Com a missão de democratizar a música instrumental, o Festival Choro Jazz celebra seus 15 anos voltando às origens, com a última edição do ano na vila de Jericoacoara, na cidade de Jijoca de Jericoacoara, no Ceará. Depois de ter passado por Soure e Belém, no Pará, e ainda pelo Crato, e Fortaleza, no Ceará, o evento iniciou sua programação de encerramento desta edição no dia 3, seguindo até este domingo, 8 de dezembro. João Bosco, A Cor do Som, Mônica Salmaso, André Mehmari, Vanessa Moreno, Nayra Costa, Nonato Lima e Marcio Resende, Lia de Itamaracá (a grande homenageada desta edição) são alguns dos nomes que sobem o palco na praça principal de Jeri, como é carinhosamente chamada.
“A sensação que tenho é que esses 15 anos trouxeram muitos presentes para gente. Começar no Pará e terminar no Ceará, esse encontro que se consolidou, e a gente tem trazido para dentro do projeto, é uma alegria muito grande. É como se estivéssemos voltando ao nosso útero.Passamos por muita coisa para conseguir fazer um projeto de democratização da música instrumental, uma música tida como elitista, a que as pessoas não têm muito acesso”, falou Aline de Moraes, coordenadora da Iracema Cultural, responsável pela realização do evento, mais uma vez apresentado pela Petrobras.
Ela ainda destacou que Jericoacoara, um lugar maravilhoso, dentro de um parque nacional, apesar de ser rota turística, não tem uma programação cultural muito forte no decorrer do ano. “Estou aqui há mais de um mês convivendo com as pessoas e elas dizendo: ‘poxa, que legal que o festival voltou’, porque no ano passado não teve. São 15 anos, mas essa é a 12ª edição. Na pandemia, fizemos um festival on-line, que a gente não conta, e no ano passado estávamos nos reorganizando para essa grande jornada de viajar. Então, voltar para casa com o abraço do povo de Jericoacoara é muito emocionante. Esquecemos que um lugar tão turístico, ele só existe porque tem pessoas e essas pessoas são muito importantes. E a história do festival é sobre pessoas”, acrescentou Aline.
VOLTA AO PARÁ
A produtora cultural confirmou que as etapas paraenses deram tão certo que o festival vai voltar a ser realizado por aqui em 2025. “Será em Belém e Soure. Aliás, cabe dizer que ainda em dezembro, saindo daqui, tenho algumas viagens de trabalho, mas meu final de ano é no Pará, para começar a pensar no final de julho, porque queremos voltar ao Pará com o projeto. Nunca imaginei que esse casamento pudesse dar tão certo e que fôssemos tão irmãos assim em termos de cultura”, contou Aline, cearense radicada em São Paulo, mas que se considera uma cidadã do mundo. “Me conectei com o Pará de uma forma tão grande que é para lá que eu vou”, disse ela.
A edição em Jericoacoara conta com uma novidade, o “Espaço Choro Jazz Petrobras”, que tem como propósito valorizar a economia criativa em todas as suas nuances, assim como as pessoas do local. A ideia nasceu a partir da itinerância do festival no Pará.
“Ela está aqui hoje, mas nasceu no Pará, estou até arrepiada. O Festival Choro Jazz historicamente se conecta muito com o choro, o jazz e a música instrumental. Desde que cheguei como sócia do Capucho, idealizador do projeto, pensamos em olhar para as pessoas, é a minha área. E no Pará nos conectamos com o povo paraense. Isso trouxe um efeito que fez a gente chegar aqui em Jericoacoara e dizer ‘a gente tem que se conectar’. Mas não só conectado como uma atração, eles têm que estar junto da gente. E aí nasceu a proposta desse espaço.
Aline destacou que a ideia é fazer sempre uma exposição, valorizar a cultura local. “Nesta edição, começamos com uma parceria com o Instituto Ser, e fizemos uma exposição sobre a Caju Cultura, um símbolo do Nordeste, com um fotógrafo daqui de Jericoacoara que é o Queijo. A gente viveu isso no Pará, ao trabalhar com o mestre Diquinho, com a mestra Amélia, com o Tambores do Pacoval e com o Arraial do Pavulagem, com as coisas que são da terra. É a gente entender que entre o choro e o jazz, necessariamente a gente passa pelas nossas raízes. E as nossas raízes estão na música tradicional, popular, na música que nasce do povo”, pontuou Aline.
A produtora ainda não pôde adiantar o que o projeto deve levar ao Pará em 2025, mas garante que terá muita coisa boa. “Não só de encontros que valorizam a cultura paraense, mas também de coisas que tenham conexão com as outras cidades”, disse ela.
