O excesso de gás carbônico na atmosfera é responsável por um aumento da temperatura, o que afeta o regime de chuvas e, consequentemente, pode levar ao aumento da acidificação da água do mar. Este é apenas um exemplo de como as mudanças climáticas são capazes de impactar grandemente os Oceanos, afetando não apenas a vida marinha, como também, e sobretudo, a vida humana.
O oceanógrafo, doutor em geologia costeira e Professor Titular da Universidade Federal do Pará (UFPA), Nils Edvin Asp Neto, explica que os oceanos são os principais reguladores do clima na Terra, na medida em que eles distribuem o excesso de calor da região Tropical Equatorial, para o déficit de calor na Região Temperada e Polar. Neste sentido, se as águas dos Oceanos são afetadas pelas mudanças climáticas, naturalmente o clima no planeta também fica desregulado. “Está tudo interligado, então, basicamente, a questão é diminuir a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), principalmente o gás carbônico, não que ele seja o mais intenso no efeito estufa, mas ele é o mais abundante e é o que a gente mais emite pela queima de combustíveis fósseis”.
Quando se trata dos impactos das mudanças climáticas nos Oceanos, o pesquisador destaca três grandes efeitos principais: o aquecimento da água, a consequente subida do nível do mar, e a salinização de áreas costeiras. “Obviamente, se o ar fica mais quente, se a temperatura da Terra fica mais quente, a água do Oceano absorve boa parte desse calor e vai ficando, então, mais quente. Se o Oceano fica mais quente, os organismos marinhos que estão acostumados com essa temperatura menos quente começam a sofrer e, por exemplo, no caso dos corais, começam a morrer”, explica. “Outro efeito que a gente tem é a questão que o próprio aquecimento faz o volume da água dilatar, então, o volume de água dos oceanos aumenta, assim como vai derretendo geleiras”.
Com o nível do mar vai subindo pelo derretimento das geleiras e pela dilatação do volume, outro grande efeito diretamente relacionado às mudanças climáticas globais são o impacto disso na vida das populações que vivem às margens, que podem sofrer com inundações mais intensas e frequentes. “Obviamente, a subida do nível do mar tem um grande impacto e que talvez é maior na humanidade, do que na biota marinha porque 60% da população mundial vive numa cota de no máximo 4 metros acima do nível do mar, então, o impacto na humanidade, economicamente falando, seria muito grande”, considera Nils Asp.
“E isso já está acontecendo, isso não é mais uma previsão. No Brasil a gente tem um déficit de medições de longo prazo, projetos que meçam o nível do mar com qualidade por 30, 40, 50 anos. Mas, por exemplo, na Europa e nos Estados Unidos existem lugares que monitoram o nível do mar há mais de 100 anos e se tem já esse aumento que em alguns lugares já pode chegar a até meio metro de subida do nível do mar e com a expectativa de subir algo em torno de 1 metro até 2100”.
Com a subida do nível do mar, se observa outro efeito grave associado às mudanças climáticas e aos oceanos, que é a salinização de áreas costeiras. O que, na Região Norte do país, por exemplo, acaba ocasionando o avanço da água salgada em direção ao continente pelos rios, pelos estuários. E ainda outros efeitos são observados. “Outro efeito da mudança climática nos oceanos é a questão da acidificação dos oceanos. Ao mesmo tempo que esse excesso de gás carbônico na atmosfera intensifica o efeito estufa e gera o aquecimento, mais gás carbônico na atmosfera implica em mais gás carbônico se dissolvendo na água do mar. Isso na água do mar vira o ácido carbônico, fazendo com que a água fique mais ácida e a acidificação da água do mar, junto com o aumento da temperatura, acaba, por exemplo, matando os corais que são fundamentais para biodiversidade marinha e consequentemente para os recursos pesqueiros”.
Nils aponta que efeitos desse tipo também já estão sendo sentidos no Norte, sobretudo por uma combinação que envolve a diminuição do regime de chuvas. “Aí é um efeito duplo porque o que impede, muitas vezes, nos grandes rios da Amazônia, a água salgada de avançar para dentro do rio é o grande volume de água doce que sai do rio. Mas se o nível do mar sobe e o volume de água de chuva diminui, então, há o efeito combinado dessas duas coisas e há o aumento da intrusão salina, o aumento da água salgada avançando para dentro da calha dos rios”, explica. “Isso tem sido sentido, por exemplo, na costa do Amapá. Na região do Arquipélago do Bailique as pessoas já estão com problema de salinização de água de poços porque a água salgada está penetrando por baixo e isso afeta, por exemplo, plantações de açaí porque começa a salinizar o solo também”.