Não se trata apenas de uma percepção dos que residem em Belém: realmente, os últimos dias têm sido extremamente quentes e secos. A rápida chuva que caiu ontem fechou um período de seis dias sem a famosa “chuva da tarde” para aliviar o calor – até então, o último registro de chuva ocorreu no dia 17 de outubro, à tarde.
Esses dados provêm do monitoramento realizado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em sua unidade de Belém.
O Inmet informa que, até agora, no acumulado de outubro, foram registrados 44 milímetros de chuva, representando cerca de 32% do total previsto para o mês, que é de 135 milímetros. Quase toda a precipitação ocorreu em apenas dois dias de chuvas.
Segundo o coordenador e meteorologista do Inmet/2°Disme, José Raimundo Abreu, o que está ocorrendo atualmente em Belém está além do que é considerado normal.
“Está tendo uma inversão térmica. Essa situação resulta de uma anomalia na circulação atmosférica nas regiões Sul e Sudeste, conhecida como bloqueio atmosférico. Esse fenômeno é provocado pela alta pressão no oceano Atlântico Sul, que impede a progressão dos sistemas frontais. Como consequência, o ar se movimenta verticalmente, de cima para baixo, bloqueando a chegada da umidade. Assim, não se formam nuvens e, consequentemente, não há chuvas”, esclarece.
De acordo com as informações do Inmet, as temperaturas em Belém continuam bastante elevadas, ultrapassando os 35ºC entre 11h30 e 14h.
“As poucas chuvas que têm ocorrido foram registradas apenas em áreas específicas, como no Guamá, Outeiro, Ananindeua e Icoaraci. Em certos bairros de Belém, a sensação térmica pode chegar a 40ºC, especialmente nas regiões centrais da cidade, onde os prédios bloqueiam a circulação do ar, e o asfalto, juntamente com as emissões dos veículos, contribui para o calor”, explica.
Sem previsões de chuvas
O meteorologista informa ainda que, para os dias seguintes, não há expectativa de alteração nas condições climáticas.
“Pelo menos até o final do mês, não se observam indícios de mudanças relevantes”, garante. Com uma dose de otimismo, o especialista sugere: “Não podemos descartar a possibilidade de chuvas intensas devido ao aquecimento significativo e à umidade trazida pelo vento, que pode resultar na formação de nuvens cumulonimbus e provocar precipitações de grande volume. Porém, até agora, não há previsões a esse respeito”, conclui.
Uns reclamam, outros comemoram
Para aliviar o desconforto causado pela sensação térmica, nada melhor que tomar bastante água ao longo do dia. O calor representa, inclusive, uma oportunidade para comerciantes e vendedores ambulantes ganharem dinheiro nesta época ainda tão quente, enquanto o inverno amazônico não dá as caras por aqui.
Em um depósito localizado na avenida João Paulo II, no bairro do Marco, a venda de água não para ao longo do dia. O garrafão de 20 litros custa R$ 10,00 e as maiores vendas ocorrem às segundas e terças-feiras, sendo vendidos nestes dias cerca de 50 garrafões diariamente, de acordo com o empreendedor Leonardo Gomes, 48 anos.
Além dos garrafões, também há bastante procura pelos pacotes de garrafas de 500ml, 330ml e copos de 200ml, ressaltando o grande consumo de água nestes tempos de calor.
A vendedora ambulante Mariana Marques, 32 anos, trabalha de manhã e de tarde vendendo água aos passageiros de ônibus em Belém. São pelo menos quatro pacotes de garrafas de água com 12 unidades de 500 ml vendidos por dia, com cada garrafa comercializada pelo preço de dois reais.
De acordo com a vendedora, o pico nas vendas ocorre entre 12h e 17h e, inclusive, há linhas de ônibus nas quais os passageiros compram mais, como as linhas para Icoaraci e Outeiro.
“As pessoas estão nos ônibus e no calor e a distância é longa para chegar em casa. Com isso ficam com sede e compram muita água. Tem gente que já traz a garrafinha de casa e só faz comprar para repor”, explica.
Na Praça do Operário, em São Brás, a autônoma Francisca Conceição, 38 anos, tem uma barraca com venda de refrigerantes, cervejas, água e água de coco. Por dia, são pelo menos cerca de cinco pacotes de água vendidos, cada pacote com 24 garrafas de 330 ml. Nesta época de calor intenso e sensação térmica tão desconfortável, Francisca aproveita a movimentação na área para faturar enquanto o inverno amazônico não chega.
“A água tem muita saída e dá pra tirar um lucro nessa época tão quente”.