PRODUTO INTERNO BRUTO

PIB cresce menos no 3º trimestre

Consumo e investimentos ainda mostram força.

PIB cresce menos no 3º trimestre PIB cresce menos no 3º trimestre PIB cresce menos no 3º trimestre PIB cresce menos no 3º trimestre
Resultado representa um crescimento menor do que no segundo trimestre. Foto: Divulgação
Resultado representa um crescimento menor do que no segundo trimestre. Foto: Divulgação

A economia brasileira cresceu 0,9% no terceiro trimestre, frente aos três meses imediatamente anteriores, apontam dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados nesta terça (3) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado representa um crescimento menor do que no segundo trimestre, quando a alta foi de 1,4%.

Analistas, porém, dizem que a economia ainda mostra sinais de força, com destaque para componentes como consumo das famílias, investimentos e setor de serviços.

“Os números mostram uma economia bem forte, mesmo com essa desaceleração”, afirma a economista Juliana Trece, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

A variação menor do que no segundo trimestre já estava no radar dos analistas. O avanço de 0,9%, contudo, veio levemente acima da mediana das previsões do mercado financeiro, de 0,8%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,6% a 1,1%.

“Pode ser algum sinal de desaceleração da economia, mas não muito relevante ainda”, afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

Conforme a técnica, o crescimento menor de julho a setembro está associado em parte a um patamar elevado de comparação. O PIB está no nível recorde da série do IBGE, iniciada em 1996.

Após a divulgação dos dados, economistas elevaram suas projeções para o acumulado de 2024. Juliana Trece, do FGV Ibre, disse que o PIB, antes previsto em 3,2%, deve ficar próximo de 3,5%.

Segundo ela, o ritmo tende a pressionar a inflação, o que reforça a perspectiva de aumento de juros pelo BC (Banco Central) por mais tempo.

Esse aperto monetário deve levar a um avanço mais contido do PIB no próximo ano, de acordo com as previsões.

Para 2025, a mediana das estimativas estava em 1,95%, conforme o boletim Focus divulgado pelo BC na segunda (2).

“Estamos com um crescimento muito forte pelo lado da demanda. Isso acaba pressionando os preços”, afirma Juliana.

Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, agora espera alta de 3,4% para o acumulado de 2024 -a previsão anterior era de 3,2%. “O PIB do terceiro trimestre foi bem forte, apesar de ter desacelerado”, diz.

Ele também destaca que, segundo o IBGE, o indicador cresceu 4% na comparação do terceiro trimestre com igual período de 2023. Nesse recorte, a mediana das projeções era de 3,9%, conforme a Bloomberg.

“É um número muito acima da nossa capacidade [de crescer sem gerar inflação]. Sinaliza que o Banco Central vai ter de subir os juros com força”, afirma Vale.

Consumo e investimentos sobem

Pelo viés da demanda, Rebeca Palis, do IBGE, destacou os dados do consumo das famílias e dos investimentos produtivos na economia, medidos pela FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo).

Os componentes avançaram 1,5% e 2,1% no terceiro trimestre, ante o segundo, respectivamente. As taxas foram semelhantes às registradas no período imediatamente anterior (1,4% e 2,2%).

Rebeca associou os resultados a uma combinação de fatores. Ela disse que a inflação não está em “níveis altíssimos”, apesar da aceleração recente.

Também lembrou que o aquecimento do mercado de trabalho e as transferências do governo, incluindo benefícios sociais, contribuem para o consumo e os investimentos.
O consumo do governo, por sua vez, cresceu 0,8%, após redução de 0,3%.

No setor externo, o IBGE apontou baixa nas exportações (-0,6%) e avanço nas importações (1%). Os resultados reforçam a leitura de que o PIB está sendo puxado pelo mercado doméstico.

As importações em alta estão associadas a essa demanda, indicou Rebeca.

SERVIÇOS E INDÚSTRIAS TAMBÉM AVANÇAM

Pelo lado da produção, o PIB do terceiro trimestre foi impulsionado pelas altas dos serviços (0,9%) e da indústria (0,6%) ante o intervalo até junho. A agropecuária, por outro lado, recuou (-0,9%).

A produção no campo foi afetada por problemas climáticos em 2024, incluindo período de forte seca, além de enchentes no Rio Grande do Sul.

