RELIGIÃO

Círio: Uma devoção que vai além de outubro

Relação dos devotos com Nossa Senhora de Nazaré se estende por todos os dias do ano na forma de gratidão e fé.

Belém, Pará, Brasil. Cidade.  Helena Pereira, 37, missionária da Comunidade Shalom com seu filho. Círio 2024. Vamos falar com as pessoas nas proximidades a Basílica de Nazaré sobre a relação delas, como devotas ou não, de Nossa Senhora de Nazaré fora do período do Círio.  Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.
Belém, Pará, Brasil. Cidade. Helena Pereira, 37, missionária da Comunidade Shalom com seu filho. Círio 2024. Vamos falar com as pessoas nas proximidades a Basílica de Nazaré sobre a relação delas, como devotas ou não, de Nossa Senhora de Nazaré fora do período do Círio. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

A figura de Nossa Senhora de Nazaré representa um elo entre o sagrado e o cotidiano para muitos que vão à igreja não apenas em outubro, mas ao longo de todo o ano, mantendo uma relação constante naquela que guia, conforta e renova a esperança, ultrapassando os limites do tradicional Círio. Lugares como a frente da Basílica Santuário de Nazaré e a Casa de Plácido, local das celebrações atualmente – já que o templo está temporariamente fechado para reformas –, não diminuíram a intensidade com que os paraenses e visitantes expressam sua devoção pela padroeira.

Helena Pereira, de 37 anos, missionária da Comunidade Shalom, encontrou na devoção a Nossa Senhora de Nazaré não apenas uma fonte de fé, mas também um caminho para superar momentos difíceis, como a cura do pai, que enfrentava um câncer no sistema linfático. Vinda de Taubaté, São Paulo, ela se mudou para Belém em missão no ano de 2020, e seu envolvimento com o Círio intensificou-se desde então.

“Meu marido morava no Maranhão e, mesmo à distância, pedíamos pelo nosso casamento. No primeiro Círio pós-pandemia, na Trasladação, pedi pela cura do câncer do meu pai e pela nossa união, porque tínhamos sido diagnosticados com infertilidade. Meu pai foi curado e em 2023 casei e engravidei na lua de mel”, relembra emocionada.

Agora, Helena sai do bairro da Cremação para frequentar a Casa de Plácido quase diariamente, como em uma das missas desta quarta-feira (30), e, para alimentar a devoção, o terço é rezado todos os dias em casa. “Como somos missionários, somos chamados a desposar o povo que Deus confia; então, como um povo muito mariano, a gente acaba se colocando debaixo do manto dela”, acrescenta.

O economista Fernando Mello, 62, tem uma rotina dedicada à santa. Morador do bairro Nazaré, ele faz questão de estar presente nas missas diárias, mesmo quando acontecem fora da Basílica. “Eu moro aqui no bairro e venho todos os dias. Alcanço muitas graças, me sinto fortalecido quando venho aqui rezar. Nossa Senhora é tudo para mim, é a guia que me conduz ao Filho Jesus e me dá força para enfrentar o dia”, conta. Fernando descreve sua fé como um alicerce, cultivado tanto na igreja quanto em casa, onde reza o terço nas primeiras horas da manhã.

A devoção também é evidente nas palavras de Ivone Vieira, 74 anos, que encontra em Nossa Senhora uma mãe e amiga, um porto seguro nas horas de necessidade. Passado o Círio, saiu do bairro do Paar, em Ananindeua, e resolveu participar de uma das missas matinais na Casa de Plácido. “Ouço direto a Rádio Nazaré. Quando peço pela minha saúde, sinto que ela me escuta. Mesmo dentro de casa, tenho esse vínculo forte; é como se ela estivesse sempre ao meu lado, cuidando de mim”, relata Ivone, católica desde a infância, graças à influência da mãe.

Vizinha de Ivone, a dona de casa Genny Sousa, 54, resolveu acompanhá-la para uma manhã de consagração. Ela, que considera Nossa Senhora uma intercessora em sua vida, busca consolo e orientação na padroeira em casas de oração no bairro em que mora, além de ouvir canções para celebrá-la. “Há muitos anos, quando fui diagnosticada com uma ferida no útero, pedi a ajuda dela, pois tinha meus filhos pequenos e temia pelo futuro. Em pouco tempo, menos de um mês, já estava me recuperando, e a médica me disse que foi um milagre”, diz.

Sobre a representatividade da padroeira em sua vida, Ivone é enfática: “um grande amor”. “Tenho uma devoção muito grande em Nossa Senhora. Muito mesmo. Nas minhas preocupações de mãe, eu sempre recorro a ela”, finaliza.