Dr. Responde

Câncer como o de Glória Maria surge em até 40% dos casos

Ana Botallo

FOLHAPRESS

A jornalista Glória Maria teve sua morte confirmada ontem, três anos após o diagnóstico de um câncer no pulmão que evoluiu para metástases cerebrais. Os tumores sólidos, como câncer de pulmão e de mama, estão associados com uma alta incidência de metástases no cérebro nos estágios mais avançados da doença.

Segundo o oncologista do Centro de Referência de Tumores de Pulmão e Tórax do Hospital A.C. Camargo, Helano Freitas, é importante ter em mente que pacientes diagnosticados com um desses tipos de câncer podem – e devem – ser examinados para metástases cerebrais em todas as fases da doença.

“Todo mundo que foi diagnosticado com alguns tipos de câncer, e câncer de pulmão é um deles, precisa investigar metástase cerebral. E o quanto antes for feito esse diagnóstico melhor em termos de tratamento”, explica.

O câncer de pulmão, de acordo com Freitas, é dividido em três tipos principais: os tumores de pequenas células, que são mais agressivos e correspondem por cerca de 13% dos casos de câncer de pulmão; os tumores não pequenas células (non-small cell lung cancer, em inglês), menos agressivos; e, dentro deles, o mais comum é do tipo adenocarcinoma, que pode ter uma incidência de até 40% no desenvolvimento de metástases cerebrais. O outro tipo de câncer de pulmão não pequenas células é o carcinoma de células escamosas.

METÁSTASES

Metástases são focos de células tumorais que podem se espalhar pelo corpo, a partir do ponto de origem (no caso, do tumor inicial) e continuam a replicação, provocando novos focos da doença em outros órgãos. As metástases em pacientes com câncer de pulmão ocorrem com mais frequência no cérebro, no fígado, nas glândulas adrenais (antigamente chamadas suprarrenais) ou nos ossos.

De acordo com o oncologista clínico do Inca (Instituto Nacional do Câncer), Luiz Henrique Araújo, o câncer de pulmão é um dos que têm maior incidência de metástases cerebrais, podendo atingir até metade dos pacientes, e cerca de 10% dos novos casos que são diagnosticados já apresentam o estágio metastático no cérebro.

As causas, segundo o médico, são da biologia e do tipo do tumor, e não tem ligação a fatores de risco, como idade, sexo e comorbidades. Quanto mais tempo desde o aparecimento do câncer, porém, maior o risco de focos metastáticos, explica. “Quando descobrimos um câncer de pulmão em estágio muito inicial, com tumores ainda muito localizados nos pulmões, a chance de cura é de até 90%, mas à medida que ele se torna mais avançado e metastático, o próprio tratamento torna-se mais complexo”, avalia.