O presidente Lula (PT) foi submetido na manhã desta quinta-feira (12) no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, a uma embolização, procedimento para reduzir o risco de novo sangramento intracraniano.
“Procedimento foi com sucesso, acabou. Presidente está acordado, falando”, disse o cardiologista Roberto Kalil, médico do petista. Segundo ele, “não muda absolutamente nada” na sequência de recuperação do presidente, que tem alta prevista para o início da próxima semana.
O presidente está internado no Hospital Sírio-Libanês em São Paulo após realizar cirurgia de emergência na terça-feira (10) em razão da constatação de um hematoma de três centímetros entre o cérebro e uma das membranas (meninge) que envolvem o órgão.
O hematoma se formou após quase dois meses de uma queda no Palácio da Alvorada, em 19 de outubro.
Na ocasião, Lula caiu de um banco ao cortar as unhas, segundo seu relato, e teve que receber pontos na nuca. Desde então, tem feito exames periódicos de acompanhamento.
Em entrevista, o neurorradiologista José Guilherme Caldas disse que o procedimento desta quinta-feira, similar a um cateterismo, visou interromper o fluxo de sangue que abastece a cápsula formada pelo hematoma.
Foram injetadas na artéria femoral, por meio de uma sonda, partículas de um componente químico similar a uma gelatina no vaso sanguíneo que leva ao local, com o objetivo de entupi-lo.
Com isso, o risco de novo sangramento passa a ser “desprezível”, segundo os médicos.
A partir da alta, prevista para segunda ou terça-feira, o presidente retornará a Brasília e poderá retomar a agenda de trabalho aos poucos, com com repouso e sem atividades físicas por algumas semanas, de acordo com os médicos. As visitas seguem vetadas até o final da internação, com exceção dos familiares do presidente.
Segundo Kalil, o presidente estará de “alta hospitalar”, mas não “alta médica” e terá que fazer “repouso relativo”.
Ele falou que, neste momento, Lula não está trabalhando, mas ressaltou que “quem trabalha com a mente nunca para”.
“Orientação é o repouso relativo, evitar qualquer tipo de estresse, que é impossível na posição dele inclusive, mas acredito que, nos próximos dias, mesmo no hospital, ele vai conversar com as pessoas, com os assessores. Isso é natural, visto que, veja, ele está sentado, conversando, comendo, andando para lá e para cá”, afirmou.
Também presente na coletiva, o neurologista Rogério Tuma reforçou o objetivo de evitar visitas que possam levar algum estresse ao presidente.
“Ele está muito bem e apto a praticar qualquer ato de vida civil, ele está cognitivamente íntegro. A única recomendação medica é que ele não se esforce nem física e nem mentalmente, então a solicitação [de que] não trabalhe enquanto está no hospital e não passe nenhum estresse ou que receba visita que leve a ele alguma dúvida ou ansiedade”, disse.
A equipe médica voltou ainda que Lula não tem nenhuma lesão cerebral em decorrência do acidente e da hemorragia.
O procedimento desta quinta-feira e a cirurgia de emergência de terça foram realizada após o petista reclamar de dores na cabeça e sonolência ao longo da segunda-feira (9).
Ele também teve sintomas similares aos de uma gripe e chegou a ter febre, em um quadro viral, segundo a infectologista Ana Helena Germoglio, que é coordenadora-geral da equipe de Saúde da Presidência.
O PROCEDIMENTO
A embolização das artérias meníngeas -que irrigam as meninges, membranas que revestem o sistema nervoso central- tem objetivo de interromper o fluxo de sangue em uma região do cérebro.
Estudo publicado no mês passado na revista científica New England of Medicine mostra que a recorrência de sangramento em pacientes submetidos a uma cirurgia como a de Lula foi de 9%, enquanto entre aqueles operados e, depois, embolizados, foi 3%. Pesquisas anteriores mostraram diferenças ainda maiores -de 11% para 3%.
Ana Gandolfi, coordenadora do setor de emergências neurocirúrgicas da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), explica que o procedimento não aumenta o tempo de recuperação de Lula.
“Ele lembra um pouco um cateterismo. Só que, em vez de chegar até o coração, a gente faz um cateterismo para chegar nas artérias da meninge. É um procedimento endovascular, você coloca um cateter dentro da artéria. É menos invasivo, não tem corte.”
Em situações normais, explica a médica, recomenda-se 24 horas de repouso. “Como o presidente já está internado, e a programação é ficar uma semana, então não vai mudar muito nesse sentido.”
A neurocirurgiã também reforça que a embolização não tem relação com a cirurgia feita por Lula para a drenagem do sangramento.
“Às vezes, o pessoal fala: ‘será que a cirurgia deu errado?’ Não é isso. A cirurgia pode ter sido ótima, mas você faz a embolização para tentar diminuir a chance de recidiva, que a gente sabe que é relativamente alta.”
No SUS, o procedimento tem sido oferecido em protocolos de pesquisa. Ele também não é ofertado pelos planos de saúde por não estar incluído no rol de procedimentos da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).