NATHALIA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manteve nesta quarta-feira (1º) a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano pela quarta reunião consecutiva -a primeira desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse.
A decisão do comitê veio em linha com a projeção consensual do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que essa era a expectativa unânime entre os analistas consultados.
A decisão ocorre em meio a um ambiente de juros altos, incertezas fiscais e ruídos gerados por falas de Lula e do primeiro escalão do governo -incomodados com o patamar elevado da Selic e seus efeitos negativos sobre a atividade econômica.
A preocupação de economistas decorre da possibilidade de reoneração de tributos federais sobre combustíveis a partir de março e do desenho da nova regra fiscal que substituirá o teto de gastos -mecanismo que limita o crescimento das despesas públicas à inflação registrada no ano anterior.
A aprovação da PEC (proposta de emenda à Constituição) que autorizou a ampliação de despesas neste ano também é apontada pelo mercado como uma sinalização de que o governo pode estar predisposto a uma política fiscal mais expansionista (mais gastos públicos, que pressionam a inflação e ameaçam o equilíbrio das contas do governo).
Diante do temor crescente, as expectativas de inflação tanto para este ano quanto para prazos mais longos pioraram desde a reunião anterior, em dezembro de 2022.
A inflação projetada para 2023 no boletim Focus da última segunda (30) é de 5,74%, quase um ponto percentual acima do teto do objetivo a ser perseguido pelo BC (4,75%). Isso representaria um estouro da meta pelo terceiro ano consecutivo.
Para 2024, período de maior relevância para a atuação do BC hoje, a expectativa para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu de 3,5% para 3,9% -já acima do alvo central (3%).
Pressionado, o BC ainda não dá sinais de quando pretende iniciar o afrouxamento monetário com corte da Selic. Com 2024 na mira, o colegiado volta a se reunir nos dias 21 e 22 de março para recalibrar o patamar da taxa básica.
O ciclo de alta de juros foi interrompido em setembro de 2022 pelo Copom depois do mais agressivo choque desde a adoção do sistema de metas para inflação, em 1999.
Foram 12 aumentos consecutivos, com elevação de 11,75 pontos percentuais, de março de 2021, quando a taxa básica saiu de seu piso histórico (2%), a agosto do ano passado.