Os cemitérios de Belém, especialmente o Parque Cemitério Soledade e o Cemitério Santa Izabel, guardam mais do que apenas memórias; eles são testemunhas de um fenômeno cultural fascinante: o culto às almas de santos populares. Atraindo visitantes em busca de bênçãos e graças, esses locais se tornaram centros de devoção, onde as histórias de pessoas que marcaram a vida de muitos se entrelaçam com a tradição de homenagens emocionantes.
Ao entrar no centenário Parque Cemitério Soledade, é impossível não notar as sepulturas de figuras reverenciadas. Velas acesas, flores frescas, brinquedos e alimentos se acumulam em torno das lápides, onde devotos expressam sua gratidão por graças recebidas. Entre as homenagens mais comoventes está a do Menino Zezinho, cuja história ecoa desde 1881. Conhecido por atender pedidos de proteção e cuidado para crianças, seu túmulo é adornado com presentes simbólicos, refletindo a fé e a esperança dos que buscam sua intercessão.
Outro santo popular que atrai visitantes é o Menino Cícero, cuja sepultura, repleta de brinquedos, fala de uma devoção que perdura ao longo das gerações. Ao lado dele, a figura de Preta Domingas, uma mulher escravizada que, mesmo após sua morte em 1871, conquistou um lugar de honra e reverência, simboliza a luta e a resistência de muitos.
O culto às almas é uma tradição viva e vibrante, e, como observa o estudante de história Isaac Cardoso, visitar o Cemitério da Soledade é um mergulho profundo na história e nas crenças que moldaram a identidade da cidade. O espaço ressoa com as vozes de quem ali está sepultado e daqueles que ainda buscam conforto e esperança em suas histórias.
Laços duradouros entre mortos e vivos
Já no Cemitério Santa Izabel, a tradição se mantém forte. O culto à Severa Romana, uma mulher simples assassinada em 1900, é um exemplo de como a vida e a morte podem criar laços duradouros entre os vivos e os mortos. A sepultura de Severa, repleta de flores e oferendas, é um testemunho da comoção que sua morte provocou e da devoção que ela ainda inspira.
Entre histórias de médicos, advogados e figuras anônimas, cada sepultura carrega uma narrativa rica em simbolismo. O médico Camilo Salgado, que dedicou sua vida a atender os mais necessitados, continua a ser lembrado por aqueles que buscam cura e alívio. Desde 1938, sua sepultura se tornou um local de peregrinação, onde as esperanças se renovam a cada visita.
Assim, os cemitérios de Belém se transformam em muito mais do que locais de luto; eles são santuários de memória, fé e gratidão, onde as almas dos santos populares permanecem vivas na tradição e nas práticas daqueles que os reverenciam. Uma verdadeira viagem pela história e pela espiritualidade que moldam a identidade dessa vibrante cidade.
Com informações de Cintia Magno