VIVAS A LIA
Em 15 anos, é a primeira vez que uma mulher será homenageada. “Tivemos agora uma etapa no Pará, que é uma cultura matriarcal fortíssima, e agora teremos a nossa primeira mulher homenageada no Festival Choro Jazz, em Jericoacoara, que é a Lia de Itamaracá, um patrimônio da cultura nordestina. Ela é uma mulher que representa todos nós. Teremos ela sendo homenageada no domingo, fechando o festival com uma grande ciranda”, adiantou Aline.
Lia de Itamaracá ganha o palco de Jeri depois das 22h, ao lado da Banda Ciranda do Mundo, com Ligia Fernandes (guitarra), André Luis (trombone), Erick Amorim (teclado e contrabaixo), Max Bruno (bateria) e Antonio José (percussão). Ainda no domingo, há Armenina do Coco de Fulô, representando a cultura popular tradicional e os artistas de Jericoacoara, o saxofonista Jota P e Grupo.
No sábado, Vanessa Moreno, uma das mais aplaudidas cantoras e instrumentistas da nova geração, apresenta o espetáculo “Solar”, e em seguida tem o grupo A Cor do Som, com Armandinho Macedo na guitarra, Mú Carvalho no teclado, Dadi Carvalho no contrabaixo, Gustavo Schroeter na bateria e Ary Dias na percussão.
Mas muitas atrações de peso já passaram pelo festival desde terça-feira. Na última quarta, 4, foram três shows, começando pelo Trio Júlio, composto pelos irmãos Magno Júlio (percussão) e pelos gêmeos Marlon Júlio (violão sete cordas) e Maycon Júlio (bandolim), muito aplaudido pela plateia que lotou a praça, com repertório de ritmos brasileiros como samba, choro, baião e frevo.
Também subiram ao palco o duo formado por Nelson Ayres ao piano e Gabriele Mirabassi no clarinete, e o Nosso Trio, formado pelo contrabaixista paraense Ney Conceição, pelo guitarrista Nelson Faria e pelo baterista Leonardo Freitas.
A quinta, 5, abriu com Bianca Gismonti Trio, liderado pela aclamada pianista, ao lado de Fernando Peters no contrabaixo e Julio Falavigna na bateria, com uma sonoridade inovadora explorando rítmicas e harmonias inusitadas em temas autorais e arranjos inéditos para clássicos da música brasileira. Em seguida, a consagrada cantora Mônica Salmaso e o pianista André Mehmari mostraram seu show em homenagem a Milton Nascimento.
Já na sexta, o festival começou com o show “Canções em Movimento”, com Gelson Oliveira, Nelson Coelho de Castro e Zé Caradípia – todos nas vozes e nos violões, ao lado de Matheus Kleber nos teclados e Giovanni Berti na percussão. Paulo Sérgio Santos (clarinete), Mauricio Carrilho (violão) e Pedro Amorim (bandolim), do grupo O Trio, levaram o choro em grande destaque. E depois, uma das atrações mais esperadas, o João Bosco Quarteto, com o grande mestre da música brasileira ladeado por Ricardo Silveira (guitarra), Guto Wirtti (contrabaixo) e Kiko Freitas (bateria).
RETORNO CELEBRADO
Nos primeiros dias de festival, foi possível ver o público curtindo e aplaudindo muito cada atração. A volta do evento foi muito celebrada.
“A iniciativa do Capucho é maravilhosa, ele consegue fazer uma das melhores curadorias musicais de choro e jazz que conheço”, falou a advogada Valéria Corrêa, goiana que mora no Ceará. “Ele não traz só grandes talentos, faz um trabalho social, isso é maravilhoso”, destacou.
Já para a vendedora Elis Feitosa, todo mundo ganhou com o retorno. “O festival traz artistas de todo o país, promove cultura, oficinas musicais. Teremos João Bosco, minha gente, ao ar livre, sem ter nenhum tipo de preocupação. As pessoas vêm para cá respirar cultura, estamos superfelizes, porque estávamos sem nenhum evento”.
Para Antônio Capucho, idealizador e curador do festival, o momento é de alegria. “Estou feliz com o resultado. São 15 anos de muita luta, mas é uma luta boa. Ano que vem, vamos continuar com o patrocínio da Petrobras e estamos pensando em muitas coisas boas para o Pará, não fugindo do que vocês já viram lá. É uma mistura da música brasileira com a do Nordeste e do Norte”, adiantou Capucho.
Ele antecipou que as atrações vão se renovar, porque o país é muito rico e o Norte tem muita coisa. “Sonho com um encontro: Egberto Gismonti com os índios caruanas, da ilha do Marajó, com a Pajé Zeneida. A ideia é fazer essa junção.”
*A repórter viajou a convite da organização do evento
ON-LINE
Quem não está em Jericoacoara pode acompanhar o festival no perfil do YouTube @capuchoproducoes