Benevides, um município localizado a apenas 34 quilômetros de Belém, na região norte do Brasil, marcou a história ao se tornar o primeiro município da Amazônia e o segundo do país a abolir a escravidão. Em 30 de março de 1884, Benevides vivenciou um dos momentos mais significativos para o movimento abolicionista, libertando seus escravizados quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea, em 1888. O feito histórico consolidou o título de Terra da Liberdade, que é lembrado até hoje, 140 anos depois, como símbolo de luta pela igualdade.
O Contexto Histórico e as Raízes do Abolicionismo em Benevides
Para entender como Benevides se tornou um ponto de resistência ao sistema escravocrata, é preciso explorar sua origem como colônia agrícola no final do século XIX. A região foi inicialmente povoada por imigrantes estrangeiros, especialmente franceses, mas logo foi ocupada por migrantes do Ceará, estado que também tinha uma forte movimentação abolicionista. A migração de cearenses para Benevides trouxe consigo os ideais da abolição da escravatura, que se espalharam rapidamente pela colônia.
A Sociedade Libertadora de Benevides, inspirada na Sociedade Libertadora do Ceará, foi fundamental para a organização e execução do ato de abolição. A proximidade entre as duas províncias e a troca constante de informações fortaleceu a luta pelo fim da escravidão. Como destaca a historiadora Ana Carolina Trindade Cravo, os colonos cearenses em Benevides viam-se como parte do Ceará, e, ao verem sua província como pioneira na libertação, tomaram a decisão de libertar os escravizados em sua colônia.
A Libertação dos Escravizados em Benevides
Em 30 de março de 1884, Benevides deu um passo significativo em sua jornada abolicionista ao libertar seus seis escravizados. Embora o número de pessoas libertadas fosse pequeno em comparação com o total de escravizados na província do Grão-Pará, o ato teve um impacto simbólico imenso. Benevides tornou-se um símbolo de liberdade na região amazônica, servindo de referência para outras localidades e gerando um movimento de fugas em direção à colônia, onde os ex-escravizados podiam viver livremente.
A Resistência e a Manutenção da Liberdade
Apesar do ato de libertação, Benevides enfrentou resistência das autoridades provinciais, que tentaram reverter a condição de liberdade de alguns ex-escravizados. Um exemplo disso é o Auto Crime de Resistência, registrado em 1884, quando membros da Sociedade Libertadora de Benevides intervieram para libertar uma escravizada chamada Severa, que havia sido presa pelas autoridades. Este episódio deu início a uma série de confrontos e perseguições até 1890, com membros da sociedade e ex-escravizados sendo perseguidos por suas ações em defesa da liberdade.
O Legado de Benevides: Terra da Liberdade
Hoje, o legado de Benevides como Terra da Liberdade é celebrado e preservado, com a memória do evento sendo mantida viva através de monumentos e marcos históricos espalhados pela cidade. A oficialização do título de Terra da Liberdade, concedido pelo Governo do Estado do Pará em 2012, reforça a importância deste marco na história do Brasil. O município se orgulha de seu papel na luta contra a escravidão, e a data de 30 de março é lembrada anualmente como um patrimônio cultural imaterial do estado.
Marcos Históricos em Benevides
Além de monumentos simbólicos, como o busto na Praça da Liberdade, que celebra a libertação dos escravizados, a cidade preserva outros pontos históricos importantes, como a Estação de Trem, que foi um ponto de fuga para muitos escravizados rumo à liberdade em Benevides. Na entrada da cidade, um monumento representa a mão de uma figura que simboliza a liberdade, com um pássaro voando, evocando a liberdade conquistada em 1884.