LEGADO

Eneida de Moraes: uma mulher para não esquecer

Hoje, 23 de outubro de 2024, marca os 120 anos de nascimento da escritora e jornalista paraense, uma voz progressista pelos direitos das mulheres e justiça social.

Eneida de Moraes: uma mulher para não esquecer

O dia 23 de outubro de 2024 marca os 120 anos de nascimento de Eneida de Moraes. Considerada uma das escritoras mais importantes na literatura paraense, Eneida lançou livros como “Terra Verde” (1929), “Cão da Madrugada” (1954), “Aruanda” (1957), “História do Carnaval Carioca” (1958), “Copacabana: História dos Subúrbios” (1959), “Banho de Cheiro” (1962) e “Boa Noite, Professor” (1965). Além da produção intelectual forte, Eneida foi uma mulher à frente do seu tempo. Pois atuou em espaços onde a presença masculina era majoritária, como as redações de jornais e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), ao qual se filiou em 1932, quando já havia deixado Belém. Por causa dessa atuação militante, a escritora foi presa várias vezes, a primeira delas em 1932. Além de uma série de outras vezes durante o chamado Estado Novo.

Militância política atravessou toda produção de Eneida

“O foco mais forte da Eneida é a questão política. A imprensa e vários estudos estimularam muito a questão do carnaval, mas na verdade era um dos meios que a Eneida utilizava para divulgar as suas ideias e contestar a realidade vigente naquele momento, desde a discriminação em vários sentidos”, diz a professora e pesquisadora da UFPA, Eunice Ferreira dos Santos. Assim, ela defendeu sua tese de doutorado “Eneida de Moraes: militância e memória” na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Ela, enquanto mulher, teve nessa referência muito forte que foi de mostrar as questões sociais. O carnaval entrou como se fosse para desanuviar as situações daquele momento, até porque ela gostava desse tipo de divertimento. Mas o foco importante é a utilização desses meios de comunicação para que ela pudesse divulgar as ideias e contestar o que considerava errado e inadequado naquele momento”, disse a pesquisadora.

A professora vem estudando sobre Eneida de Moraes desde a graduação em Letras, no final dos anos 1970. Entretanto, na época, havia várias informações dispersas. Diante disso, Eunice buscou descobrir quem era Eneida, o que, ao longo da sua vida acadêmica, já rendeu vários trabalhos, que culminaram com em sua tese de doutorado.

“A voz da Eneida foi um marco na história brasileira, na história das mulheres. Na época e até pouco tempo, houve muita valorização da questão de que ela se empenhou pelo carnaval. Mas o foco não era exatamente esse. Era apenas o meio que ela estava utilizando para a divulgação das ideias sociais e para contestar o que considerava que estava inadequado”, reforça Eunice.

Tese virou mais completa biografia de Eneida

A tese da pesquisadora resultou na mais completa biografia da escritora e jornalista paraense. Finalmente, a publicação incluiu um vasto arquivo com fotos, depoimentos, recortes de jornal e livros restaurados. “Fiz uma condensação para poder publicar o livro, para não ficar muito volumoso. Esse livro está em várias bibliotecas do Brasil. Contém bastante informações das questões em que Eneida se envolveu. Ao mesmo tempo, fui fazendo análise dessas situações”, destacou a pesquisadora.

Eneida deixou contribuições em muitas cidades do Brasil e do mundo. Portanto, para reunir tamanho acervo sobre a escritora e jornalista paraense, Eunice dos Santos se debruçou numa árdua pesquisa de campo.

Autora se integrou ao movimento modernista no Pará

Em Belém, Eneida se envolveu com os respingos do movimento modernista aqui no Pará. Em 1929, lança “Terra Verde”, livro de poemas em prosa. A intenção dessa publicação é marcar “uma cor local”: todos os poemas fazem referências às belezas da região.

A escritora deixou Belém em 1930, já engajada na causa política. Preparou-se durante dois anos para entrar no Partido Comunista. Consequentemente, lá desempenhou uma série de atividades para mostrar sua capacidade de atuar como militante. Nessa fase, que se inicia na década de 1930 e segue até a metade dos anos de 1940. Então, nesse período sua produção é basicamente panfletária.