Dorameiras com amor: Narrativas emocionantes conquistam cada vez mais o Brasil e o Mundo

Narrativas convidativas à emoção, com dramas e romances que conquistam um público cada vez mais diferenciado. A descrição é das séries asiáticas que ficaram conhecidas, no Brasil, como doramas. Espécies de novelas do mundo asiático, eles ganharam adeptos ao redor do globo e no Pará também. Até já podem ser considerados uma paixão nacional do brasileiro: em 2020, o país foi o terceiro do mundo que mais consumiu doramas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Coreia do Sul. Na época, o estudo do Ministério da Cultura, Esportes e Turismo foi realizado em 18 países pela Fundação Coreana para Intercâmbio Cultural Internacional.

As novelas asiáticas podem ter diferentes origens no mundo – coreanas, chinesas, japonesas e tailandesas. Os doramas, porém, são especificamente, os K-dramas, as novelas coreanas, de acordo com o público especialista no assunto. Já as japonesas recebem o termo de J-dramas e assim por diante. Eles existem há muito tempo, mas ganharam grande fama durante o período de reclusão da pandemia, no ano de 2020, e podem ser encontrados em diferentes plataformas digitais, como Youtube, Netflix, além do aplicativo de streaming Viki Rakuten, voltado especialmente para séries asiáticas.

A empreendedora Tatiana Oliveira, 44 anos, é ligada ao movimento Geek em Belém, coordenando eventos do tema, além de feiras K-pop. Uma aficionada por doramas, ela conta que ficou extremamente apaixonada pela forma como essas produções desenvolvem suas narrativas. E porque introduzem o espectador a um mundo completamente diferente do universo ocidental. São tão magnéticos, que as pessoas passam a ficar viciadas.

“Eu já assisti a mais de 200 doramas. Eles são bem diferentes de uma série ou uma novela ocidental, porque nos fazem refletir sobre temas em geral, além de trazerem mensagens de aprendizado. Uma das temáticas que mais gosto é o altruísmo. Eles propõem, por exemplo, que a gente pense primeiro nos outros antes de nós mesmos. No caso dos romances, eles são retratados de uma maneira mais pura, contando, por exemplo, a história de um amor da vida toda, em que os personagens se distanciam na juventude para trabalhar e estudar fora e se reencontram na vida adulta. Essa narrativa desperta curiosidade e nos faz imaginar como acontece esse reencontro. Isso é muito lindo, além das reflexões sobre a vida, a família e diversos outros temas dramáticos e empolgantes”, descreve Tatiana Oliveira.

A dorameira diz que começou a assistir a doramas através do app Viki, em 2020. “São séries de 16 episódios [em média], são voltadas para a cultura asiática, em geral, que é bem diferente da nossa. E isso foi o que me atraiu primeiro. Acho legal porque a maioria delas podem ser assistidas até por crianças. Eu tenho uma filha de 9 anos e desde os 6 ela assistia comigo. É uma série muito inocente, que pode ser vista em família porque não têm cenas impróprias para menores”, diz a empreendedora.

Foi a partir dessa paixão que Tatiana passou de professora à empreendedora no ramo de produtos coreanos e sentiu o desejo de reunir pessoas com o mesmo interesse. Dessa forma, ela idealizou o primeiro encontro das dorameiras de Belém, que ocorrerá neste domingo, 8, no restaurante Srta. Kim Korean, na Cidade Nova, em Ananindeua. Quando essa reportagem foi finalizada, todos os ingressos para o evento já tinham sido vendidos. “A maioria das pessoas que eu conheço diz que não consegue mais assistir a novelas, séries e outras produções que não sejam asiáticas, porque eles produzem num volume muito grande. E quando você maratona uma, quer ver a próxima. Isso se torna um hobby com o tempo”.

