é o comércio. O fechamento dessa loja, O Mandarim, em específico mostra uma incapacidade que nós temos de salvaguardar espaços importantes”, explica.

Pinho atenta para o fato de que na verdade são poucos os espaços de Belém com 20, 30 ou 40 anos de funcionamento, muito em função do preço do aluguel dos imóveis e a falta da infraestrutura. “Uma parte considerável de atividades econômicas vão fechando com o tempo em função desses fatores”, atesta.

Pinho classifica espaços restaurantes, padarias, bares e outros que seguem em atividade como espaços de luta. “Em grande parte são estabelecimentos familiares que têm como atividade a sobrevivência de uma geração inteira dentro da mesma família. Isso é muito importante, porque garante uma identidade para o lugar e também com uma visão de futuro, uma repaginação, uma realocação de recursos, uma ressignificação das suas atividades”, desenha.

CONJUNTURA

Mestre e Doutor em Antropologia e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Alexandre Cunha, vê duas situações que explicam o eventual fechamento desse tipo de estabelecimento de longo tempo de atividades: o fato de serem empresas familiares que, por vezes, não conseguem repassar o negócio para as próximas gerações, e a própria conjuntura econômica. “Empresas familiares que fecharam em Belém acabaram compradas por outros empreendimentos em momento de muitas dívidas. Por outro lado funciona o mercado e concorrência com os que vieram de fora”, relaciona.

Cunha lembra que, mesmo quando as empresas vão iniciar tem fase de maturação, e acabam por vezes não passando de cinco anos de funcionamento. “Justamente porque vão surgindo outras empresas no mercado que são atraídas por experimentações. A clientela que muda. E outra não consegue se fixar”, detalha.