Nos serviços, o IBGE apontou altas em diferentes atividades. Um dos destaques foi o segmento de informação e comunicação, que cresceu 2,1% no terceiro trimestre.
Na indústria, Rebeca chamou atenção para o ramo de transformação. O avanço foi de 1,3%, após alta de 2% nos três meses anteriores.

Apesar de seguir no azul, a indústria de transformação ainda está 14,7% abaixo do pico da série histórica. A máxima foi registrada no terceiro trimestre de 2008.

Já os investimentos medidos pela FBCF estão em nível 10,8% inferior ao pico do segundo trimestre de 2013, mesmo com a melhora recente.

ECONOMISTAS REVISAM PROJEÇÕES

O banco Goldman Sachs revisou a estimativa de crescimento do PIB deste ano de 3,1% para 3,4%. O Itaú e o C6 afirmam que os dados colocam um “viés de alta” para a projeção de 3,2%.

Natália Cotarelli, economista do Itaú, diz que houve surpresas positivas nos números em relação ao desempenho dos serviços, do consumo das famílias e do investimento.

“É uma indicação de um PIB ainda forte. Difícil olhar os números de hoje e falar que essa economia está perdendo força”, afirma Cotarelli. “Esse número só reforçou que a economia parece trabalhar acima do potencial.”

Para 2025, a instituição espera um crescimento de 1,8%, mais próximo do potencial do país, por conta da redução do impulso fiscal, dos efeitos da alta dos juros e da desaceleração do crédito, embora destaque que o mercado de trabalho continua forte, com desemprego baixo e renda crescendo de forma significativa.

Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, projeta expansão de 3,2% neste ano. Ela também destaca que a demanda das famílias seguiu robusta, com a melhora no mercado de trabalho, o crescimento da renda e uma economia impulsionada também pelos gastos públicos.

Para se ter uma ideia, ao final de 2023, a estimativa do boletim Focus para o PIB de 2024 era de aumento de 1,52%. A previsão dos analistas subiu com o passar dos meses, ficando acima de 3%.

Com a economia aquecida, o Copom (Comitê de Política Monetária), ligado ao BC, decidiu intensificar o ritmo de alta dos juros e elevou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual em novembro, de 10,75% para 11,25% ao ano.

O aperto monetário também ocorre em meio a uma desconfiança de investidores com o cenário fiscal. O quadro ajudou a levar a cotação do dólar para a faixa de R$ 6, o que representa uma ameaça para a inflação.

O aumento dos juros é uma tentativa do BC de esfriar a demanda. O objetivo é frear o avanço dos preços e segurar as expectativas de inflação, que corre o risco de estourar o teto da meta deste ano (4,5%).

“A despeito da política monetária restritiva, o mercado de trabalho robusto segue como importante suporte para o desempenho positivo dos serviços e do consumo das famílias”, afirma a gestora Kínitro Capital, que também destaca o crescimento dos investimentos, principalmente em máquinas e equipamentos.

A casa vê chance de PIB de 3,4% neste ano e diz não acreditar em uma “postura passiva do governo” em deixar a atividade desacelerar.

Na visão da Kínitro, o quadro reforça a necessidade de novo ajuste na política monetária, com aceleração do ritmo de alta da Selic na próxima reunião do Copom. O encontro está agendado para 10 e 11 de dezembro.

REVISÃO NO PIB DE 2023

O IBGE revisou a taxa de crescimento do PIB de 2023, de 2,9% para 3,2%. A mudança foi puxada pela incorporação de dados do setor de serviços e da agropecuária.

Arnaldo Lima, economista da Polo Capital, afirma que a revisão dos dados de 2023, sobretudo com aumento do impulso fiscal registrado pela elevação do gasto do governo, gera um carregamento estatístico maior e deve influenciar positivamente as expectativas para este ano, aproximando as projeções do PIB de 2024 de 3,5%.

“Contudo, esses sinais de crescimento acima do potencial econômico levantam preocupações sobre o aumento das expectativas de inflação e crescem as apostas de um ciclo mais longo de elevação da Selic, o que pode reduzir o nível de crescimento projetado para 2025.”

O IBGE não confirmou mudança na taxa de 1,4% registrada pelo PIB no segundo trimestre de 2024.