Ela lembra que seu primeiro dorama foi “Jardim de Meteoros”, seu preferido até hoje. E diz que, na pandemia, essas produções representaram algo muito importante para ela. Mas também conheceu situações parecidas. “Ouvi relatos de mulheres que tratavam uma depressão e os doramas as ajudaram a passar por isso, ou em situações difíceis parecidas. Outra coisa interessante é que esse público é de uma faixa etária entre 30 a 70 anos, e parte dessas pessoas dizem que os doramas chegaram na hora certa na vida delas”, conta.

Imersas na vida coreana

Assistir à primeira novela coreana foi como um divisor de águas na vida da cozinheira Helen Cardoso, 52. Dali em diante, ela se apaixonou de tal forma que fez uma imersão na cultura asiática. “Assisti a ‘Cinzas do Amor’ e depois ‘Vincenzo’. Daí não parei mais de ver doramas, virou a minha paixão. Tanto que me inscrevi em um curso para estudar mandarim e pretendo agora aprender coreano. Eu gosto daquela coisa clichê, do romance e daquela agonia que dá quando a gente assiste a um dorama”, afirma.

Helen passou a ver essas produções através da irmã, Marcela, mas a cozinheira acabou ficando mais empolgada que ela, fazendo uma lista de mais de 100 séries vistas e sue próximo passo é reprozir receitas coreanas. “Já escutei pessoas dizerem que a gente vive uma ilusão por assistir dorama. Mas acredito que a gente gosta porque acaba sendo um refúgio da nossa própria realidade, que muitas vezes é muito violenta. O meu preferido é ‘Moon Love’, que fala de uma viagem no tempo de uma mulher do século 21 para a dinastia Goryeo. Quando vi, me interessei a estudar a cultura coreana”.

Para a gerente de vendas Ellen Bitencourt Xavier, 42, um conjunto de coisas torna os doramas apaixonantes. “A atmosfera, as belas locações, os figurinos impecáveis, independente do gênero. Seja um belo melodrama com romance, um suspense ou comédia, os doramas retratam questões universais com sensibilidade e roteiros muito bem construídos”, diz.

“Observando o cotidiano dos personagens, descobre questões relevantes sobre a sua cultura, sobre as leis, as hierarquias, se envolve com os personagens e uma coisa vai puxando a outra. Mas o principal é que o dorama aborda questões sobre amor, amizade, família, perdas e superação. Tudo isso nos faz olhar para dentro. Para mim é uma terapia”, resume Ellen.

Para ela, o impacto positivo do dorama sobre suas vidas é o que faz querer compartilhar. “Daí vem a formação de grupos e a necessidade dos encontros. Pessoas de todos os cantos do país, compartilhando a mesma paixão por doramas e K-pop. Além disso, opinam sobre os lançamentos, a construção dos personagens, os atores, ídolos e seus novos trabalhos”.

A lista das dorameiras é sempre infinita, segundo a gerente de vendas. “A minha começou em 2016, com meu primeiro e inesquecível dorama, ‘Goblin’, que mistura romance, drama e fantasia. Agora, o mais novo lançamento que tem deixado dorameiras e dorameiros enlouquecidos é ‘Quando o telefone toca’. É um romance cheio de suspense, política e poder. É maravilhoso.”

Dorameira confessa, a coordenadora pedagógica Lorena Monteiro, 32 anos, criou até uma página dedicada às novelas asiáticas no Instagram chamada @apesardetudodorama. “Eu, como administradora de uma página e dorameira, já ouvi relatos de pessoas que também se identificaram com as histórias retratadas nos doramas, assim como eu. A gente se reúne, confraterniza, quer conversar e estar junto de outras dorameiras”, analisa.

“Os meus doramas favoritos são de temas policiais, de ação. Mas não quer dizer que não assista aos outros gêneros. Assisto a dramas, comédia romântica, documentários, realities shows, tudo o que vier das produções asiáticas, eu gosto. O meu top 1, que me fez criar minha página é ‘Apesar de Tudo Amor’, um drama que fala de relacionamentos em geral”, relata.

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